Saturno em Escorpião

Algumas transformações estou certa de que as mais notáveis - são aquelas que nos abalam por dentro. 

Tem quem venha me encher de lições de moral dizendo que a astrologia não influi em nossas vidas, que irei arder nas chamas do inferno ou que sou uma bruxa, ou melhor, neta de alguma bruxa perseguida durante o sombrio período da Inquisição. Não iniciei esses raciocínios me blindando de críticas ou assegurando em caixas altas que sou a dona da verdade suprema. Não tem nada disso. Presumo que essa sensação já acometeu a muitos de nós e cada um buscou e ainda busca dentro de si a melhor estratégia para encarar a tempestade sem provocar outra.
Nunca fui dada a ter paciência com argumentos reacionários e sem embasamento em dados concretos. Achismos, definitivamente, não saciam a minha curiosidade. Se não acredito por inteiro nos astros, também não desprezo como se fosse conhecimento inferior, porque também não é.
Nossas escolhas podem ser influenciadas por milhares de fatores e não irei destrinchá-los nesse texto. Podemos decidir sem pensar nas consequências, em um instante de despeito ou ressentimento, podemos decidir ficar no mesmo lugar, mas isso não assegura a inércia. A mudança ocorre independentemente do querer. Algumas transformações - estou certa de que as mais notáveis - são aquelas que nos abalam por dentro. É isso que Saturno em Escorpião quer dizer e muitas pessoas não conseguiram entender.
Ninguém pode fugir do embate consigo mesmo. Não se pode ignorar aquilo que dói hoje, mas vai facilitar a sua evolução pessoal. Ninguém pode fugir de ser quem é.
Eu fugi de mim, mas não foi durante esse período compreendido entre outubro de 2012 e novembro de 2014. Eu fugi de mim a vida inteira, por inúmeras vezes escolhi caminhos não porque eles pareciam bons para mim e sim porque queria ver as pessoas ao meu redor felizes. Colecionei frustrações, mas em alguns atalhos refiz a estrada. Disse não quando queria gritar sim e consenti quando queria simplesmente ter força para negar. Tive medo de partir, também de ficar. Tive medo das borboletas no estômago, mas aceitei migalhas pensando que eram de ouro. Tive receio de expor minhas ideias, de me entregar àquilo que acreditava. Chorei por pessoas que me abandonaram quando mais precisei tê-las, hoje sei que nunca precisei delas. Tive medo de me olhar como eu realmente era, e simplesmente não apontar para meu próprio rosto com o dedo indicador a fim de apontar falhas.
Sou humana, nunca serei unanimidade. Tenho fraquezas, limitações, feridas que ainda não se fecharam, outras que venho abrindo para que a dor estanque e o processo de cicatrização ocorra com toda a leveza de uma nuvem de algodão. Quero me sentir bela, mas em conexão com a eterna criança que ainda vive dentro de mim, sem ter a beleza exterior como meu único atributo, sem passar horas e mais horas me comparando com as outras. Que em mim se acentue a compreensão e eu aprenda a enxergar os outros, sabendo que eles também carregam dezenas de milhares de palavras que não compartilham nem com a própria sombra.
Acredito que amar verdadeiramente é um risco a correr, mas não arriscar me coloca a um degrau inferior, porque não por não é inevitável não ouvir. Pior que um não é o talvez, o fantasma do "se", a culpa atormentadora de quem tudo quis e nada tentou. Não tenho vergonha das minhas lágrimas de amor, somente os fortes sabem amar e oferecer esse amor sem que ele decorra de chantagens e cobranças. A livre entrega vem da espontaneidade, da transparência, de dois que nunca deixam de ser dois, que não creem saber de tudo, mas são o que são enquanto podem, enquanto cabe ser. Na vida nada deve ser deixado para amanhã.
