Você também já havia se machucado antes, acreditado numa história onde amou por dois e sempre esteve à sombra, figurante sem prestígio. Dormiu para aquietar os ruídos de uma mente incansável, chorou prolongando o expediente para não brindar com a escuridão, estendeu um cordão em torno de sua ilha para nenhum estranho entrar e deixar destruição por todos os cantos.
Já tínhamos sofrido o bastante para considerar as tagarelices da carência e sua cota de boas intenções. Alguns chamavam de solidão, outros de casulo, todos com discursos prontos acerca de frases de efeito difundidas nas redes sociais, genéricas e tendenciosas.
Não, obrigado.
Não se tratava de covardia, imaturidade e egoísmo. Quantos não perderam e ainda perdem o juízo por confundir desejo com afeto. Eu diria o contrário, que há uma beleza inefável na coragem de sobreviver ao purgatório e retornar, não para repetir os mesmos erros, mas para repensar nossas expectativas sobre o amor.
Até que, um dia, alguém chegou. Sem violar o cordão. Sem invadir a ilha. Apenas sentou-se à margem, em silêncio, esperando o convite.
Não quis saber todos os traumas de uma vez. Não tentou decifrar — só respeitou. E foi ali, na ausência de pressa, que você pensou: “Será que agora posso confiar?
Quando demos as mãos pela primeira vez, o barquinho parecia meio oscilante, tínhamos medo de cair e não mais à superfície regressar. Entramos um de cada vez, sem pressa, seguimos de mãos dadas. Logo, estávamos olhando as estrelas numa noite de luar, falando sobre nossos antigos sonhos, nossas andanças e... amando.
Seus olhos castanhos eram espelhos do etéreo lunar, transbordavam verdades e segredos há muito tempo calados, o pedido mais sincero para ficar. E já era tarde demais para dizer "não".
A confiança não voltou de uma vez. Veio em passos curtos, como quem pisa num chão que já desabou antes. Reconstruímos todos os dias, quando escolhemos estar, não apenas prometer e sumir. Esse é o amor bonito que casa tão bem com o vaivém das ondas, mais belo do que todas as histórias que escrevi e imaginei para mim.
Somos nós. Não aquele tipo predestinado a ferir e arrebentar. Centelhas que se reconheceram numa galáxia distante, contra todas as possibilidades, para se tornar um só coração.
E se porventura o mar se agitar de novo, podemos aprender a remar juntos. Porque não é sobre destino, é sobre escolha.
E eu escolhi confiar.
De novo.
Em você.
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