perdido está aquele que não quer sair do lugar

Uma mulher de coração partido (Reprodução/Arquivo Pessoal)

Uma vez feita a distinção acerca do efêmero e do eterno, aproximava-se o derradeiro instante. Duas placas verdes indicavam rumos antagônicos, mas possuíam certa similitude, posto que exigiriam maturidade para honrar a escolha e arcar com o ônus da renúncia. 
Correr para longe de si e retornar ao ponto inicial, ao parágrafo introdutório, interpretar sob outra perspectiva, concentrar-se para diferenciar os ruídos mundanos do que dita a intuição e embora ela não seja isenta de falhas, na maioria das vezes é a melhor conselheira de todas e naquela humildade de bochechas coradas desvia o assunto, sem atribuir a si própria o mérito. 
O medo de errar não é insano, pelo contrário, possui embasamento claro para sustentar a argumentação, entretanto, a paralisia moral da indecisão é grotesca porque não há a menor necessidade de ser um pensador para concluir que um único destino estão fadados aqueles que perecem em vida por escolha própria: a estagnação. 
Esse tal nada — tão espaçoso enquanto invisível — é o vazio mais difícil de extinguir, uma contradição aos fatos, no entanto, nada pode ser mais humilhante do que ele, pois por pior que seja uma escolha, a sabedoria revela-se a grande herança, o discernimento evoca-se e a evolução se dá com base numa premissa inegável. 
A duração do inverno está em vias de ser desconsiderada porque a própria natureza humana, inspirada na fluência e também nos desafios, confrontará a acomodação e o que há por detrás destas cortinas feitas de um material resistente, porém frágil por essência, guiado pela falácia de uma bravura pouco convincente.
Uma vez dado o primeiro passo, qualquer que tenha sido o rumo escolhido, não se contestam o ritmo da caminhada e tampouco o destino dela porque a coragem preenche o olhar opaco com aquele brilho motivador, reacendendo a já fraca chama da esperança porque nas noites escuras nas quais os ponteiros do relógio debocham da insônia, ela está lá, sempre cuidando das necessidades de cada um e compreendendo a essência do tempo muito mais além, porque para quem admite o infinito, limitações oprimem, a alma carece de mais para manter-se nutrida e sã, razão pela qual o amor é o adubo deste solo fértil, mas castigado por longas estiagens e passadas indecorosas. 
Ao decorrer do percurso, epifanias e tantos diálogos dos mais variados tons, algum cansaço comum quando já não se está mais no ponto inicial e ainda se encontra longe do destino, expectativa de mirar um oásis, a contemplação mais pura do silêncio e entregue ao fulgor de uma noite de lua cheia, quando aquela luz azul projetada sobre a silhueta admirada que se põe a escrever ou então sonhar, companheira mais fiel não há. 
Perdido encontra-se todo aquele que não quer caminhar porque quem sai do lugar, ainda que porventura desvie-se da rota, segue o movimento e, independentemente do modo, glorifica o destino. No instante derradeiro, palavras fazem-se indispensáveis, um simples passo esclarece todas e quaisquer dúvidas remanescentes. 

Curitiba, 4 de outubro de 2021.


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