Os Desencontros do Cupido | 7⁰ Capitulo

Jaqueline surrupiou discretamente um cartão da mãe, observando atentamente para garantir que ninguém a visse. Ao chegar ao colégio, encaminhou-se rapidamente até a classe de Mike, sentindo o coração bater mais rápido. Com cuidado, deixou o cartão em cima da carteira dele e retirou-se antes de ser vista por alguém. 

Mais tarde, Bruno, o melhor amigo de Mike, entrou na sala sozinho, pois o outro garoto havia faltado. Curioso, o jovem notou o cartão em cima da carteira e deu uma olhadela. Não estava assinado. Ele supôs que a admiradora secreta ou era muito tímida para se identificar ou era alguma espécie de travessura.


💘💘💘


Tão logo o sinal para o intervalo tocou, Jaqueline e Letícia desciam as escadarias do bloco onde estudavam quando encontraram Bruno as aguardando com as mãos para trás e um olhar suspeito.


— Você está muito ocupada, Lelê? — quis saber Bruno, com um sorriso tímido.
— Podem ficar à vontade. Vou comprar o nosso lanche enquanto isso… — respondeu Jaqueline, piscando discretamente para Letícia antes de se afastar.

Bruno ficou de frente para Letícia, que corou e sorriu timidamente.

— Feliz Dia dos Namorados! — disse ele, estendendo um cartão.
— Obrigada. Feliz Dia dos Namorados, Bruno.
— Você… errr… já recebeu algum presente de algum admirador secreto?
— Que eu me lembre, não!
— Você aceita este modesto cartão para dizer coisas que eu não consigo? — Bruno segurava o cartão com as mãos trêmulas.
— Um… cartão… para mim? — Letícia pegou o cartão, seus olhos brilhando de surpresa.
— Espero que você goste. — disse Bruno, com um sorriso nervoso.
— Puxa, Bruninho! Você é tão romântico! — Letícia deu um beijo na bochecha de Bruno, que correspondeu depositando um beijo na testa dela.
— Puxa, Bruninho! Você é tão romântico!  

Letícia deu um beijo na bochecha de Bruno, que a correspondeu depositando um beijo na testa dela. Jaqueline voltou da cantina com os lanches delas e teve um sobressalto quando reconheceu o cartão, sobretudo porque se parecia bastante com aquele que deixou para Mike mais cedo.

— Não me diga que o Bruno te deu esse cartão? — perguntou Jaqueline, arregalando os olhos.
— Foi. — assentiu Letícia, sorrindo. — Jacky, ele é muito romântico.
— Não sou a entendida sobre esses assuntos, mas está muito na cara que ele também está gostando de você, só que um de vocês tem que tomar a iniciativa. Só me explique uma coisinha: esse mesmo cartão?
— Ué? Tinha outro? — Letícia franziu a testa, confusa.
— Esse cartão era para o Mike. — disse Jaqueline, sentindo o coração acelerar.
— Do que você está falando? — perguntou Letícia, ainda mais confusa.
— Antes da primeira aula, eu fui até a classe do Mike quando ainda não tinha ninguém e coloquei esse cartão em cima da carteira dele, posso te jurar. Agora, como ele foi parar na sua mão, não faço a menor ideia.
— Você assinou o seu nome? — perguntou Letícia.
— Lógico que não, amiga! Eu ainda não tenho nem coragem de falar com ele. Eu só queria deixar uma pontinha de dúvida. Até o final do ano falo com ele!
— Espero que o Mike pelo menos te agradeça pelo cartão porque o Bruninho, por outro lado, me deu esse cartão quando a gente se encontrou agora há pouco.
— Isso é óbvio, Lelê. Ele não te daria um cartão só por dar.
— Ninguém te mandou um cartão?
— Tal mãe, tal filha. — disse Jaqueline, dando de ombros.
— Não fique triste, Jacky. Numa dessas, o Mike nem viu o cartão. Ele pode ter caído no chão e já que você não assinou nem nada, o Bruninho pegou para ele e então me deu. 

