Era uma vez um pomar que vivia em festa.
Todas as frutas amadureciam ao mesmo tempo, e no auge da estação, desciam da árvore para serem escolhidas pelos que passavam: alguns queriam a mais brilhante, outros a mais exótica, outros somente a mais barata.
Uma fruta, em especial, nunca se jogava do galho. Era um pêssego. Macio, dourado, doce demais até para os desavisados. Ele via os outros sendo levados, elogiados, provados — e depois esquecidos.
Já ele… seguia ali. Sozinho no galho mais alto, aquecido pelo sol da tarde, balançando com o vento, tentando entender por que ninguém o escolhia.
Certa vez, uma criança passou com a avó pelo pomar e apontou:
— Aquele parece bonito, vó!
— É bonito, sim, meu bem. Mas precisa de cuidado. Tem a pele sensível. Se não pegar com carinho, ele machuca.
A criança hesitou. E foram embora.
O pêssego ficou.
Alguns zombavam:
— Você ainda está aí?
— Ninguém quer fruta mole!
— Talvez, se fosse mais dura, mais simples, mais igual…
Ele chorou. Chorou por dentro, onde moram as sementes.
Mas seguiu crescendo, mesmo sem plateia.
Até que um dia, quando o pomar estava quase vazio, uma moça apareceu.
Ela não vinha para colher. Vinha para conversar com as árvores.
E quando viu o pêssego, sorriu como quem reconhece um velho amigo:
— Você ainda está aqui?
Subiu no tronco, estendeu a mão com delicadeza e o colheu.
Antes de morder, o segurou junto ao rosto e disse:
— Gosto das frutas que esperam. Elas sempre têm uma história melhor para contar.
E naquela mordida, o pêssego se soube amado.
Porque não era sobre ser o mais rápido. Nem o mais escolhido. Era sobre ser inteiro. E sobre quem tem alma suficiente para reconhecer a doçura que ficou na árvore.
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