— Você parece sempre tão sereno.
— É que o caos, quando dura tempo demais, ensina a disfarçar.
— Então não é paz?
— É exaustão.
Às vezes eu imagino como seria encontrar alguém que não precise que eu me explique. Que apenas ouvisse e entendesse. Não como quem dá conselhos, mas como quem oferece silêncio com presença.
Queria saber se há por aí outras pessoas que já confiaram demais. Que já se doaram até o último afeto e foram deixadas com as mãos vazias. Que sentem que envelheceram dez anos por dentro só tentando manter a cabeça fora d’água.
Queria saber se você — seja você quem for — já se sentiu em desvantagem só por não performar felicidade o tempo todo. Por não ter a aparência esperada, o tempo livre esperado, a juventude em alta definição dos filtros.
Se já sentiu que, mesmo tendo tanto por dentro, o mundo só enxerga os cartões-postais dos outros.
— E você?
— Eu?
— Você parece tão intensa…
— É que quando o silêncio é negado por muito tempo, ele grita.
— Então você é grito?
— Às vezes. Outras, só tentativa de não desaparecer.
Se eu pudesse, queria ser chão para alguém. Não com frases prontas ou juras fáceis, mas com presença. Com um olhar que dissesse: “tô aqui”, mesmo sem palavras.
E se um dia, por acaso ou qualquer outra força, duas almas se reconhecessem em meio à pressa do mundo, tomara que fosse no momento certo. Nem antes, nem depois.
E tomara que uma delas soubesse que foi lembrada nos dias de luta, nos céus bonitos e nos silêncios longos.
Nem tudo precisa virar romance. Às vezes, o amor mais verdadeiro é aquele que se contenta em desejar paz.
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