Eu não escolhi te amar

 


Eu não escolhi te amar. Poderia nunca acontecer, ser apenas mais um olhar banal, um dia qualquer perdido no calendário que vai sem dar tanta importância ao meu fôlego de não perder jamais a rota.

Eu escolheria ver o que teria acontecido se eu não tivesse te conhecido naquela noite.

Em outra ocasião seríamos coagidos a nos encontrarmos?

Se eu tivesse te visto tempos depois, o impacto seria o mesmo?

Destino ou coincidência, seja lá o que for, nem me atrevo a cavar fundo.

Eu escolheria não gostar de você se isso fizesse minha vida ser mais “fácil”, com bem menos dor, menos esperas, menos ansiedade. Se eu conseguisse te tirar do meu coração sem sangrar.

Eu escolheria não gostar de você no Dia dos Namorados, no Natal, na virada de ano, para não fingir que estou feliz sem poder te dizer tudo que tenho vontade.

Escolheria viver sem sentir saudades, sem um nome no meu coração.

Escolheria ser amiga da intuição e não procurar saber se nossos signos combinam, nunca mais te rimar com poesia alguma.

Os versos nunca me abandonam, estão sempre dispostos a me colocar em sérias contradições, a transformar em arte as palavras jamais proferidas, a ser uma beleza escondida num caderno qualquer, num blog com imagens coloridas e frases inspiradoras.

Escolheria ser criança de novo para fazer as pazes com o tempo e não imaginar quão estranho é me conformar que não deixarei frutos para confirmar meu legado.

Escolheria subir em árvores para colher frutas, correr pelos jardins a soltar bolhas e ter a imaginação me fazendo vislumbrar cenários que os próprios escritores de fantasia invejariam. Meus joelhos ralados agradeceriam a oportunidade porque um coração partido não para de bater, continua ali me infernizando, me envenenando, enquanto os anos correm e eu vou deixando de existir na história de alguém.

Eu escolheria ser qualquer outra pessoa que não precisasse calar os próprios sentimentos para não ser rejeitada ou porque as possibilidades voltam o gatilho para a minha testa. A qualquer momento meu sonho pode acabar.

Eu escolheria, sem dúvida, que meus lábios juntos aos seus fossem a história. E isso não pode ser.

Alimentar chances para o improvável e não desocupar os cômodos, abrir as janelas, deixar o vento circular e bagunçar as folhas, o meu cabelo, não tanto quanto se encontra o meu coração, inóspito ao bom alvo do cupido, daquele sem noção que acertou a flecha em você que não olhou para trás, não viu que eu estava aqui. Eu também não vi, apenas senti a entonação daquele momento em que me peguei pensando em você no meio da noite, virando de um canto a outro, esperando o outro dia chegar para poder raciocinar com mais calma.

Eu não estava nervosa, como poderia?

Era uma sensação de plenitude que me surpreendeu. Tudo que eu conhecia ficou para trás, todas aquelas teorias, tudo que me prendesse a algum ciclo não benéfico.

Eu escolheria um atalho menos trabalhoso até a felicidade, embora não signifique ausência de problemas, tristeza. Haveria algo com o que implicar, alguma luta para encarar, algum novo objetivo que me tiraria da cama todas as manhãs.

Escolheria não desejar te abraçar quando a vontade de chorar aperta, não pensar no seu nome, não escutar aquelas músicas que me lembram de você, centímetro por centímetro. Enganar as borboletas no estômago, ser indiferente ao brilho do seu olhar, sonhar com um futuro que não existe, não está prometido, nunca foi...

Escolheria apagar os sorrisos que você sem saber já me roubou, rasgar as cartas que te escrevi dia desses porque queria falar o que ninguém mais pode saber.

By Mary ♥

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