Mocinha ou não



Diminutivos sem conotação afetiva não agradam porque limitam, sufocam, são emboscadas emocionais disfarçadas de mérito.
O termo “mocinha” é um deles.
Pode ser que aquela fórmula tradicional funcione por um tempo porque é simples de desenvolver e sacia a quem queria se realizar através de suas personagens, mas quando a mente se abre e as possibilidades se tornam maiores do que os pré-conceitos, a versão de outrora mostra as suas fragilidades.
A mocinha não é tão feliz quanto o sorriso ilustra. A batalha pela perfeição aprisiona seu verdadeiro eu.
A mocinha é um retalho de projeções alheias, mas tão pouco conhece de si mesma.
A mocinha não é isenta de sentimentos negativos, só é proibida de demonstrar abertamente que também solta pum, fala palavrão e tem dias que não são tão legais assim.
A mocinha mastiga as cobranças sobre o seu corpo que são feitas o tempo todo, como se ali não houvesse a vivacidade de uma alma, mas uma personagem carente de vontades.
Você é mais do que pressupostos promulgados com o sórdido intento de oprimir a diferença que te faz encantadora.
Mocinha ou não.
Você não precisa se prender ao título de mocinha para fazer a diferença. A força que já existe dentro de você é inegável. Não a ignore. 
Não permita que terceiros controlem os seus desejos, pergunte-se se os mesmos realmente significam algo. Se não, procure se encontrar no meio desse caos que alguns chamam de realidade.
A vida não foi um desafio fácil. No entanto, as dores que tomam o posto da alegria enquanto dura a escuridão da noite fazem parte de um propósito maior do que destruir os seus sonhos. Eles visam te fortalecer porque você cresceu e só pode contar consigo mesma agora.
Não corra de si mesma. Avance devagar. Mesmo com medo. Olhe para trás, mas não se distraia. Deixe o passado onde está e não perca por lá.
A perfeição é a utopia do detestável mundo novo. Não seja nem sinta de mentirinha.
Ele partiu o seu coração e você nunca mais vai ser a mesma depois de tudo. Um resquício de dor permanecerá como forma de te indicar que seu mundo acabou tantas vezes e você o refez.
Você é o seu maior amor. Não se castigue nem desista de si mesma. Não é um diminutivo tolo que define um quarto do que você é. Seja uma folha em branco, porém não assuma de maneira alguma a passividade.
Seja você mesma, não tem nada igual.
Por que ser mocinha quando se pode ser você?
Assuma o papel principal da sua própria vida, entoe um potente grito de independência, liberte-se de todas as algemas que impedem o seu crescimento. Não aceite menos do que merece nem se considere superior a ninguém.
O resto é padrão e, se nenhum dos antigos lhe serve, busque a criatividade que mora dentro de você e pinte suas asas. Não se preocupe com o final feliz, todo instante é eterno por definição.

Curitiba, 11 de agosto de 2016.

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