Na segunda quinzena do próximo mês de dezembro, esse planeta entrará no signo de Sagitário, com outra demanda, outra conotação, uma influência diferente da que teve anteriormente. Sagitário é um signo conhecido por ser aventureiro, ousado, o arquétipo daquela pessoa que não gosta de ficar presa, que ama desafios e nunca vai se contentar com uma vida parada, convencional demais. Alguns astrólogos comentam que muitos de nós, nos próximos dois anos, teremos uma necessidade muito grande de expansão. Muitos de nós poderemos trocar de área de atuação, sentir uma vontade louca de viajar, poderemos fazer alguns sacrifícios para que nossas vontades sejam viáveis. Isso não quer que não tenhamos sentido isso antes, mas agora fica mais clara essa ânsia de sermos melhor do que já fomos. Os astros, todavia, não nos oferecem nada de mão beijada. Se não fizermos a nossa parte estudando, nos inscrevendo em cursos e trabalhando, a faculdade, o curso técnico, a pós-graduação, o mestrado, doutorado, aquela viagem internacional tão sonhada não chegarão até nós.
Nesses dois últimos anos eu senti bastante o significado profundo desse trânsito astrológico em Escorpião, meu signo solar. Escorpião é regido por Marte na astrologia tradicional e Plutão para os estudiosos modernos. Plutão é o planeta que representa a morte e o renascimento, a Fênix que ressurge das cinzas. Muitas pessoas que me conhecem comentam que sou a Fênix. Caí, muitos pensaram que era o meu fim, eu também pensei. Minha força subestimei. Não é surpreendente vindo de mim, cheguei a passar por ridícula mendigando atenção, levando invertidas, lições de moral, desprezando a força que tinha, que o momento era de recolhimento, não de ostentação. No início foi bem difícil ver todas as feridas se abrindo, aquela dor latejando, uma dor que não era visível, aquele desânimo que muitos acusaram de ser preguiça, corpo mole, aquele desinteresse por tudo ou quase tudo.
Tinha tanta coisa de que eu diria jamais me desfazer, a exemplo de cartas antigas, agendas do passado, peças de roupas, calçados. No meio desse ano me desfiz de tudo naturalmente, sem nenhuma pressão exterior. Houve muitos dias que desejei não acordar para não ter de suportar o peso dos meus olhos indicando o inchaço provocado pelas lágrimas que iam muito além de explicar o porquê.
Saturno em Escorpião representa o fechamento de ciclos, algumas rupturas que podem ser bem dolorosas, a exemplo do que sentimos quando percebemos não ter mais nada em comum com determinadas pessoas, quando nos sentimos presos a um emprego que não nos valoriza e decidimos recomeçar tudo, quando nos sentimos deslocados, como se não fizéssemos parte de nada e essa transformação também é nítida no mundo, aquela insatisfação coletiva que levou muitos às ruas no ano passado. Fala-se de desapego. Não é fácil. A reprogramação mental entrou de surpresa para mim, aquela pessoa metódica e acostumada a cultivar determinados pensamentos e hábitos sem me perguntar se eles faziam sentido para mim.
Definitivamente, não. Se fizeram, foi há muito tempo. Não mais.
Rompemos nosso elo estreito com o cordão umbilical, quando saímos do conforto do ventre materno para "viver no mundo". Choramos, sentimos medo da claridade, do escuro, reagimos por instinto, aprendendo aos pouquinho a sobreviver aqui até que nossa parada no trem da vida ocorra numa estação qualquer. Esse medo que senti e ainda sinto é natural à essência humana. Se eu não tivesse dúvidas, inventaria alguma. Ter um motivo para lutar, uma causa para ganhar, um lugar para chegar. Se isso fará sentido no ano que vem, não ouso garantir, mas se fizer um pouquinho agora, já me convenço de que vale a pena. O hoje sempre vale, por mais chato que esteja sendo o dia. É um a mais. Para muitos a história se encerrou hoje, no entanto dizem que a dor maior da partida é para os que ficam.