A explicação de Letícia fazia sentido e Jaqueline tranquilizou-se, todavia, a melhor amiga de Jacky estava mais interessada no cartão do que na aula de Português, a professora tomou-o.

— Profe, eu ganhei esse cartão do Bruno. A senhora não pode pegar. — protestou Letícia, tentando recuperar o cartão.

A professora leu em silêncio e ao terminar, fez uma observação:  

— Seu namorado está precisando muitíssimo prestar mais atenção nas aulas de Português, pois se esse cartão valesse nota, teria nota descontada.
— Profe, o Bruno ainda não é meu namorado. — Letícia corou, sentindo-se embaraçada.
— Ainda não? — perguntou a professora, arqueando as sobrancelhas com curiosidade.
— Nenhum dos dois toma a iniciativa. — Jacky atalhou, divertida. — Minha parte como cupido eu fiz, agora depende desses dois, profe.
— A Lelê tá namorando, a Lelê tá namorando. — A classe iniciou o coro, provocando risos por toda a sala.

Letícia, acanhada, corou e permaneceu calada enquanto a turma e, num dado momento, até a professora ria da situação. Ela devolveu o cartão à aluna, porém advertiu que embora namorar seja muito bom, tem momento para tudo.

💘💘💘

Ao final da aula, as melhores amigas faziam piadas sobre o assunto:

— Você chegou a ver o Mike hoje? — perguntou Jaqueline.
— Nem sinal dele! — respondeu Letícia.
— Se o Bruno te ligar hoje, você pergunta se aconteceu alguma coisa com o Mike?
— Por que você mesma não telefona para a casa dele e pergunta?
— Não posso!
— Ah, para de conversinha, Jacky. É só mandar a real, dizer que ficou preocupada porque ele faltou à aula e desejar melhoras se ele estiver doente.
— Quando você tomar a iniciativa de dar um beijo no Bruno, eu me acerto com o Mike.

💘💘💘
 

Bilu Valdez e Christiane dos Anjos tornaram-se boas amigas, sendo comum que almoçassem juntas quase diariamente no restaurante próximo à Malacubaca. O ambiente acolhedor, com mesas de madeira rústica e decoração suave, era o cenário perfeito para suas conversas diárias.

— Hoje a Noviça acordou de mal com a vida. Perguntei até se havia morrido alguém e ela me mostrou os dentes — brincou Bilu, enquanto mexia na salada com o garfo.
— O Edu sumiu, mas tem algo que aconteceu hoje cedo que me deixou muito encucada.
— E você está aí com essa carinha jururu porque esperava que ele contratasse um avião e escrevesse nas nuvens “quer casar comigo?”.
— Engraçadinha… — murmurou Christiane, que tirou a bolsa pendurada na alça da cadeira do restaurante e colocou os presentes em cima da mesa. Bilu ficou boquiaberta, quase sem fôlego.
— Foi… foi o Edu que te deu tudo isso?
— Na verdade, se deu, não quis deixar tão óbvio!
— O Edu nunca deu isso nem quando vocês estavam no auge da paixão — comentou Bilu, reflexiva. — Que bicho mordeu esse homem?
— Sei que pode não parecer coerente tratando-se dele, mas não podemos acreditar que ele enfim está amadurecendo… — disse Christiane, tentando segurar um sorriso de esperança.
— Já era tempo, amiga. Não dá para bancar o Peter Pan pelo resto da vida. A idade chega! — ironizou Bilu, dando uma piscadela.

Christiane revirou os olhos e suspirou, lembrando-se da conversa com a mãe. 

— Minha mãe acha que pode ser alguém como Luís Carlos, mas não consigo acreditar que ele faria algo assim.
— Você está chorando de barriga cheia, Chris. Veja bem, mesmo que não seja exatamente o Edu, alguém te admira em segredo — disse Bilu, com um tom consolador.
— Sei quem é esse admiradorzinho de quinta categoria — murmurou Christiane, cruzando os braços.
— Cogita agradecer o presente? — perguntou Bilu, levantando uma sobrancelha.
— Pretendo é devolver tudo!
— Amiga, será que você não está sendo injusta? — Bilu perguntou, suavemente.
— Injusta? Com quem?
— Com você mesma. Você corre atrás de um homem que nunca te amou do jeito que você diz amá-lo e despreza quem corre atrás de você — disse Bilu, colocando uma mão no ombro de Christiane.
— Não é só porque o Edu não fala de casamento que devo aceitar cantadas ridículas de um bobalhão cismado comigo — retrucou Christiane, com um tom defensivo. 

