Nas Lentes da Malacubaca 🎥 | Crise econômica de 2001

 

Argentina 2001: o ano em que o povo disse basta

Por Mary Luz

“O que faz um povo bater panelas até derrubar um presidente?”
“Como uma economia que prometia estabilidade virou sinônimo de desespero?”

Nesta edição, Nas Lentes da Malacubaca mergulha em um dos episódios mais marcantes da história recente da América do Sul: a crise argentina de 2001.

Imagens de saques, protestos e cacerolazos tomaram conta do mundo. Mas o que levou um país inteiro ao colapso?

📍 Capítulo 1: Junho de 2001 – Uma viagem para observar

Em junho de 2001, Edu Meirelles foi enviado a Buenos Aires pela Malacubaca para uma série de reportagens especiais sobre os 100 anos da imigração italiana e espanhola na Argentina e o cotidiano portenho no novo milênio.

A pauta era leve, quase turística. Caminhou por Recoleta, Palermo, San Telmo, entrevistou donos de cafés, professores de tango e historiadores. Mas algo no ar o inquietava.

“As conversas nos bastidores, nas filas, nos metrôs… todas tinham a palavra ‘crise’. Era como se o país inteiro segurasse a respiração”, escreveu ele no diário de bordo da emissora.

Edu captou os primeiros sinais: o desemprego crescente, a pobreza batendo à porta da classe média, a insatisfação popular com o governo de Fernando de la Rúa. O charme das ruas contrastava com o clima de tensão silenciosa.


🧨 Capítulo 2: A bomba-relógio dos anos 90

A Argentina passou a década de 1990 sob o comando de Carlos Menem, um peronista de discurso populista, mas de práticas neoliberais. Seu governo implantou o Plano de Convertibilidade, que fixava o peso argentino ao dólar (1:1).

Parecia bom demais para ser verdade:

  • A inflação despencou;

  • A classe média passou a viajar e consumir como nunca;

  • Os investidores estrangeiros apostaram no país.

Por trás da “estabilidade” havia:

  • Privatizações em massa;

  • Endividamento crescente;

  • Dependência externa;

  • E a destruição de indústrias locais.

Em 1999, Fernando de la Rúa foi eleito prometendo sobriedade. Manteve a paridade com o dólar e fez cortes profundos exigidos pelo FMI. Em vez de salvar o país, agravou a crise social.


🔥 Capítulo 3: Dezembro de 2001 – Edu volta para ver o jogo (e encontra o caos)

Em dezembro, Edu retorna a Buenos Aires para acompanhar o jogo entre Flamengo e San Lorenzo, pelas semifinais da Copa Mercosul. Queria aproveitar a viagem, rever amigos, relaxar.

Mas a cidade havia mudado.

Na semana da partida, o governo anunciou o corralito: bloqueio das contas bancárias e limite de saques. A população, já no limite, explodiu.

Os panelaços começaram.

Pessoas bateram panelas pelas janelas, praças e ruas. Os supermercados foram saqueados. O governo declarou estado de sítio. E o jogo foi cancelado — junto com qualquer chance de descanso.

“Vim pra ver o futebol. Voltei cobrindo a maior crise política da América do Sul desde a redemocratização”, relatou Edu no Boletim Extraordinário.


🏛️ Capítulo 4: Cinco presidentes em onze dias

A situação fugiu do controle. O povo exigia mudanças. E o sistema político argentino implodiu diante dos olhos do mundo. Eis a cronologia:

  1. Fernando de la Rúa
    ⟶ Renunciou em 20/12/2001, fugindo de helicóptero da Casa Rosada.

  2. Ramón Puerta
    ⟶ Presidente do Senado, assumiu interinamente por dois dias.

  3. Adolfo Rodríguez Saá
    ⟶ Eleito presidente interino em 22/12. Declarou moratória da dívida externa. Renunciou após sete dias por falta de apoio político.

  4. Eduardo Camaño
    ⟶ Assumiu de 30/12 a 02/01 como presidente da Câmara dos Deputados.

  5. Eduardo Duhalde
    ⟶ Eleito pela Assembleia em 1º/01/2002, foi o primeiro a concluir o mandato emergencial. Quebrou a paridade peso-dólar, iniciou políticas sociais e reergueu o país.


✊ Capítulo 5: O que ficou depois da fumaça

Mesmo entre os cacos, a Argentina encontrou saídas:

  • Feiras de troca nos bairros;

  • Assembleias populares em praças;

  • Redes de solidariedade;

  • Criação de programas sociais como o “Jefes y Jefas de Hogar”.

Com a desvalorização do peso, o setor de exportações voltou a crescer, especialmente a agricultura. A partir de 2003, sob Néstor Kirchner, o país voltou a respirar.


💬 Epílogo: Edu e Lucía no cacerolazo

Edu não apenas cobriu a crise — ele a viveu. Conheceu Lucía, torcedora do San Lorenzo, que o guiou entre os protestos. Juntos, eles presenciaram a história.

“Quando o povo bate panela, ele não quer cozinhar — ele quer ser ouvido. E naquela noite na Plaza de Mayo, a Argentina inteira gritou com o metal.”
— Edu Meirelles


🧠 Reflexão da Malacubaca

A estreia da coluna Nas Lentes da Malacubaca não poderia ser outra. A crise argentina de 2001 mostra que nenhuma medida econômica vale mais que o bem-estar de um povo. E que às vezes, é nas ruas, com ruído e dor, que nasce a esperança.


📚 Referências (ABNT)

  1. SANTORO, Maurício. A crise de 2001 e a política externa argentina. Revista Estudos Políticos, v. 8, n. 1, 2017. Disponível em: https://periodicos.uff.br/revista_estudos_politicos/article/download/39830/22915/133971. Acesso em: 15 maio 2025.

  2. REIS RIBEIRO, Caroline. Crise de 2001 e recuperação: o milagre argentino. Monografia (Graduação em Ciências Econômicas) – Instituto de Economia, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2014. Disponível em: https://pantheon.ufrj.br/bitstream/11422/481/1/Monografia_IE_Caroline%20Reis%20Ribeiro1.pdf. Acesso em: 15 maio 2025.

  3. WIKIPÉDIA. Crise econômica argentina (1998–2002). Wikipédia: a enciclopédia livre, 2023. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Crise_econ%C3%B4mica_argentina_%281998-2002%29. Acesso em: 15 maio 2025.

  4. WIKIPÉDIA. Lista de presidentes da Argentina. Wikipédia: a enciclopédia livre, 2023. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_de_presidentes_da_Argentina. Acesso em: 15 maio 2025.


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