Os Desencontros do Cupido | 10⁰ Capítulo


Luciana, apavorada, jogou-se no gramado.

— Só pode ter sido uma alma depenada!

Lilly deu uma olhada para o interior da sala e viu os cacos do abajur.

— Que alma depenada o quê!

Noviça, encabulada, acenou discretamente.

— Meu vaso da dinastia Ming! Paguei uma nota por ele num leilão na Dinamarca! — choramingou Lilly, com as mãos na cabeça.
— Leilão na Dinamarca? Ah, vê se para com isso. Tem uma centena de exemplares desse vaso aí no R$ 1,99 — retrucou Noviça.
— Ah, você está com visitas!

Luciana respirou fundo algumas vezes. Um escândalo àquelas alturas arranhava seriamente a reputação da novela. Havia deixado de pagar os últimos trabalhos encomendados e, para evitar maiores contratempos, modificou totalmente a postura. Noviça não era a pessoa mais indicada para se ter atritos.

— Pode depositar esse cheque amanhã cedinho. — Luciana, ainda crente de que presenciou um fenômeno paranormal, entregou o cheque nas mãos de Lilly: — Tenho pavor de alma depenada e não quero nenhuma puxando o meu pé de noite.
— Quando a esmola é demais, o santo desconfia. — Lilly brandiu o cheque no ar e fitou a atriz com desconfiança. — Espero que esteja com fundos.
— Limite-se a fazer o seu trabalho porque a cliente aqui sou eu.
— Tudo bem que o cliente sempre tem razão, mas também não precisa abusar da minha nobreza.

Folgada, assim que Lilly fechou a porta principal e Noviça terminou de recolher os cacos do abajur, Luciana deitou-se no sofá e pegou uma fatia de pizza que estava em cima da caixa na mesa de centro.

— A-do-ro pizza. Sabendo que eu vinha aqui, nem compraram uma pizza de anchovas para a Luluzinha aqui? — Luciana mordeu um pedaço da pizza e falou com a boca cheia: — Mas tudo bem, pizza é pizza e com um vinho fica melhor ainda.

Ao que Noviça e Lilly não esboçaram reações, Luciana descalçou as sandálias de salto altíssimo.

— Uau, que encontro romântico! Eu não interrompi nenhum encontro entre vocês, né?

Lilly e Noviça se olharam.

— Nós? Namorando?

Lilly e Noviça disseram ao mesmo tempo:

— Queria ver ela me aguentar…
— Qual o problema? Para mim, tudo bem. — Gesticulou Luciana. — Tem muita gente na indústria do entretenimento que está na mesma situação. Amor entre iguais acontece desde a época dos dinossauros, nossa sociedade, muito cheia de puritanismos, moralismos e caretices. Vamos brindar “abaixo à caretice”.

Luciana levantou a garrafa de vinho com as mãos, Lilly e Noviça participaram do brinde para não terem mais problemas com a atriz.

— Um brinde ao fim da caretice.

Um pouco embriagada, Luciana apoiou a garrafa de vinho de volta à mesinha, limpou a boca com as costas das mãos e inclinou a cabeça para trás para eructar.

— Ah, eu estava precisando!
— Dispensa o veterinário porque o porco já deu sinal de vida! — Noviça ralhou com a indesejável visitante.
— Que vinho mais vagabundo! Isso aqui deve ser falsificado!
— Somente os porcos comem e viram o coxo. — Murmurou Noviça com reprovação.

Luciana, sem modos, soltou um peido alto e despreocupado, fazendo Lilly e Noviça se entreolharem com nojo.

— Ah, que alívio! — disse Luciana, sem nenhum constrangimento, voltando a se empanturrar de bombons.
— O banheiro fica na primeira porta no corredor à direita — Lilly alfinetou.

💘💘💘

À meia-noite, as três mulheres saíram para a parte de trás da casa, cada uma empunhando um facão. A lua cheia iluminava o descampado, mas elas precisavam de lanternas para encontrar os pés de bananeira onde fariam a simpatia para descobrir as iniciais de seus futuros maridos.

