Hoje foi um dia bastante importante… apesar do lockdown, das tantas notícias ruins que nos acostumamos a ver neste último atribulado e estranho ano, a vacina surge como um feixe de esperança para iluminar os dias sombrios nos quais renunciamos a nossas antigas vidas e estamos diante de um caminho cujos rumos ainda são desconhecidos.
Meu pai foi tomar a primeira dose da vacina, não o exporei porque não tenho permissão, mas minha irmã, sabendo o quanto amo tirar fotografias da natureza porque contemplá-la é uma forma de amar a Deus, me enviou estas fotos que sintetizam o hoje e a esperança de que em nossas vidas, quando o pior passar, nós possamos festejar num dia quente e lindo como esse.
O dia da vacina
Ilusões destruídas
Uma vida promissora corre o
risco de passar em vão se não houver um entendimento lúcido acerca do passado.
Muralhas não encobrirão tardios arrependimentos, castelos erguidos com areia
padecerão na primeira ventania.
Murmúrios prolongam as
noites escuras, reflexões auxiliam no processo de cura e perdão, permitem um
contato íntimo com a realidade, favorecendo o amadurecimento, indicando o
caminho a se seguir, que nunca é para trás, porque as lembranças mais doces e
queridas estão guardadas num precioso baú para serem acessadas sempre que
necessário, as desagradáveis são cicatrizes, algumas bem intensas, outras
invisíveis, outras perceptíveis quando se olha de muito perto.
Algumas feridas não cicatrizam
tão depressa, maltratam a alma até ensinarem que o atalho mais breve para o
sofrimento é o desejo incansável de estar no controle de tudo... por puro medo. O fardo não seria tão
pesado se houvesse um lampejo de consciência a indicar que o conceito da
felicidade pode variar, mas uma certeza se tem nessa infinidade de cogitações:
permanecer com a cabeça no passado é desperdiçar a chance de transformar o
presente — por mais difíceis que sejam as tribulações — numa memória aprazível.
Ela levou muitos anos até
dar-se conta de que nunca estava deveras sintonizada ao presente, buscava o que
não mais tinha — ou nunca teve, um passado utópico, inventado, a recriação de
uma lembrança, portanto, nada a preenchia porque a miragem para a qual olhava
refletia os anseios quase irracionais de alguém que tinha medo de crescer e
desprender as mãos suadas do barbante grudento, soltando o balão para ele
seguir o ritmo do vento.
O discernimento cobrou um
valor exorbitante por uma conclusão que poderia ter se dado sem haver a
necessidade de tanto sofrimento. Muitos deles foram criados pela mente dela,
por forçar situações, usar a força para adentrar em festas cuja presença não
era bem-vinda, o sacrifício sem glória de conquistar corações que nunca se
empenharam em averiguar e praticar o significado de reciprocidade.
Ilusões destruídas, esse era o revestimento dos espinhos que machucavam os pés dela durante
a solitária caminhada de volta para casa. Ela amava os sonhos que acalentou,
não a realidade que se mostrou sem máscaras. As sequelas da rejeição são
aquelas feridas que teimam em não cicatrizar nunca, mas servem para lembra-la
do que pode acontecer se insistir num erro.
Quiçá (Quizás)
Um amor diferente de todos os outros, incomparável, porque apesar de o medo de perder infiltrar-se numa mente inquieta demais para deleitar-se com o presente, cada dia trouxe o seu encanto, o seu aprendizado e na contabilidade final, os bons momentos viabilizaram a narrativa desta modesta história. Amor assim ela duvida encontrar de novo no dom da vida.
Alô, outono!
Não será sempre assim
Ela já fez as malas mentalmente um milhão de vezes, contou os trocados que guarda num potinho, pensou em embarcar num ônibus interestadual e descer no último ponto, numa localidade que nem sequer esteja no mapa, qualquer lugarejo onde possa deixar pelo caminho a inglória pecha de filha renegada e recomeçar uma história na qual enfim seja a protagonista e não uma personagem jogada ao acaso, sem função alguma senão ser sombra dos outros.
