Mary Recomenda | Rede Manchete: aconteceu, virou história - Elmo Francfort 📺



Se você nasceu na década de 1980 e foi criança nos anos 1990, assim como eu, deve lembrar-se da extinta Rede Manchete, que até hoje ocupa um espacinho no coração de muitos admiradores e fãs. Mesmo quem nasceu após o fechamento da emissora se rende pelo encanto, mostrando o impacto que a Manchete deixou na história da televisão brasileira.


Na data de hoje, a Manchete completaria seu quadragésimo-segundo aniversário e a edição especial do Mary Recomenda presta uma homenagem a esse legado inesquecível. Poderíamos imaginar como seria a programação atualmente, quais talentos ela teria lançado, os temas das novelas ou se teria se rendido e investido nos programas de gosto duvidoso da concorrência.
O objetivo desta resenha não é descer a lenha na RedeTV!, nem na Record, nem na Globo — porque em todas essas empresas há pessoas trabalhando duro para sustentar suas famílias, mas propor uma viagem no tempo que alguns, como quem os escreve, não viveu, ou para quem teve o privilégio de viver e acompanhar, reviver.
A história da Manchete inicia-se muito antes da primeira transmissão televisiva, lá em 1983, sendo impossível não contá-la sem falar sobre Adolpho Bloch, o grande idealizador desse sonho, falecido há 30 anos.

Quem foi Adolpho Bloch

Avram Yossievitch Bloch nasceu em 8 de outubro de 1908, em Jitomir (hoje Ucrânia), durante o Império Russo. Oriundo de uma família judaica, mudou-se para Kiev após a Revolução Russa, transferindo-se depois para Nápoles, Itália, até, por fim se estabelecer no Brasil, em 1922.
Os Bloch tinham poucos recursos, mas muita vontade de prosperar e começaram a trabalhar na indústria gráfica. O jovem Adolpho mostrou um talento natural para os negócios e destacou-se com a criação de litografias e pequenas publicações.
Fundada em 26 de abril de 1952, a Bloch Editores lançou a revista semanal Manchete, criada para competir com a Cruzeiro, de propriedade de Assis Chateubriand, dono dos Diários Associados. Cada qual buscava a preferência dos leitores oferecendo bom conteúdo, qualidade visual, apostando na cobertura de eventos sociais e históricos dos tempos em que estiveram em circulação.
A revista Cruzeiro deixou de circular em 1975, mas a Manchete foi veiculada até o ano 2000 e contou com algumas publicações esporádicas até 2007, ambas com mais de quatro décadas de história. Somente em 5 de junho de 1983 a Rede Manchete entrou no ar, contando com um discurso de Adolpho Bloch e uma programação especial para iniciar aquela nova era da televisão brasileira, marcada pela qualidade de suas produções.
Adolpho mantinha um bom relacionamento com personalidades influentes, com destaque para a grande amizade dele com o ex-presidente Juscelino Kubitscheck (1956-1961). Marcada por respeito, confiança, admiração e colaboração mútuas, o empresário utilizava seu espaço na mídia para apoiar e divulgar os projetos do governo e moldar a opinião pública. Vale ressaltar que JK até contribuiu com artigos para a revista Manchete, contribuindo para fortalecer essa parceria, que durou até a morte de Juscelino, em 1977.
O Pilão, autobiografia de Adolfo Bloch, foi publicada em 1978, pela Bloch Editores, no Rio de Janeiro. A obra tem um prefácio escrito por Otto Lara Resende; nela, Bloch narra seus primeiros anos ainda na Rússia, a chegada da família ao Rio de Janeiro até a construção do império editorial encabeçado pela Revista Manchete e, posteriomente, da Rede Manchete de Televisão.
Adolpho Bloch faleceu em 19 de novembro de 1995, aos 87 anos, em São Paulo, por complicações durante uma cirurgia para tratar embolia pulmonar e disfunção da prótese da válvula mitral do coração. O velório dele foi realizado nas instalações do grupo Bloch, no Rio de Janeiro, na Rua do Russel, no Rio de Janeiro. Muitas pessoas compareceram para despedir-se do empresário; entre elas, artistas, personalidades do mundo político e empresarial.
O corpo de Adolpho Bloch foi sepultado no Cemitério Israelita do Butantã, em São Paulo. Ele casou-se duas vezes e não teve filhos, então, quem assumiu o comando do império Bloch foi Pedro Jack Kapeller, conhecido como Jaquito.

