Distante de ser uma obra-prima



Antigamente, eu amava muito ficar acordada até tarde da noite, tudo para ouvir música e imaginar as aventuras dos meus personagens. De tanto sonhar acordada, nem sempre me sentia disposta a transcrever tudo que se passava na minha cabeça, pelo perfeccionismo disfarçado de medo, ah, medo de não ser boa naquilo, de não ser criativa ou "normal".
Houve um tempo onde o "feito era melhor do que o perfeito" serviu- me de guia, todavia, vivemos em um campo minado, estabelecido sobre estradas construidas com ovos, basta um deslize para milhares de dedos apontarem contra mim.
Nunca prometi mudar o mundo, nem teria tamanha soberba. Gostava de fazer os outros felizes, oferecendo palavras para todos os momentos. Cansei-me de conjugar certas palavras no pretérito, isso seria mais uma vez ceder aos apelos da autopiedade e daquela palavra que começa com pê e eu odeio. 
A perfeição é a desculpa mais esfarrapada do mundo. Quantos sonhos maravilhosos foram sufocados por nunca encontrar a ocasião ideal? Pode ser que não sobre tempo!
Li uma frase que em síntese dizia que se nós soubéssemos o quão rapidamente seríamos esquecidos após a morte, deixaríamos de nos importar com palpites alheios para correr riscos, viver nossa autenticidade.
Por que deixar o lixo que jogaram aqui no meu jardim? 
Não sou obrigada a agradar ninguém, não vou e não quero. Sei lá, sinto que perdi a mão. Altas saudades de escrever três mil palavras num dia só, daquela energia toda que hoje fica só na recordação. 
Tem dias que não consigo ser produtiva, não posso me desculpar porque não estou com um pingo de animação para me pagar de corredora, lembrando que minha única vitória em corridas foi uma e por isso estou aqui, às vezes cambaleando, dormindo para desaparecer, ainda estou aqui, um pouquinho sem rumo.
Devo ter desenvolvido aversão à escrita, essa ideia pode servir de álibi e explicar o medo de uma folha em branco. Não dela, mas das implicações, da rejeição, dos sonhos arrasados, presumo. Ainda tem muita vontade de chorar engolida e guardada aqui no peito, pelo tempo que não volta mais. 
Evitar o mundo não serve de blindagem, a dor me alcança ainda assim. Estou tentando superar certos traumas, no entanto, ninguém de recupera em um dia ou uma semana, trata-se de um processo longo, penoso, onde alguns retrocessos estão escritos em caixa alta na bula.
De texto em texto, aqui nesse exílio autoimposto permaneço. Espero voltar amanhã, se amanhã eu não me sentir ridícula por ter escrito e publicado este texto, tão distante de ser minha obra-prima.

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