Não nego minha natureza marciana, um pouco agressiva, ansiosa, também persistente, perseverante, intensa. 2015, segundo a astrologia tradicional, será regido pelo planeta Marte. Alguns astrólogos bradam que será um bom ano para quem quer viver uma grande história de amor, no entanto não adianta nada esperar o príncipe ou a princesa encantados caírem do céu, não devemos delegar jamais nossa "salvação" para alguém, não devemos viver em compasso de espera, dependendo de uma pessoa para sermos plenos, nem achar que a vida se resume a um conto de fadas, a crer que somente com um relacionamento tudo fará sentido. É a rota mais certa para a frustração e as decepções que podem servir para criar uma certa antipatia pela astrologia, pelos relacionamentos.
Sim, é claro que eu desejo viver uma linda história de amor, mas a primeira por regra será de mim comigo mesma. Não quero ser a Cinderela nem esperar caber em um sapatinho ou ter que mudar quem sou para agradar a alguém. Não quero esperar 100 anos por um beijo nem ser envenenada com uma maçã. Quero que o destino escreva linhas as quais eu me encaixe e goste do que leio, dos versos que sopram ao vento e cantam em meus lábios.
Não entenda o trânsito dos planetas como uma previsão 100% confirmada, porque isso não existe, nem a previsão do tempo é isenta de erros. Não culpe Marte ou Plutão pelos seus desacertos ou desafetos, aproveite os momentos de silêncio para mergulhar em si mesmo no caso de as coisas não estarem tão bacanas assim, a fim de refletir se você vive em ciclos que constantemente se repetem. Dizem que quando isso acontece é porque ainda persistimos numa estratégia ou num hábito nocivo.
Você namora porque realmente gosta de dividir sua vida com alguém, você ama esse alguém ou está em um relacionamento sucateado por medo de romper, de ficar sozinho (a), porque acha que não pode conseguir algo melhor?
Você tem amizades com pessoas que acabam por sugar suas energias de diferentes maneiras? Pergunte-se por que você se alimenta dessas relações vampirescas, se vale a pena chamar qualquer um de amigo.
Você gosta da sua profissão? Trabalha na sua área e se sente útil, recompensado, satisfeito ou trabalha apenas pela subsistência?
Se você tiver mais perguntas do que respostas, não se assuste, não se pressione a querer saber de tudo, ninguém de nós saberá metade, apesar de compartilharmos ensinamentos. Eu ainda estou me perguntando se essas indagações todas me servem. Escreverei para não me perder de vista, não porque queira impor meus pensamentos aos demais. A distração também é o meu sustento, desde que as filosofias não me enlouqueçam. Leia seu signo no jornal se quiser, mas antes de delegar toda a sua sorte a três linhas de uma coluna, acredite que a sua fé pode mais que um prognóstico.
Eu deveria temer o amor, tenho Plutão na Casa 8 Natal, que atrai vampiros emocionais, relacionamentos destrutivos e pessoas malucas, porém se eu confiar nessa afirmação aí sim é que vou me confundir, me odiar, me achar o problema, evitar conhecer todo mundo considerando o perigo, que a qualquer momento posso (re) viver o inferno de três anos atrás, contudo acredito que existe algo maior que um trânsito inalterável, a esperança e essa não está escrita em nenhum mapa, está no meu respirar, naquilo que nem sempre vejo ou ouço, mas sustenta cada um dos meus passos. O que eu passei já não posso apagar, apenas aceitar como uma lição de vida, algo que aconteceu para me fazer mulher, não cinza.
Alternando em alegrias e tristezas eternas, eis o verso que ainda não há de ser o último e nem tem a pretensão de ser o correto. Eis que pela primeira vez vê-se em meus olhos uma atípica expressão que não sei decifrar se é alegria ou alívio, tudo o que sei é que não sou quem era no ano passado nem há dois anos ou há quatro. Sinto falta de cada fase, cada pedaço de mim, mas no passado, por melhor que possa ter sido, eu nunca mais quero estar. Do presente que amanhã será passado, o que segue comigo é tudo que me faz crescer, aqueles suspiros que fazem a alma delirar, os gestos que tocaram o meu coração onde eu nem pensava ser sensível. Eis o estalo de que estar aqui, por mais irônico que seja, é o bastante, ainda que amanhã eu venha a discordar.

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