Impressões

Lembro-me razoavelmente da Manchete porque meus pais a acompanhavam quando eu era pequena. Quando a TV Independência deixou de transmitir o sinal da Manchete na minha cidade, foi estranho, mas eu tinha 7 anos e não entendi muito.

Meu interesse pela Manchete aumentou quando Xica da Silva foi exibida no SBT, há 20 anos. Três anos depois, quando passou Pantanal, encontrei vídeos no YouTube e, ao longo dos anos, fui conhecendo mais sobre a emissora. Descobri muitas figuras da mídia que deram seus primeiros passos no canal dos Bloch e constatei o quanto a Manchete fez e ainda faz falta, pois a RedeTV! não é e nunca será sua substituta, apesar de ter, ao menos nos primórdios, o objetivo de oferecer uma programação diversificada e de alto nível, o que foi mudando em nome de audiência e faturamento.
Descobri a existência deste livro por meio de um amigo e, quando comecei a ler, não parei mais. Viajei no tempo e conheci detalhes desconhecidos. Lamento que o grande acervo do canal esteja se deteriorando, quando poderia ser remasterizado e disponibilizado no YouTube. Muitos funcionários não receberam seus direitos trabalhistas, o que é uma grande perda para todos.
A história de Adolpho Bloch e da Manchete se mistura com a história do Brasil. É inegável que a Rede Manchete perdeu seu coração com a morte de Seu Adolpho. A emissora deixou de ser a mesma, apesar dos incansáveis esforços para mitigar crises e adaptar-se às demandas da época e ao comportamento dos telespectadores.
Compartilhei muitas passagens do livro em uma rede social de leitores enquanto progredia na leitura e recomendo a quem deseja conhecer mais sobre a história da Rede Manchete. É um livro para quem gosta de televisão e, claro, para os fãs órfãos do canal. Acredito que, hoje em dia, a Manchete teria de se adaptar às demandas atuais para sobreviver, mantendo em seu DNA o instinto inovador que fez história.

Jornal da Manchete

É impossível falar sobre a Rede Manchete sem citar este noticiário que marcou época. Lançado logo após a estreia da nova emissora, rapidamente se destacou pelo formato inovador, pelos cenários modernos e gráficos avançados para aquela época e, claro, pela cobertura abrangente de eventos nacionais e internacionais.
Ao longo de 16 anos, o Jornal da Manchete esteve presente em momentos marcantes, como:


Campanha por eleições presidenciais direta (1984)
Morte de Tancredo Neves (1985)
Queda do Muro de Berlim (1989)
Eleições presidenciais (1989)
Plano Collor (1990)
Copa do Mundo na Itália (1990)
Guerra do Golfo (1991)
Fim da União Soviética (1991)
Impeachment de Fernando Collor de Mello (1992)
Massacre no Carandiru (1992)
Morte de Ayrton Senna (1994)
Tetracampeonato da Seleção Brasileira (1994)
Morte do grupo Mamonas Assassinas (1996)
Jogos Olímpicos de Atlanta (1996)
Morte da Princesa Diana (1997)
Visita do Papa João Paulo II ao Brasil (1997)
Desabamento do edifício Palace II (1998)
Copa do Mundo da França (1998)

Cobertura Jornalística

O telejornal era conhecido por sua cobertura abrangente e detalhada de eventos nacionais e internacionais. Eles não apenas reportavam as notícias, mas muitas vezes traziam uma análise profunda e contextualizada, o que ajudava os espectadores a entender melhor o mundo ao seu redor.

