Cada um de nós encontra no infinito o ponto de partida

Como uma amiga blogueira disse quando tudo na internet ainda era mato, blog é coisa séria
Aqui não ficamos de vitimismo, não queremos atenção a qualquer custo, não temos interesse em caluniar e difamar desafetos, temos conteúdo, não esterco a oferecer, não invejamos, admiramos e nos inspiramos, aqui agimos para fazer tudo acontecer. Não buscamos culpados, pensamos em soluções, não nos baseamos em achismos, temos instrução.
Aqui só tem amor, beleza, carinho, esperança e honestidade, integridade, valores que anúncios não pagam. Aliás, tem gente trabalhadora, de caráter e fibra, que não precisa pedir Pix para nada porque estuda e trabalha, que acorda bem cedinho e só tem um interesse: vencer na vida sem puxar o tapete de ninguém.


O dia na escola estava distante de ser dos melhores, mas havia uma motivação para suportá-lo: feriado prolongado à vista.
A atribuição de tween lhe cabia bem porque vivia uma fase em que não era criança nem adolescente, razão pela qual não podia assistir televisão na sala depois de certa hora, queria ver o Doug, na Nickelodeon, mas os pais lhe mandaram para a cama. Tal qual em outras noites, o sono não vinha, não seria nada mal distrair a mente com algo mais produtivo que pensamentos ruins e medos gigantes demais para um corpinho ainda tão frágil suportar.
Aquelas ideias já a rodeavam havia alguns dias, considerava dar uma nova chance à escrita, na verdade, pensar noutra história, pois aquela escrita e mais repleta de reviravoltas que a mais dramática das novelas mexicanas não dizia nada ao seu coração. Gostaria de melhorar, mas não havia outro caminho senão mergulhar de cabeça em sua imaginação. Caneta preta em mãos, uma folha de fichário do Mickey com as bordas verdes, assim começou a história, a versão pública de um sonho que começou tão pequenininho, tão tímido, tão despretensioso.
Número 35 da chamada nominal, sentava-se na primeira carteira da fileira do canto que dava para a janela, entretanto, nunca seria "uma delas". Os fracassados esforços para encontrar um grupo de boas amigas (ou uma amiga que fosse) apenas trouxe dissabores, implantavam calúnias, zombavam dela, descontavam as próprias frustrações em quem ainda desconhecia a fundamentação de todos aqueles ataques de ódio, os próprios direitos, no entanto, a resiliência desabrochava a cada dia sobrevivido, tratando de tomar conta da mulher que seria dentro de alguns anos.
Poderia não passar de uma folha aleatória, com algumas anotações um pouco tortas porque escrever com a luz do quarto apagada era um bocadinho complicado, mas a vontade sobrepujou os obstáculos, a maioria deles de dentro da própria mente, condicionada a rejeitar tudo que vinha de si. Se no último ano nunca tinha os textos elogiados pelo professor e passava longe de tirar notas altas, acessava finalmente algo que poderia utilizar como bote salva-vidas ao longo das inúmeras tempestades que enfrentaria (e ainda enfrenta) ao longo da vida. 
Sem tirar o mérito do docente, longe disso, lá apenas não era o lugar onde sua estrela brilharia. Porque ela já reluzia feito um vagalume, o que incomodava aquelas garotas competitivas e pretensiosas. Silenciá-la e oprimi-la eram alguns dos artifícios largamente utilizados para mantê-la aprisionada ao medo. Tais métodos foram eficazes por um tempo, mas à medida que ela passou a dividir seus sonhos com o papel e dar vida aos personagens daquela novela, passou a enxergar aquele caminho que outrora não passava de utopia, via a imensidão da estrada e ousou sonhar alto. 
Se Deus não lhe concedeu asas para voar, compensou-lhe com a habilidade de construi-las com a própria imaginação. A única advertência viria depois de um bom tempo: as palavras inspiram cautela e faz-se necessário ter ponderação para que os instrumentos cumpram o proposto.
Escritoras moravam nas orelhas dos livros, eram aquelas senhoras que assinavam a autoria das histórias que tanto gostava de ler. No início daquela madrugada não lhe ocorreu que poderia ser uma, que naquele momento o texto perfeito - fosse ele um simplório rascunho ou a primeira versão de um clássico - era aquele que se manifestava por intermédio da caneta. 
Vinte anos e muitas versões depois, o sonho se refaz dos tantos golpes duros do destino para contagiar a realidade e ajudá-la a enxergar as cores que fazem da vida uma inesquecível viagem e se descer em certa estação sintetiza o parágrafo final, nada resta senão desfrutar dessa oportunidade fazendo da arte a expressão mais genuína dessa experiência tão paradoxal e enigmática na qual cada um de nós encontra no infinito o ponto de partida.
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