Bilu suspirou e olhou nos olhos da amiga. 

— Digo por experiência própria: eu de certa forma mereço estar na situação em que me encontro hoje porque quando o Will flertava comigo e tentava entrar no meu mundo, eu o desprezava muito, brinquei demais com o coração dele. Só me dei conta de verdade do quanto o amo depois que já não o tinha mais, que outra pessoa aproveitou a oportunidade que desprezei. Talvez algum dia eu me apaixone outra vez, talvez não. De uma certeza, porém, não abro mão: o passado já passou, não tem nada que me interesse. Errando ou não, são os erros que contam a minha história.

Christiane piscou, absorvendo as palavras da amiga. 

— Por que as coisas não podem ser só um pouquinho mais fáceis?
— Na verdade, parece muito lugar-comum, no entanto, somos nós mesmas que complicamos nossas vidas. — Bilu respondeu, dando um sorriso triste.
— Você parece a minha mãe falando. — Christiane tentou rir, mas o som saiu mais como um suspiro.
— O Edu se folga muito com você porque ele sabe muito bem onde e quando te encontrar, o que dizer, como te convencer. Sabe que você não tem mais ninguém e não se abre para conhecer ninguém. O dia em que você criar vergonha na cara e começar a se priorizar mais, ele vai ficar com o rabinho entre as pernas. Ele só se folga desse jeito com você porque você, mesmo não querendo, permite que ele continue se comportando assim.

Christiane olhou para o presente em cima da mesa e suspirou. 

— Na minha idade já está difícil de conseguir algum homem que preste. Todos os homens decentes já estão casados.
— Nem todos. Tem muito safado que é casado. — Bilu replicou, dando um sorriso sarcástico.
— Isso é lógico.
— Inclusive o seu amorzinho. — Bilu lançou um olhar significativo.
— O Edu é uma exceção!
— Longe de te estimular a sair por aí se divertindo com o coração do Luís Carlos, mas você deveria pelo menos tentar conhecê-lo melhor. Numa dessas, ainda que a interação não evolua para um namoro, vocês têm idades próximas, podem vir a se tornar bons amigos. A propósito, vocês dois são jovens, solteiros, não têm filhos, vivem situações um pouco parecidas, isso porque pelo que sei por alto, o Luís Carlos também ficou perdido quando os amigos dele se casaram.

Christiane balançou a cabeça, pensativa. 

— Algum problema ele tem. Quase todos os homens decentes da nossa idade já estão casados.
— Não generalize, amiga. Tem, sim, muito cara que está solteiro porque é chato, isso é fato, nem discordo de você, mas cada qual tem a sua história, não dá para sair julgando. Como tem mulher que reclama de estar solteira e joga a culpa nos homens que supostamente têm medo de mulheres inteligentes e independentes. Às vezes ela é chata e está solteira não por ser a dona do jogo, mas por ser chata de galocha, como um dia já fui essa pessoa. Eu não sou a melhor amiga do Luís Carlos, nem posso dizer se vocês combinam ou algo do tipo, só não quero ver você com essa cara de velório o resto do dia. Aliás, se você não quer esses bombons, pode ir me passando porque chocolate eu não nego.

Christiane deu um leve sorriso e empurrou a caixa de bombons na direção de Bilu. 

— A gente pode dividir.

Bilu sorriu, pegando um bombom.

— Negócio fechado.

 💘💘💘

A redação da Malacubaca estava estranhamente silenciosa, mas isso era apenas o prenúncio da tempestade. Patrícia, enquanto arrumava sua mesa, encontrou um cartão descartado na lixeira e o puxou curiosa. Ao ler a frase, ela arregalou os olhos:

— Vosê com ‘s’ é o amor da minha vida com s dois 'v' de vitória.
— Isso só pode ser brincadeira! — resmungou ela, levantando o cartão como se fosse contaminado.

