Em celebração ao Valentine's Day, lembrei-me de um livro lido em 2021, que me marcou muito a ponto de eu escrever meus sentimentos a respeito da leitura. Com vocês, Beleza Perdida, de Amy Harmon, publicado originalmente em 2015. O título já é bastante chamativo, a capa também sugere ao leitor uma primeira impressão importante. Iniciei pensando ser um suspense, mas fui arrebatada por uma história de amor, logo eu, que detesto romances. Se toda regra tem sua exceção, eis o caso.
Guardei essa resenha por anos com medo de ser ridicularizada por uma pessoa específica, mas como neste blog só exaltamos nossos semelhantes, decidi publicá-la porque minha avó, mesmo sem ser leitora, sempre me perguntava dos livros e profetizava coisas boas para mim, não gostaria de me ver paralisada pelo medo.
Além disso, eu já tinha colocado esse livro na minha tbr (do inglês to be read) antes de receber o diagnóstico de vovó e decidi lê-lo um mês depois do falecimento dela. Entre a descoberta do tumor no pâncreas e o falecimento foram quase 40 dias. Já faz 4 anos que ela partiu e às vezes é difícil de acreditar que ela nunca mais irá me ligar no meu aniversário, nem iremos mais a visitar, que a bandeira vermelha impediu uma despedida digna, mas antes que eu chore, vamos ao que interessa.
Comecei Beleza Perdida devagarinho para conhecer bem os personagens centrais, que são Fern, Bailey, Ambrose e Rita. Apesar de ter momentos mais soturnos, esse livro também reacendeu a esperança de um amor incondicional porque essa história de amor foi uma das mais lindas que eu já li e eu me vi muito na Fern.
Ambrose Young é o cara. Lindo, alto, musculoso, lutador de luta-livre, enfim, aquela figura que tem em toda cidade norte-americana, vulgo garoto dos sonhos. Brosey, como é mais conhecido, é um grande campeão. Abandonado pela mãe aos 14 anos, mora com o pai, que, na verdade, não é o pai biológico dele, mas o ama tanto, tanto, mas tanto que acaba por ser, porque o garoto o ama dessa forma.
Enredo
Os atentados de 11 de setembro abalam a todos os estadunidenses e não seria diferente com Ambrose Young. Por ser patriota e acreditar que a nação precisa dele, em pleno último ano de escola, ele se alista ao exército e os melhores amigos dele vão junto para o Iraque um ano depois. Nesse ínterim, acontece um atentado e apenas Ambrose sobrevive, porém, um lado da sua face fica totalmente destruído. Ele volta para casa sentindo-se derrotado, culpado por sobreviver, esquivando-se de contato humano para não ser observado e ouvir comentários desagradáveis.
Ambrose vai trabalhar na padaria do pai e Fern trabalha no Jolley's, um mercadinho, onde por vezes canta no karaokê com o primo Bailey, aproximando-se da ruivinha. Às vezes torci por um hot, dada a química dos dois, mas fiquei só na vontade mesmo.
Ainda na época da escola, Ambrose se envolve com Rita, amiga de Fern, e a garota pede a ajuda de Fern para escrever cartas bonitas para o garoto e ela coloca nestas todo o seu amor. A verdade é que Ambrose também se envolve muito e então descobre que não era Rita quem escrevia as cartas, mas… Fern.
Rita é a melhor amiga de Fern e chama atenção pela beleza padrãozinho, que lhe parece abrir muitas portas, mas essa mesma beleza exterior não a salvou de entrar numa grande enrascada. Por outro lado, Fern nunca teve grandes expectativas por ser constantemente comparada com a outra menina e ouvir que não era bonita, mesmo tendo outros atributos muito mais interessantes. Ela curtia aqueles livros com homens sem camisa desde os treze anos e devorou muitas dessas histórias antes de entrar no ensino médio e também escrevia seus próprios romances, onde Ambrose era sua inspiração para os personagens masculinos.
Impressões
A história de amor entre Fern e Ambrose é tecida com tanta delicadeza que em nenhum momento é forçada. A narrativa em terceira pessoa foi uma escolha acertada por mostrar as perspectivas e motivações dos personagens, contribuindo para cada leitor tirar as próprias conclusões. O recurso do flashback, datado, em itálico, sempre está correlato ao conteúdo do capítulo, não destoa do contexto, muito pelo contrário, ajuda na compreensão e na imersão.
Fern e Ambrose são um casal lindo, por dentro e por fora. ♥
Bailey Sheen sempre irá morar em meu coração. Ele é um herói que mesmo diante das limitações impostas pela Distrofia de Duchenne, nunca deixou de amar e valorizar a vida. Ocasionalmente se permitia “chafundar na merda”, uma forma de lidar com a inevitável degradação, mas não ficava muito tempo em amarguras. Para quem peitava as expectativas, cada dia era um presente dos céus. Sentimo-nos triste por não termos aquilo que gostaríamos de ter ou pensamos ter, ou ser, tudo bem. Bailey sempre terá um espaço no meu coração, lembrado pela enorme generosidade, pela escolha de passar pela vida das pessoas e deixar nelas uma lembrança boa, pois a maioria das limitações começa dentro de nossas próprias mentes.
Se fiquei preocupada com o que seria de Fern sem Bailey? Muito, pois a Fern não tinha muitos amigos, ela e o Bailey eram primos quase irmãos, e eles sempre estavam juntos, imaginei que a perda dele seria devastadora, tal como foi, mas fiquei mais feliz de saber que o Ambrose estava lá para ampará-la. Fern, eu não lia romances havia anos e abri uma exceção. Ao ler sua história de amor com o Ambrose eu me emocionei, torci para você se reconhecer a mulher linda que sempre foi, linda por dentro e por fora. Torci para o Ambrose não ser babaca e não te magoar, para vocês ficarem juntos e senti esperança, senti a esperança que havia muito tempo que uma leitura não me despertava.
Quantas de nós já não fomos Ferns nessa vida? Não tivemos a nossa fase de patinho-feio? Quantas de nós já não amaram alguém em segredo? Quantos de nós já não carregamos o peso da culpa, tal como o Brosey? Quantos de nós já não nos deparamos com uma condição adversa e além dos nossos limites?
“Em meio às sombras da dor e da perda, a beleza do amor incondicional e da esperança floresce, provando que até os corações mais feridos podem encontrar redenção.”
Ao concluir a leitura, pensei que entraria numa ressaca literária incurável, pois quando gosto muito de um livro, vivo um dilema: quero continuar lendo e, ao mesmo tempo, não quero que acabe.
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