Apresentadores Marcantes do Jornal da Manchete

  • Marcos Hummel: Conhecido por sua voz firme e apresentação impecável, foi um dos rostos mais reconhecidos do telejornal.
  • Márcia Peltier: Permaneceu na bancada de 1993 a 1998. Trouxe carisma e presença ao telejornal, deixando uma marca indelével na memória dos telespectadores.
  • Ronaldo Rosas: Com sua postura profissional e estilo jornalístico distinto, contribuiu significativamente para o sucesso do Jornal da Manchete.
  • Carlos Bianchini: Outro grande nome que fez história na apresentação do telejornal, conhecido por sua habilidade em reportar notícias de maneira clara e precisa.
  • Leila Cordeiro: Uma das apresentadoras que se destacou pela sua capacidade de comunicação e empatia com o público.
  • Eliakim Araújo: Apresentador respeitado que trouxe credibilidade e profundidade às reportagens do Jornal da Manchete.
  • Augusto Xavier: Atuou na fase final do Jornal da Manchete, trazendo sua experiência e estilo único de apresentação.
  • Cláudia Barthel: Também na fase final, conhecida por sua desenvoltura e profissionalismo. Assim como Xavier, integrou o cast de jornalistas da Redetv.


Trilha sonora do JM

A música de abertura composta pelo Roupa Nova não só se tornou imediatamente reconhecível, mas também ajudou a definir a identidade do telejornal, criando uma atmosfera de seriedade e confiabilidade

A trilha sonora do Jornal da Manchete se tornou uma assinatura sonora, associada à qualidade e inovação do jornalismo da Rede Manchete. É incrível como uma melodia pode evocar tantas memórias e sentimentos nostálgicos.

Legado

Mesmo após o fim da Rede Manchete em 1999, o legado do Jornal da Manchete continua vivo na memória dos brasileiros. Sua abordagem inovadora e a qualidade da produção deixaram um padrão elevado para o jornalismo televisivo no país. Muitos dos profissionais que trabalharam no Jornal da Manchete seguiram para outras emissoras, levando consigo a experiência e a paixão pelo jornalismo de alta qualidade.

Enquanto a máquina do tempo ainda é um sonho, você pode reviver um pouco dessa época assistindo aos vídeos do Jornal da Manchete que estão disponíveis no YouTube. Muitas pessoas compartilham gravações antigas, e é fascinante ver como era o jornalismo daquela época e a atuação dos apresentadores que fizeram história.


O "M" voador

Ah, a icônica vinheta do "M voador" da Rede Manchete! Ela realmente marcou uma era e ainda mora no coração de muitos que cresceram assistindo à emissora. A abertura com o "M" prateado voando pelo espaço até se transformar no logo da Manchete é inesquecível e nostálgica. Foi uma das vinhetas mais inovadoras e sofisticadas da TV brasileira na época.

A qualidade visual e sonora da vinheta ajudava a criar uma identidade única para a Rede Manchete, transmitindo modernidade e inovação. É incrível como esses elementos de branding podem ter um impacto tão duradouro na memória coletiva.

Se você quiser reviver essas memórias, muitos vídeos da vinheta do "M voador" estão disponíveis no YouTube. Assistir a eles é como fazer uma pequena viagem no tempo, trazendo de volta as boas lembranças da época.

Triste fim

Infelizmente, desde sua fundação, a Rede Manchete sofreu crises financeiras. No entanto, a situação piorou ao longo da década de 1990, quando a emissora perdeu muitas afiliadas que migraram para Band, SBT, Record, precisando vender horários para os afamados infomerciais e mesmo para igrejas evangélicas.

Após a morte de Adolpho Block e da incursão ao popularesco, a Manchete teve êxito com a novela Xica da Silva e até Mandacaru, todavia, ao investir em Brida, inspirada na obra de Paulo Coelho, a expectativa era atrair anunciantes com o folhetim e inovar, só que a tentativa foi um fracasso retumbante que mais tarde seria o primeiro prego do caixão do canal.

Greves, salários atrasados, debandada de medalhões... o futuro da Manchete tornou-se inevitável. Mesmo assim, é dolorido ver uma parte da história da televisão brasileira mofando, quando poderia muito bem ser resgatada. De fato, sou leiga no tocante a preservação de acervos e peço desculpas por quaisquer equívocos ditos.

Sou apenas uma eterna curiosa, que devorou esse livro e lamenta o fim da emissora, que teria tanto a mostrar hoje. Se você gosta de televisão antiga, de relíquias e nostalgia, esse livro é uma boa pedida.


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