A solicitação de amizade ignorada


Havia uma nova solicitação de amizade no Facebook, cliquei para ver e tive um sobressalto ao reconhecer a sua fotinho de sempre. Você pode ter me visto na fila do cinema, na praça de alimentação ou algum lugar que ambos frequentamos, porém, por motivos que não vêm ao caso, não teve coragem de se aproximar, apelando para o recurso carta na mão dos tímidos.

Há anos não nos conversamos. Nunca chegamos sequer a terminar o que quer que tivéssemos, os ruídos de comunicação geraram em nós algumas mágoas que inevitavelmente continuam muito vívidas. 

Tentei chamar a sua atenção e pesei a mão na amargura, indo contra a imagem que você tinha de mim, mas pessoas machucadas machucam as outras e é tudo que posso preferir no que concerne à defesa. Nada mais, nada além de desculpas. Nem te culpo se você estiver se sentindo um trouxa porque nem sequer tive a decência de responder à sua solicitação, não tenho bons argumentos e reconheço a inabilidade de dar um passo à frente e empurrar o orgulho para escanteio.

Posso não transparecer, pelo menos não o tempo inteiro, contudo, a verdade é que não há um dia em que não deseje voltar no tempo. Evitar o trágico desdobramento de um mal-entendido, dar tempo ao tempo e pensar muito antes de agir impulsivamente. Só me interessava ter você por perto e um saber que poderia contar com o outro, nem que fosse para dizer uma palavra amiga. 

Não costumo dar moral para ninguém, não sou o tipo que acredita em qualquer conversinha fiada, não uso pessoas para manter o ego lá nas alturas. Descarto esses “amores” que acabam engaiolados ou numa ejaculação, não estou numa corrida louca e desesperada por alguém que coloque uma aliança no meu dedo. O amor saberá o momento de me aproximar de uma pessoa especial porque, se a demora for por uma boa causa, por que não aprender a ser mais paciente?

Você já teve o coração partido outras vezes, é admirável que siga tentando e amando; não tem outro jeito de saber senão aprendendo. Clamo para continuar acreditando no amor, no melhor das pessoas. Sua sensibilidade é tocante, ela existe e está em tudo que você faz. Que quem segura sua mão saiba carregar consigo o que você tem de mais valioso, sendo o seu coração. Se você estiver feliz e realizado, amando e sendo amado, conquistando o que sempre almejou, estarei realizada.

Talvez um dia você descubra que os boatos inventados sobre mim não passavam de mentiras presunçosas de pessoas que nunca me quiseram bem, que no lugar de sentir raiva e tomar dores imaginárias, teria sido muito mais vantajoso tomar conhecimento da minha versão dos fatos. 

Gentilmente eu poderia explicar que não foi nada fácil saber que você se deixou levar por uma futilidade de quem só queria ficar com você por pura ostentação, para te fazer mais um troféu dentre os tantos que ela possui na estante para massagear o ego pretensioso de quem há muito se esqueceu da modéstia.

Não peço para sentir “pena” de mim, só tente imaginar como seria se os papéis estivessem invertidos e você descobrisse da pior forma possível que uma pessoa que se dizia amiga conseguiria conspirar contra você. Passei tantos anos crente que você não julgava as mulheres pelas aparências que não posso disfarçar o desgosto, os outros ao menos eram transparentes.

Aceitar a sua solicitação possui essas duas perspectivas difíceis de serem ignoradas. Uma parte de mim quer perdoar tudo e colocar uma pedra em cima do assunto, outra ainda sofre com essa sensação de derrota, humilhação e traição, logo, estar conectada a você de novo implica aprender a lidar com sentimentos quais não são mais tão recentes e ainda provocam desconforto. Seguramos um copo de cristal por muito tempo, deixamos cair no chão e nos perdemos entre os tantos cacos que não pudemos mais consertar o que se quebrou. 

Decorrente deste ponto final jamais dado, o abismo entre verdade e fantasia continua alimentando versões intermináveis dessa história. O inacabado anda de mãos dadas com a agonia, tal como você e ela no shopping, feito dois adolescentes do ensino médio. Gostava mais da imagem daquele garoto que chamava a atenção de todos por não querer chamar.

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