Lilly liderava o grupo, lançando olhares cautelosos ao redor. Vestia um robe de seda roxo que reluzia à luz da lua, enquanto segurava a lanterna em uma mão e o facão na outra. Noviça, com uma expressão séria, ajustava a camiseta larga e seguia atrás. Já Luciana, com seus saltos altíssimos e uma saia justa que dificultava a caminhada, reclamava incessantemente.

— Por que diabos estamos fazendo isso? — bufou Luciana, tropeçando em um galho.
— Porque você quis vir, Lulu. Ninguém te convidou, nem te obrigou a nada — respondeu Lilly, sem paciência. 

Luciana, nunca perdendo a oportunidade de alfinetar, decidiu satirizar o apelido infame de Noviça.

— Ei, Garibaldo, será que essas simpatias realmente funcionam ou são só para enganar trouxas? 

Noviça parou abruptamente, virando-se para encarar Luciana. O apelido “Garibaldo” era uma referência a um personagem desajeitado e desastrado, algo que a irritava profundamente.

— Você só pode estar de brincadeira, Lulu — respondeu Noviça, os olhos brilhando de raiva. — Se não acredita, por que veio até aqui? Para encher nosso saco?

Lilly, sentindo que a situação poderia sair do controle, tentou intervir.

— Vamos, meninas, deixem isso para lá. Estamos aqui para a simpatia, não para brigar.
— Isso é ridículo. Não acredito que estou fazendo isso.
— Então não faça. Pode muito bem voltar para a casa, ninguém vai sentir falta — disse Noviça, sem esconder o desprezo.
— Ah, é? Quero ver você fazer isso! — desafiou Luciana, com um sorriso debochado.
— E parem de reclamar, ou transformo ambas em sapo. Agora! — ameaçou Lilly.
— Só podia ser o Garibaldo acredita mesmo nessas bobagens!

Noviça pensou em surrar Lulu, mas se conteve.

Elas finalmente encontraram um grupo de bananeiras e se posicionaram ao redor dos troncos. A luz das lanternas tremulava, criando sombras dançantes.

— Certo, lembrem-se de que devemos fincar o facão no tronco e voltar só de manhã, sem trapacear — avisou Lilly, olhando fixamente para Noviça. — Isso vale principalmente para você, dona Noviça.

Noviça fez um biquinho engraçado, se fazendo de desentendida.

— Trapacear? Eu? Jamais! — respondeu, piscando os olhos exageradamente.

Luciana continuou desdenhando da simpatia e resmungando sobre ter que caminhar de salto alto no meio do mato.

— Isso é ridículo. Não acredito que estou fazendo isso.
— Então não faça. Pode muito bem voltar para a casa, ninguém vai sentir falta — disse Noviça, sem esconder o desprezo.
— É, e se continuar aporrinhando, vou te transformar em sapo, Lulu. E dos mais horrendos e gosmentos. Nem pense que estou brincando — ameaçou Lilly, levantando o facão.

Luciana rolou os olhos, mas antes que pudesse responder, Noviça começou a contar uma história com voz teatral:

— Sabem, uma vez conheci uma atriz famosa que tentou trapacear nessa simpatia. Queria saber a inicial do futuro marido, mas quando tentou burlar a regra e não voltou só de manhã, algo terrível aconteceu. No dia do casamento, ao beijar o noivo, ela se transformou em um sapo enorme e saiu pulando e coaxando, deixando todos os moradores da cidade com o queixo caído.

Luciana arregalou os olhos, tentando decifrar se Noviça estava falando sério ou se era somente uma farsa para assustá-la.

— Essa sapa já chegou se achando a dona do riacho, mas não se criou lá porque era uma sapa chata, mas tão chata que arrumou encrenca com o Mago dos Sapos, que a transformou na criatura mais insuportável do mundo… conclusão da ópera: ela voltou a ser atriz, mas dizia por aí ser sapo, toda desajustada dos modos. Por isso eu não me arrisco…

Luciana, nunca perdendo a oportunidade de alfinetar, decidiu satirizar o apelido infame de Noviça. 

