Os amigos que fiz ao longo da minha existência são os parentes que a vida me deu


Antes de conhecer o amor, lutei para sobreviver em um mar revolto de desamor, desviando das mãos que queriam enfiar a minha cabeça dentro da água — e era muitas, de todos os tipos e tamanhos ; mergulhei tantas vezes sem saber para onde iria, contrariando o medo, o desespero, a solidão e a escuridão.

Estive bem próxima do fim tantas vezes e em algumas delas só pude contar com a minha própria determinação em resistir quando me davam por desacreditada. Em outras circunstâncias despertei em terra firme e mãos acalentadoras seguraram as minhas, ombros solidários me consolaram e a minha presença lhes foi uma bênção, não um fardo. Deram sorrisos a alguém que sempre se sentiu indesejável e desinteressante. Deram-me demonstrações de afeto e ensinaram-me a confiar, confiar um pouco, nem todos me farão mal.
Foram e ainda são eles que reanimam a esperança quando os velhos gatilhos cantam aquelas cantigas amargas e evocam um passado feliz para os que sempre se afinaram com as iniquidades. Eles, os meus amigos, são as estrelas-guias que iluminam os dias mais tortuosos, ensinam com candura e boa vontade que os laços entre corações que se amam são fortalecidos por meio dos suportes adequados: amor, respeito, compreensão, empatia, solicitude e, acima de tudo, comprometimento.
Antes de conhecer o amor, aprendi com o desamor que o primeiro e mais duradouro dos amores começa por mim. Os outros vão sendo acrescentados à medida que amo, que me amo, me amo a ponto de me retirar sem medo de parecer desagradável, sair de cena sempre que caras feias, cochichos maldosos, arremedos e outros tipos de investidas tentarem me subestimar, me desestabilizar.
Meu verdadeiro lar é qualquer lugar onde eu seja bem-vinda e tenha liberdade para ser quem sou sem precisar me diminuir e me explicar. Não aceito e nunca aceitarei menos do que isso. Esses parentes que queriam me afogar são formalidades convencionais da sociedade, não os estimo como tal e não faço a menor questão de ninguém (eles não fizeram questão por primeiro), pois os amigos que fiz ao longo da minha existência são os verdadeiros parentes que a vida me deu.


Curitiba, 3 de setembro de 2023.


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