Impasse
O bem querer servia de bússola para me nortear neste mundo conhecido por levar de mim tudo e todos que amo, suportar reviravoltas desagradáveis e lutar por um recanto para chamar de meu. Um pedacinho de terra, uma conotação, um lugarzinho onde eu esteja segura quando vierem as tempestades, que sirva de abrigo e me traga conforto, que ninguém possa roubar as escrituras.
O vazio desolador de outrora me abraça apertado. Das milhares de indagações sem soluções, uma certeza: uma parte importante de mim morreu naquele dia, enquanto a dura sentença foi proferida. Caí nos braços quentes da negação, aquela amiga doce e incapaz de destruir as esperanças, as lágrimas já eram de tristeza, quentes como a raiva que fervia em meu peito e longas tais quais as noites frias de inverno, a espera.
Escutar o coração partido é o equivalente a olhar as horas em um relógio estragado. Você já foi embora. As olheiras são consequências das noites chorosas. Escrever a essa altura do campeonato deveria ser meu bote salva-vidas, nem que esta carta seja apenas dobrada, colocada dentro de uma garrafa, prometida a navegar pelos oceanos sem nunca chegar ao destino final.
Meu norte agora é a inadequação. O gosto amargo da rebeldia me torna indiferente a tudo. Estou perdida, com o dobro do medo que sentia antes. Das pessoas, desse amanhã tão incerto, de que minha vida não passe de um sonho ruim, quando tudo que eu queria era viver o meu final feliz.
E no que se sustenta o meu viver senão numa longa e interminável espera por um milagre que nunca acontece?
O dilema de relutar é uma constante. Seguir em frente é instintivo, não se chega a lugar nenhum rumando pela contramão porque o mundo do jeitinho que era outrora não passa de areia movediça, entretanto, caminho com as portas do coração bem protegidas contra eventuais invasores que prometam amor que não podem dar, indo além: mostrando-me indisponível para ciladas deselegantes do cupido, cortei relações com ele para sempre.
Outro amor não figura no meu rol de interesses e desejos, ainda que recomeços sejam belos e inevitáveis dentre as tantas certezas fugazes. Ainda é sobremaneira devastador mensurar a ideia de outra pessoa ocupar o seu lugar, mas nada dói mais do que questionar por que você tinha de partir... a conclusão é um golpe duro: não vislumbro dias melhores porque embora seja perigoso caminhar na contramão, aguardo o seu retorno e aí chego ao ponto crucial, em compensação, ninguém está esperando por mim, tampouco lutando pelo meu amor, estou remando sozinha sabe-se lá para onde, sabe-se lá por quê.
Machucada tantas vezes pela vida, a impostora assumiu o protagonismo, incutindo em mim a ideia de não ser merecedora, pois acostumei-me ao papel de figurante e, assim sendo, a postura mais previsível é a de não sentir-me digna de subir ao palco e apresentar o meu número, receosa das vaias, das críticas amargas, nunca segura para olhar nos olhos, nem por cima do ombro, nem para baixo.
A intuição falha, a realidade se desnuda nua e crua, razão pela qual protejo as lembranças, necessito apoiar-me em algo capaz de reacender em meu coração a esperança roubada. Eis que realizo o percurso mais inglório de todas as primaveras sozinha, como sempre fui e sempre serei. Aceitar meu verdadeiro destino é a estratégia mais acertada neste momento.
A revolta coabita com a tristeza. Tudo vai ficar bem. Sim, vai. A rotina tratará dos demais trâmites para ocupar a mente. Tudo vai ficar bem. Não tão cedo, sinto desapontar as expectativas da negação, pois ainda que eu me encaixe nessa nova "normalidade", jamais tornarei a ser quem era outrora e se isso é bom ou ruim, não sei dizer. Não enquanto o objetivo do percurso seja buscar respostas precisas para as milhares de indagações porque estar à deriva e não ter quem me socorra já é o suficiente para entender que não existe ninguém olhando por mim no mundo, talvez nunca tenha existido, nunca irá existir.