Mariana, que estava por perto, se aproximou ao perceber a indignação da colega: 

— O que foi isso? — perguntou, pegando o cartão e lendo com um franzir de sobrancelhas. — Não acredito! Eu também recebi um com esse nível de… criatividade. Aqui, olha: seu sorriso me emcanta com 'm'. A professora de português que existe em mim está tão possessa que seria capaz de ir até o fim do mundo para dar uns safanões merecidos nessa cabeça de pudim. Onde já se viu um jornalista escrever desse jeito?

Patrícia olhou para ela, incrédula: 

— Você está dizendo que o Edu mandou cartões para mais de uma pessoa?
— Isso nem deveria ser considerado uma novidade. Tão praxe dele.
— Já faz quase duas semanas que sumiu. Bem dizem que os ratos são os primeiros a abandonar o navio.

Nesse momento, Rita se juntou a elas, segurando um cartão idêntico: 

— Mais de uma pessoa? Querida, acho que você quis dizer “quase todas as mulheres da redação”. Dá para acreditar que o cara teve a ousadia de fazer isso e ainda escrever com esse português?

Patrícia suspirou, revoltada:

— Eu não vou acreditar que fiz parte disso… e com um cartão que mais parece um bilhete de ensino fundamental!

Enquanto a indignação coletiva crescia, uma figura observava tudo com um sorriso afiado no canto da boca. Noviça estava parada ao lado de sua mesa, escrevendo calmamente em seu laptop, claramente se divertindo com o espetáculo, um alento para uma diva injustiçada. Não resistiu e decidiu intervir:

— Não me digam que estão chocadas, queridas! — exclamou Noviça, levantando-se com toda a elegância. — Edu Meirelles nunca foi conhecido pela discrição. Isso aqui, no entanto, é um novo nível de desleixo. Ou devo dizer… “Gênio mal compreendido”?

As mulheres a encararam, enquanto ela mantinha a expressão de desdém divertida.

 — E por que você está rindo? — quis saber Rita, franzindo a testa. — Você é tão insignificante que nem sequer ganhou um cartão!

Noviça deu de ombros: 

— Insignificante é essa sua cara de boneca de cera. Daqui a pouco seus olhos vão começar lá no traseiro, de tanto esticar essa cara.
— Saber que o talento dele para escrever é inversamente proporcional à cara de pau? Ah, eu sabia há muito tempo, por isso mesmo dei o basta. Só estou aproveitando o caos para confirmar minhas teorias. Agora, se me dão licença, vou voltar ao trabalho, pois sou remunerada para trabalhar, não fofocar. 

Enquanto Noviça se retirava com um sorriso enigmático, Mariana notou algo estranho: 

— Vocês perceberam que até a Clara, que é casada, recebeu um desses?

As mulheres se entreolharam, agora com uma mistura de indignação e surpresa. A tensão começava a se formar, e o nome de Edu estava prestes a virar combustível para as fofocas e debates da redação.

— A sonsa da Clara? 
— Quem não conhece que te compre.
— Essas falsas santinhas são as piores.
— Pelo visto, não é só a Clara. A Valquíria também.
— Por Deus, tem alguém com quem o Meirelles ainda não saiu?

Rita apontou discretamente para Noviça.

— Para de fazer piada, Rita!
— E com a Sandra porque o negócio dela é o mesmo do Edu.

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Se admiradores secretos estavam em falta, Noviça se divertia enviando e-mails a Lilly para reportar os pormenores do fuzuê na redação. Ela ria baixinho enquanto escrevia, descrevendo cada reação com detalhes.

— Lilly, você precisa ver isso! A redação está um caos devido aos cartões do Edu. Quem diria que nosso grande romântico fosse tão péssimo em português? — digitou, enviando a mensagem com um sorriso no rosto.

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Ninguém poderia esperar que Luciana Andrade reagisse positivamente ao fato de Edu não a ter convidado para passar férias com ele, sumir do mapa e, para piorar, saber que não foi a única a ganhar cartões do noivo.

CONTINUA...

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