26 de junho | Dia Internacional de Combate às Drogas

 


💔 Mel era linda, inteligente, cheia de futuro. Mas bastou uma porta errada se abrir para que tudo virasse neblina.

📺 Em O Clone (2001), muitos brasileiros viram pela primeira vez a dependência química ser tratada com verdade emocional na TV aberta. Mas ao contrário do que os resumos de novela podem sugerir, a trajetória da Mel (Débora Falabella) não começou nas drogas — começou na tristeza que ninguém viu.

👨‍👩‍👧 Lucas, o pai, era mocorongo e alheio, mais preocupado em reviver a adolescência perdida. Maysa, a mãe, no início era mais preocupada com aparências do que com presenças. E foi com Dalva, a empregada, que Mel encontrava o afeto real — aquele que vem com escuta, com cuidado, com colo.

🖤 Mel já era uma menina depressiva, sufocada pelas cobranças, pela ausência emocional dos pais e pela angústia de não conseguir ser o que esperavam. As drogas entraram como válvula de escape. O colapso foi só a consequência.

📣 Mel não queria morrer. Queria parar de doer.

💊 Drogas não são apenas um problema pessoal. São um grito social.
Todo dependente químico carrega uma história antes da substância.
E muitas vezes, o que o levou até ali não foi escolha, mas falta de escolhas.

Por trás de cada vício, pode haver:

  • uma dor não tratada, que virou anestesia

  • uma ausência familiar, que virou abandono emocional

  • um abuso silenciado, que virou trauma

  • uma escola que não percebeu

  • uma igreja que julgou

  • um sistema de saúde que ignorou

  • e uma sociedade inteira que prefere a manchete ao acolhimento

🚫 É mais fácil chamar alguém de “noiado” do que perguntar por quê.
É mais conveniente afastar do que escutar.

Mas enquanto tratarmos a dependência como uma falha de caráter, estaremos matando pessoas com diagnóstico e deixando o problema crescer em silêncio.


🧠 O vício é complexo. Ele pode atingir qualquer pessoa, de qualquer classe social. Ele envolve fatores biológicos, psicológicos, ambientais e sociais. E exige uma resposta que vá além da repressão e da exclusão — exige política pública, rede de apoio, prevenção e cuidado contínuo.


📣 Porque ninguém se destrói à toa. E ninguém se salva sozinho.




📖 Na vida real, a Mel se chama Christiane F.
E sua história não foi escrita por autores de novela, mas pela própria dor.

Nos anos 1970, em uma Berlim ainda dividida, Christiane viveu entre estações de metrô, boates e banheiros públicos — e mergulhou na heroína aos 13 anos. Sua trajetória foi narrada no livro-reportagem “Eu, Christiane F., 13 anos, drogada, prostituída…”, baseado em entrevistas que concedeu a dois jornalistas da revista Stern.

📚 O livro retrata um mundo onde o sistema educacional era indiferente, os lares eram disfuncionais, e a juventude via nas drogas uma única saída para a desesperança. Christiane perdeu amigos pelo caminho — como Babsi, morta aos 14 anos por overdose. E, enquanto a sociedade apontava o dedo, ninguém oferecia verdadeiramente a mão.

🎥 A história virou filme em 1981, um clássico sombrio que marcou gerações. 

📖 Christiane F. — A Vida Apesar de Tudo

(Christiane F. – Mein zweites Leben, no original alemão)

Ele foi publicado décadas depois do primeiro e é um testemunho duro, cru e necessário de tudo o que veio depois da fama, das entrevistas e do suposto “fim da história”. Nele, Christiane mostra que sobreviver ao vício não é o mesmo que ser curada — e que a sociedade está raramente preparada para acompanhar o processo todo.


💬 No segundo livro, ela expõe:

  • o peso do estigma de ser eternamente a “garota drogada da estação Zoo”

  • a dificuldade em manter relacionamentos, empregos e estabilidade emocional

  • a exposição midiática invasiva e a exploração do seu nome em documentários e reportagens sensacionalistas

  • a sua relutância em aceitar a maternidade, pois sentia que sua história a condenava como incapaz

  • e as recaídas frequentes, que escancararam como o sistema falha com quem precisa de tratamento contínuo e suporte humano

📌 A Vida Apesar de Tudo não é um livro de superação com final feliz. É uma carta de quem ainda tenta existir num mundo que não perdoa erros — mas adora usá-los como espetáculo.

🚫 O mundo aplaudiu sua coragem, mas virou o rosto para sua dor persistente.
Porque é fácil ler um livro. Difícil é cuidar de quem o escreveu.

🧠 O vício é um sistema que não se vence sozinho.
Quem sobrevive não precisa de julgamento. Precisa de apoio, escuta e políticas públicas reais.

📌 Com memória e consciência, dos Cadernos de Marisol.

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