— Cuidado porque a Lilly pode mesmo te transformar num sapo, se bem que não falta muito para te transformar numa porca!
— Porque olhando assim para você, qualquer um sabe que você foi transformada no Garibaldo esculpido em Carrara — devolveu Luciana, com malícia.

Foi a gota d'água para Noviça, que se lançou sobre Luciana, iniciando uma briga improvisada no meio do descampado. As duas rolaram pelo chão, puxando cabelo e dando tapas, enquanto Lilly tentava separá-las.

— Parem com isso, agora! — gritou Lilly.
— Pelo menos o Garibaldo não é o rei do chiqueiro — berrou Noviça.
— Pelo menos não sou uma solteirona sinistra que acredita em horóscopo de jornal! — retrucou a atriz.

Com muito esforço, Lilly conseguiu separá-las, e as duas se recompuseram, ofegantes e com os cabelos despenteados.

— Só por causa desse vexame, eu deveria transformar vocês duas em espantalhos, sabiam? A sorte de vocês é que estou cansada demais para desperdiçar meus dotes castigando duas patetas! Agradeçam-me por isso!

Com os ânimos acalmados, as três finalmente chegaram aos pés de bananeira. Lilly, ainda segurando o facão, deu as instruções finais:

— Certo, agora vamos cravar os facões nos troncos. Agora largamos o facão e deixamos a natureza nos responder, certo? Pela manhã voltaremos aqui. Insisto, sem trapaças. Se eu descobrir que alguém tentou burlar a simpatia, não hesitarei em agir.

Noviça, ainda com um biquinho engraçado, respondeu:

— Trapacear? Eu? Jamais!

Luciana, por outro lado, apenas acenou com a cabeça, visivelmente assustada. Com um último olhar para o campo iluminado pela lua, voltaram para a casa, ansiosas para descobrir o resultado da simpatia na manhã seguinte.

💘💘💘

Edu Meirelles, sempre elegante e charmoso, aproveitava ao máximo os encantos de Buenos Aires durante sua estadia na cidade. Naquele dia especial, marcado pelo Dia dos Namorados, ele resolveu explorar os pontos turísticos mais românticos da capital argentina. Caminhou pelas ruas charmosas de Palermo, admirando a arquitetura europeia e as praças floridas. Fez uma parada no famoso Café Tortoni, onde saboreou um café e um delicioso churro, absorvendo a atmosfera histórica do local.

À medida que o dia avançava, Edu decidiu visitar a área da Recoleta. Passeou pelos belos jardins e pelos corredores do cemitério, onde descansam algumas das personalidades mais importantes da Argentina. O sol começava a se pôr, e a cidade assumia uma nova vida à noite, com suas luzes e ritmos vibrantes. 

Edu, que não era exatamente um mestre na dança, decidiu se aventurar numa danceteria com alguns amigos que fizera durante a viagem. O local estava lotado, com música alta e luzes piscando, criando uma atmosfera de pura diversão. Edu, embora desengonçado, não hesitou em se juntar à multidão na pista de dança.

Ele tentou imitar os passos dos outros dançarinos, mas acabou fazendo a famosa “dança de esfregar o paletó por trás dos ombros”, arrancando risadas dos amigos e de algumas pessoas ao redor. Mesmo assim, ele estava se divertindo, e isso era o que importava. A energia do lugar era contagiante, e Edu se deixou levar pelo momento.

Os amigos de Edu, que também estavam curtindo a noite, resolveram formar um pequeno círculo ao redor dele, incentivando-o a continuar dançando. Entre uma risada e outra, eles brindavam e celebravam a noite especial. Edu aproveitava cada momento, sabendo que essas experiências faziam parte das aventuras de sua vida de jornalista.

Já de madrugada, Edu e seus amigos, exaustos de tanta diversão, voltavam ao hotel. Andavam pelas ruas desertas, rindo e conversando animadamente, lembrando das cenas engraçadas da noite. A cena lembrava um episódio de “Tom e Jerry”, onde os amigos do Tom voltam da farra, cambaleando e felizes.


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