Curitiba, 17 de fevereiro de 2016.
Desfragmentado do sentido.
Reprogramado do objetivo
comum.
Desorientado, apesar dos
acordos previamente assinados.
Descompensado por
excelência.
Um corpo resistente ao frio,
a dor, às desilusões.
Um coração disposto a bater
até não suportar mais os ruídos da sua própria loucura.
Viver é um verbo vazio.
Sem objeto, sem direção, sem
complemento.
Bate, bate, acelera,
desacelera.
A existência prossegue, mas
os frutos da emoção traduzem melhor o olhar descontente que forja um sorriso e
até domina a situação.
Se felicidade estivesse à
venda ou pelo menos pudesse ser baixada pela internet. Não tem nada a ver com
prazeres efêmeros, seria o equivalente a encontrar um portal para voltar à
infância e fazer as pazes com os dias de sol.
Metáforas disputaram
ferrenhamente uma vaga para definirem ainda que simbolicamente o que se passa,
porque na prática uma simples explicação não sacia.
O vazio carece de alimento,
mas retroalimenta a dúvida.
A incompreensão é apenas início, o ponto em destaque de uma reta
apagada pelo próprio infinito.
A raiva enrijece a
expressão, tem sido a minha resposta a tudo e todos.
Não excede em mais do que
cansaço, um desapontamento crônico frente a falta de esperança.
O ser desprovido de motivos.
A incerteza do futuro.
A angústia de ser uma
mentira, de tudo ao redor ser também.
As relações, os deleites, as
expectativas.
Nada parece ser real.
Não haja dúvidas de que eu
me sinta realmente sem rumo.
As peças não se encaixam.
Nessa partida sádica, alguém
gritou "xeque-mate" antes que eu pudesse entender o que estava
acontecendo.
Pode ser que o mundo
continue girando no mesmo ritmo de sempre, mas que eu esteja devagar, porém
tenho a impressão de que quanto mais tento me situar, mais e mais me
afasto do eixo, vou perdendo o pouco que restava de mim.
O pouco que hoje
significa muito.
Um pouco de alegria hoje
seria uma velha amiga vindo comer bolo ao meu lado.
Um pouco de sorte onde há
somente desgosto vale um dia de sol.
Tudo que eu tinha de bom a
rejeição matou e quem me tratou como se eu fosse de brinquedo anda por aí como
se não se importasse, decerto não teme a colheita.
A vida segue em frente,
mesmo que eu não siga, que o caminho por baixo dos meus pés tenha sido apagado,
que apesar de ter um arquivo extenso do meu passado, não saiba ser quem fui,
não consiga mais encarnar aquele personagem, nem tentar resgatar ainda que
simbolicamente aquele riso de menina que eu costumava dividir com as paredes,
com as pessoas, com o mundo sem muros.
Tenho discutido o amor. Leio
o que escrevo sobre ele e procuro dentro dessa criatura repulsiva de hoje um
punhado daquela jovem romântica e cheia de sonhos que um dia eu fui.
As manhãs cinzentas
reacendem o que deve ser esquecido.
Não é tão cedo, ainda resta
um pouco de luz, não o bastante para me convencer de que o sol voltou, mas uma
dose razoável para não perder o hábito de localizar as estações.
Contabilizo o passar dos
dias de modo mecânico, sem entusiasmo.
Sou indiferente, não por
vontade, e sim por obrigação.
Simplesmente existindo,
temendo.
Simplesmente deixando que as
coisas percam o sentido, é realmente mais fácil do que lutar contra os fatos
que já se concretizaram.
Essa metáfora me serve
demais: meu coração está quebrado, em mil pedaços partido, desmantelado.
Um coração refeito, mas
destruído.
Ele bate, é verdade.
Mas não vive.
Um coração cheio de raiva e
sem amor está fadado a morrer de dor mais cedo ou mais tarde.
Morrer de alívio num
instante.
Para fugir dos ruídos de um
mundo cão, buscar o alívio que o tédio mandou para os ares.
Rabiscar versos mórbidos
amortece o impacto ausente de rimas.
Verbo vazio não rima.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Muito obrigada pela visita ao OCDM, espero que você tenha gostado do conteúdo e ele tenha sido útil, agradável, edificante, inspirador. Obrigada por compartilhar comigo o que de mais precioso você poderia me oferecer: seu tempo. Um forte abraço. Volte sempre, pois as páginas deste caderno estão abertas para te receber. ♥