Pela primeira vez na vida, não houve flores na primavera. Foi um fenômeno estranho. O inverno se estendeu por tanto tempo que já é verão e nem parece.
Meu coração está perdido, ninguém sequer sabe onde você está, então não gosto quando me pedem para seguir a vida, eu não sou capaz.
Como pode ser olhar nos olhos de alguém e não passar pela cabeça que pode ser a última vez?
Será que, se eu soubesse, doeria menos?
Quando se ama verdadeiramente, gera-se mais dor tentando evitá-la.
E eu nunca lidei bem com a remota possibilidade de te perder. Parecia que você sempre ia voltar e as primaveras teriam flores, o encanto de uma vida disciplinada.
Nenhum lugar no mundo pode estar mais vazio do que o meu peito.
Como esperar o que pode nunca acontecer?
Como não deixar o tempo apagar o seu desenho da minha memória?
Deixar o resto e manter caladinha aquela silenciosa emoção de um dia muitas coisas terem feito parte da minha realidade?
Talvez seja uma estratégia mais acertada, apenas suponho.
Procurar você em outros rostos não tem nada a ver com “te superar”. Não é ficando com outro que vão ocupar o seu lugar.
Ficar totalmente sozinha, apesar de necessário, não é a maneira que desejo viver.
Preciso, porém, desses meses em que as noites são mais longas que os suspiros para utilizar com sabedoria o meu silêncio. Todas as noites, sinto essa dor me estrangular.
Quero me encontrar, a paz que não tenho mais. Quero te encontrar, mesmo sem poder.
Não desejo que a tristeza me transforme num monstro indiferente.
Não vou encobrir minha dor fingindo que você nunca existiu porque essa solução não tem nada a ver com amadurecimento, é apenas uma mentira que eu contaria a mim mesma para continuar escondendo as lágrimas.
Se as lágrimas fossem capazes de me fazer voltar no tempo…
Bem, juro que tentaria aproveitar melhor a sua presença, me preocupando menos com frivolidades, teria me divertido mais, sorrido mais.
Eu era feliz e não sabia.
Reconhecer que fui ingrata quando a vida me dava tudo também não serve de consolo, só me deixa mais infeliz.
Quando arrancam as flores do meu jardim, resta-me desenhá-las com capricho no meu caderno.
Curitiba, 2 de fevereiro de 2016.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Muito obrigada pela visita ao OCDM, espero que você tenha gostado do conteúdo e ele tenha sido útil, agradável, edificante, inspirador. Obrigada por compartilhar comigo o que de mais precioso você poderia me oferecer: seu tempo. Um forte abraço. Volte sempre, pois as páginas deste caderno estão abertas para te receber. ♥