A localização é imprecisa. Perdida no mar das notícias ruins, da alienação compulsória, navegando em bravos mares, sobrevivendo às tempestades, aqui estou eu, nesse impasse duradouro para traduzir a essência mais bruta daqueles sentimentos calados com sorrisos convenientes. Se a tentativa falhar, ainda assim não me considerarei perdedora, eu o seria se nem sequer me esforçasse para tentar e me parece que insistir ainda é um verbo pelo qual possuo grande estima, ele é o meu norte, a chama condutora rumo à esperança, essa que me faz dobrar os joelhos e declarar o maior dos atos de resistência para um coração partido: sobreviver.
Memórias invisíveis (2014)
Meu ponto fraco nesse
labirinto mal desenhado. Não te vi em parte alguma porque nunca esteve
presente. Incrementei recordações para não perder de vista os dias, mas era a
mim que não reconhecia, ninguém o fazia porque estavam todos ocupados demais
para se lembrarem que eu estava ali, não por opção, eu simplesmente estava, meu
coração não, porque ele parou de contar o tempo, com a ajuda da saudade.
Fiquei ali até que a
curiosidade pelas estrelas fosse maior que sua desatenção.
Sem grandes aspirações,
tinha muito a fazer. Por mim. Pelos
sonhos que sempre valeram mais do que você. Pela cura que incansavelmente
busquei. Feridas reabertas, persisti num erro amansado pela culpabilização da
autenticidade.
Mais uma vez ouvir mentiras
e brincar de invisível, será que não me cansei?
É insano, mas não.
Cismei de ficar ali, naquela
mesa onde serviria de divã e nutria ódio de mim mesma, programada para ser
problema, tão diferente daquela injeção contundente de otimismo que era sombra.
Sua "saudade"
alimentou o desejo que anteriormente nunca me passou pela cabeça. Você e eu não
passávamos de bons amigos. Estranhos conhecidos. Um na defensiva, o outro
imerso no ceticismo ensurdecedor. Quase me apossei desse desprezo pelo simples,
embora fervendo de dúvidas e pendente entre a crença e a loucura completa.
Todo mundo em alguma altura
da vida deve ter se olhado para o horizonte sem resposta nem bússola, sem nem
saber quem era, apesar de estar com o RG no bolso da calça. Ainda faltam léguas
para vislumbrar o oásis e a impaciência conta pontos contra aqueles que põem a
forçar o ritmo da caminhada. Perdi a conexão com a realidade, fantasiando que
seu distanciamento temperava minha timidez, que sua demonstração de afeto era
torta, porém totalmente sua. Esse arrependimento arrancou a minha paz e trouxe
de brinde a culpa.
Fiquei boba por você,
embriagada pela carência, recolhendo suas migalhas, visualizando um banquete,
sendo que a toalha nem sequer estava estendida e na minha caixa postal não
constou nenhum convite. Sem nunca te chamar, você não podia me ouvir e se
ouviu, fez que não. Chorei várias noites alimentando esse tal de amor sem
dignidade, sem antídoto, sem trégua. Bem mais que justificar meus desatinos
passados, cabia dizer a mim "eu te amo", ao contrário de você, que
como tantos outros prometeu nunca me abandonar e deu as costas. Também dei as
costas para mim. Um erro fatal.
O gosto do veneno ficou lá
no alto da garganta de sequela. Essa irrealidade entre mim e você me custou
tanto. Em troca de carícias e belas palavras, sua fraqueza me fez sangrar.
Equivocada sempre estive, não me acuse. Já desempenhei essa função e não
remediei as imensas agonias, apenas reflito mediante as mazelas da decepção. Não foi a primeira.
Eu nunca precisei de você.
Abro mão dessas memórias invisíveis e pouco aproveitáveis. Eu amava a projeção.
Você, entretanto, eu não sei nem quem é e não movo uma palha para saber. É a
mim que quero conhecer. E eu sei com muito amor que sou bem mais do que tudo de
ruim que aprontaram contra mim, as bobagens que falaram (e ainda falam). Sou o
tempo presente porque viver é um desafio e eu desejo mais que jogar fora meus
dias cultivando um sonho que visava me inserir num mundo que nunca foi meu.
Reconhecer que não é o fim
foi a chave que abriu o temido cadeado e me fez mulher.
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