28 primaveras

 

A tempestade ainda não acabou, mas lá de longe posso ver o sol escondido atrás dessas nuvens de chumbo. Sobrevivi à “maldição dos 27” e aguardo o retorno de Saturno. Nunca serei como antes, já não é mais possível, aquela ponte de outrora virou um amontoado de cinzas, das cinzas do meu antigo mundinho, que hoje tanto me faz falta, porém os ponteiros do relógio só andam para frente.
Hoje está sendo um dia de muita reflexão, ouso dizer “alegria” também porque celebrei meu aniversário ao lado das pessoas amadas e fui lembrada por tantas outras, por quem tenho sincera estima. Espero poder retribuir ao carinho e apoio, questiono-me se sou merecedora deles.
Posso almejar um pouquinho de introspecção quando sinto necessidade de recarregar as energias, colocar-me para balanço. Preciso ouvir os ditames do silêncio, os ruídos à minha volta me desconectam da essência. As pausas são importantes integrantes da composição que se chama Mary.
Cometi grandes erros, pisei em falso, despenquei numa espiral, atirada na escuridão. Chorei mais de mil lágrimas pelos sonhos arrasados, no entanto, sobreviver em meio aos escombros levou embora aquela inocência boa, o mundo não é tão legal assim; de repente, tudo que parecia tão certo e seguro deixa de ser, às vezes o que chamamos de “amor” pode nos machucar de tal forma que desacreditamos dele.
Tem tantos conselhos que gostaria de dar ao meu eu de três anos atrás, tantas escolhas ruins poderiam ser evitadas, mas o arrependimento não tem nenhuma dívida comigo. Às vezes, o perdão mais difícil de liberar é o autoperdão, mal espero o momento de me libertar dessa angústia que ainda faz chover dentro de mim.
Já é tempo de superar. O mundo não parou nem parará porque meu coração continua partido. Temo cair novamente, perder-me, cometer os erros passados, mas é sabido haver algum motivo que não me permite sucumbir aos pensamentos intrusivos. Se o amor, aquele amor que eu confiava existir (não uma pessoa) me salvará. Logo eu, tão entusiasta dos finais felizes, vejo-me nessa encruzilhada responsável por desfazer os sentidos e confundir a razão.
Sensibilidade não me falta, minha poesia toda contaminada por essa gosma fétida chamada raiva. Certas palavras ficaram engasgadas no alto da garganta e, não, por enquanto o tempo não me fortaleceu. Não estou emanando palavras de superação e empoderamento, nem sei se algum dia disporei de entusiasmo para tamanho proselitismo. Quem sabe no próximo ano, daqui a cinco ou dez anos, se eu sobreviver…
Essa parte de mim que resiste — por obrigação ou orgulho — me inspira a redigir estas sinceras considerações porque o contato com as palavras me recorda que embora minha escrita não seja comercial e atraente às grandes editoras, ainda serve para autoexpressão, para o desejo de me conectar com aqueles que se sentem um pouquinho como eu. Se algo bom das adversidades possa ser extraído, será ótimo compartilhar com os que precisam de uma palavra amiga, de um abraço e não de insultos, julgamentos e santimônias.
Feliz aniversário para mim!

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