Antes, eu era a garota que respirava poesias de amor, que preenchia agendas, cadernos e mesmo o computador com as cores, as cores vibrantes de quem respira esperança de um dia não mais caminhar sozinha, mas de mãos dadas com um amor puro e calmo.
Essa era eu... Muitos anos atrás... Talvez não tantos, mas, quando rememorados, parecem miragens que pairam e dão a sensação de haver uma ponte quebrada a separar essa menina esperançosa e sonhadora de quem me tornei.
Já não sou mais aquela garotinha boba do coração partido, chovendo por dentro, sugada pela indiferença, incapaz de aceitar a realidade viva diante dos meus olhos.
Eu era a gota de chuva a escorrer pelo vidro da janela, a nublar todas as perspectivas de futuro. O esquecido murmúrio. O cristal quebrado em milhares de pedaços, pequenos demais para serem remendados.
A chuva parou, contudo, onde havia um coração, mesmo partido, o que existe agora é um buraco escuro e oco que desempenha as mesmas funções. A inocência se foi e, não importa quanto poder, fama e dinheiro tenha, nada disso devolve a ternura da menina, a confiança, a pureza arrancada.
Sou agora um coração duro, uma alma desconfiada, a poesia contida, aquela que quando se olha no espelho só se reconhece pelo nome porque tenta, ainda, encontrar algum indício de que é o que é ou do que já foi.
Reescrever aquilo que poderia ter evitado que eu me transformasse na indiferença cinzenta é algo que jamais terei autoridade e permissão para fazer, me restando então deixar que a chuva caia e leve embora todo o rescaldo dessa muralha inútil que me impede de caminhar na direção do sol.
Sou a solidão que escolhi sentir para me proteger de outra cilada disfarçada de ilusão.
E, não, não sou mais uma menina, sou uma mulher.
Sou uma mulher.
Uma mulher que caminha (ainda) sozinha em direção ao sol, mas ainda tentando buscar algo que perdeu, porque no fim das contas, a vida tirou de mim o que eu mais queria de volta, tirou outras coisas mais, tirou, quem sabe, minha espontaneidade também.
Meu comportamento se tornou mais comedido, então muitos pensam que sou antipática, fria e insensível.
Às vezes, tenho medo de ter me transformado numa cópia fidedigna de quem me quebrou o coração, mas dizem não ser verdade, que as cores vivem em mim, contudo, ninguém no mundo pode fazer a chuva parar.
Ninguém pode.
Ninguém possui o poder de me fazer voltar ao exato instante em que fiz a pior escolha da minha vida e paguei o preço por ela, logo, não me resta nada senão aceitar meu destino e recolher o que sobrou do meu coração, esperando que alguém consiga amar um coração destruído.
Talvez só um coração destruído possa amar outro coração destruído.
Curitiba, 11 de setembro de 2018
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