Mary Recomenda | A Cidade do Sol - Khaled Rosseini

Capa da edição comemorativa de A Cidade do Sol (Reprodução/Globo Livros)

Conheci o aplicativo Skeelo recentemente e fui presenteada com um livro de cortesia, A Cidade do Sol, do escritor afegão Khaled Rosseini, conhecido também por escrever O Caçador de Pipas (ainda não li). A sinopse me chamou atenção por trazer duas mulheres que vivem na mesma cidade, em épocas distintas, mas têm os destinos cruzados e acabam se encontrando. Até então, eu conhecia muito pouco sobre a vida no Afeganistão, logo, essa experiência vivida ao longo dos quatro dias de leitura me proporcionou uma gangorra de sentimentos. 

Nosso primeiro destino é Herat, cidade natal de Mariam, fruto de um envolvimento extraconjugal de Jalil, um comerciante muito bem-sucedido na região, com a governanta Nana. Com três esposas e mais de 10 filhos, ele relega Nana e Mariam, a harami (bastarda), que cresce numa kolba, sempre na expectativa das visitas do progenitor. Iludida, ela não acredita nos conselhos da mãe. Quando Nana morre, a menina com então apenas 14 anos, se vê coagida a se casar com um homem três vezes mais velho, o sapateiro Rasheed, indo morar com ele em Cabul.

Laila, por sua vez, nasceu em Cabul e foi criada para ser quem quisesse ser, frequentava a escola, os pais eram intelectuais e casamentos arranjados passavam longe da sua realidade, sobretudo apaixonada desde sempre pelo vizinho Tariq, um jovem, dois anos mais velho, que ainda criança sofreu um acidente em uma mina e perdeu uma das pernas. Com então 14 anos, a menina vê a sua amada cidade ser resumida aos escombros de uma guerra sanguinolenta e cruel, convivendo muito de perto com a morte, que acabaria por levar as pessoas que amava.

Para não estragar a leitura de ninguém, limito-me por aqui a dar uma pincelada do que vocês poderão esperar nessa narrativa que expõe com muito brilhantismo, as trajetórias de Mariam e Laila, representantes da realidade das mulheres afegãs, especialmente nos momentos mais repressores que viveremos durante a leitura, quando quase não nos cabe nem mensurar o tamanho do sofrimento de uma população que busca sobreviver aos dias de luta, sonhando com os dias de glória. 

Acompanhamos a vida política do Afeganistão desde a monarquia até a expulsão do Talibã pelas tropas norte-americanas. Nessa edição especial que conta com o prefácio do autor, ninguém imaginava que em agosto de 2021, o Talibã voltaria a comandar o Afeganistão e a impor restrições contra as mulheres, impedindo-as de estudar, buscar o próprio sustento, contribuindo para o aumento da pobreza, da miséria e da desigualdade social.

Trata-se de uma leitura mais forte e densa, que pode reacender vários gatilhos sobre estupro, violência doméstica, traumas de guerra e luto. Apesar de serem temáticas consideradas pesadas — porque de fato são mesmo —, essa obra é necessária, pelo menos nos é uma porta aberta para conhecermos outras realidades e valorizar muito mais a nossa liberdade, as nossas oportunidades de estudar, trabalhar, namorar, usar as roupas de que gostamos, nosso direito de ir e vir sem precisar estar ao lado do marido, que o casamento seja uma vontade mútua e não uma imposição grotesca e humilhante.

Quebrei a programação por sentir uma necessidade muito grande de compartilhar um pouco do que senti durante a leitura desta obra, certamente um dos grandes achados de 2024. Espero que vocês gostem da recomendação de hoje e fiquem no aguardo das próximas. Um grande abraço e a gente se vê por aí. =)

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