🎙️ Entre o soul e o adeus sussurrado
Por Mary Luz |Os Cadernos de Marisol
Lançada em 1980 pelo trio soviético radicado nos EUA, Black Russian, a faixa "Leave Me Now" é uma daquelas canções esquecidas pelas rádios mas eternizadas nas entrelinhas de quem viveu a dor do quase amor. Sua base é o soul melódico com toques eletrônicos tímidos, uma estética nostálgica que embala a despedida que nunca se concretiza de vez.
🕶️ Quem foi o Black Russian?
Black Russian foi um grupo soviético-americano de disco/soul que lançou apenas um único álbum em 1980. E, ainda assim, esse disco virou uma verdadeira jóia rara do underground. A formação contava com três integrantes principais:
Natasha Kapustin (vocais, teclados)
Serge Kapustin (vocais, guitarras)
Oleg Khromov (baixo, vocais)
O trio era originário da União Soviética, mas conseguiu emigrar para os Estados Unidos — algo raríssimo e difícil na época, principalmente para artistas que queriam cantar pop ocidental em inglês.
O nome “Black Russian” é um trocadilho com o famoso coquetel, mas também alude à ideia de “ser russo” com influências negras da soul music e do R&B.
🎶 O som deles
O estilo do Black Russian era soul-pop com pegada disco, teclados cintilantes e vocais suaves — uma vibe elegante, noturna, perfeita pra fãs de Imagination, Change, ou Sade mais dançante. O destaque era o inglês impecável da vocalista, coisa rara para grupos do leste europeu da época.
📀 Um disco só… e sumiram
O álbum homônimo "Black Russian" foi lançado em 1980 pela Motown Records, sim, a lendária gravadora de soul americano. A parceria foi considerada ousada na época — afinal, estávamos no auge da Guerra Fria.
Ainda assim, o disco não teve divulgação suficiente e foi engolido pelas transformações do mercado musical dos anos 80, caindo rapidamente no esquecimento… até ser redescoberto anos depois por colecionadores e DJs.
🌒 Deixar ou Ficar?
“Leave me now” é sobre coragem.
Sobre amor limpo, mesmo que doído.
Sobre quem não quer ser deixada aos poucos, com migalhas de afeto.
E também sobre quem escreve, chora e imagina — mesmo que só em pensamento, mesmo que só em sonho — o toque de alguém que talvez nunca venha, mas que ainda assim aquece.
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🌒 Legado
Hoje, o Black Russian é cultuado por quem busca sons esquecidos da era disco. Músicas como “Leave Me Now”, “Love’s Enough” e “Mystified” são consideradas pérolas escondidas, especialmente por capturarem a sofisticação e a melancolia do fim da era disco — quando tudo era glamour, mas os bastidores eram instáveis.
🖤 Primeiros versos: a mentira no ar
> "Shadow of your lie / So I won't see something is wrong"
A letra já começa como uma cortina: uma sombra encobre a verdade. O eu-lírico percebe que há algo errado, mas não é dito abertamente. A mentira aqui não grita — ela paira. E o pior: o outro nem tenta esconder bem. O protagonista apenas finge que não vê. É a dor do fingimento por medo da perda.
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💔 Amor ou teatro?
> "In a bed of cry and passion / Nothing is clear"
Choro e paixão dividem o mesmo espaço. O leito, que deveria ser abrigo, é palco de lágrimas e desejo misturados. Nada está claro. Essa ambiguidade emocional é familiar para quem já implorou por sinceridade em silêncio. É o tipo de relação em que o corpo está, mas a alma já foi.
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🚪 Entre sair e ficar
> "Leave me now... if you're gonna go"
Este é o verso que nomeia a música, e nele está toda a vulnerabilidade: o pedido não é para ficar — é para ir embora de uma vez. Não é rancor, é exaustão. O recado é simples: não prolongue o vazio com promessas que não serão cumpridas.
> "Cause you're just a tease"
Aqui, a acusação: o outro provoca, brinca com sentimentos. Dá migalhas de afeto só pra manter a ilusão. O eu-lírico parece cansado de esperar por um amor que nunca se concretiza.
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🕯️ Últimos ecos: o vazio tem som
> "Knock at the door / Nothing is there"
A mente preenche o que o coração deseja: um som na porta, uma esperança. Mas quando se abre... não há ninguém. É sobre criar cenas na imaginação pra fugir do abandono real. A solidão ecoa como uma batida falsa na porta.
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🌫️ Conclusão: O quase que sufoca
"Leave Me Now" não é um pedido raivoso. É quase um sussurro de quem desistiu de esperar. O eu-lírico ainda sente, mas já não insiste. A canção toca quem já ficou implorando amor em silêncio, quem se anulou pra ser metade de um relacionamento. É um desabafo elegante, de quem escolheu partir emocionalmente antes de ser deixado fisicamente.
Se fosse carta, terminaria com:
“Não me ame por hábito. Me ame inteiro. Ou vá de vez.”
🌒 Legado
Hoje, o Black Russian é cultuado por quem busca sons esquecidos da era disco. Músicas como “Leave Me Now”, “Love’s Enough” e “Mystified” são consideradas pérolas escondidas, especialmente por capturarem a sofisticação e a melancolia do fim da era disco — quando tudo era glamour, mas os bastidores eram instáveis.
Apesar da efêmera vida do grupo, fomos brindados com um grande clássico e é assim que a edição de hoje do Destrinchando a Letra se despede.
📻 Destrinchando a Letra é um quadro fixo dos Cadernos de Marisol. Toda quinta-feira de agosto, um mergulho poético e reflexivo em letras que dizem mais do que parece.
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