Passa tudo, menos a saudade



Passou o frio, o calor, a modinha, o modão. 
Passou a Copa, a Olimpíada e o Pan.
Passou o carro dos sonhos e o caminhão de som. 
Nunca mais passei lá na frente, porque há lembranças insuperáveis, pessoas que passam e ficam com força dentro do coração. 
Passou a ressaca e a febre. 
Passou na televisão aquele filme que assisti no cinema com a minha irmã.
Passou um pouco aquela tristeza causada pela perda.
Saudades, eu guardo muitas. 
Estou introspectiva nesses dias frios, peço compreensão. 
Passei dos vinte, mas algumas coisinhas da adolescência se gravaram no meu interior, e relembrar ainda me faz bem. 
Os amigos passaram para o outro lado, os namoradinhos de que a “tia” tanto pergunta nunca chegaram. 
Passou a paixão pelas bandas emo. Passei leite de colônia para remover a maquiagem.
Passei uns dias offline. 
Passou a fase de rir por tudo e também por nada, sem hora para dormir, até com certas manias que foram se perdendo. 
Passou também a vontade de chamar para briga quem vem com arrogância. Meu silêncio vale ouro num momento de destempero. 
Suponho que esses parágrafos breves, em função de outra inflamação na garganta, não dizem tudo aquilo que grita por um espaço na minha mente. As lágrimas falam bem alto e a boca se contrai num inquietante soluço, aquele que se expande na alma. 
Passaram-se três anos desde aquele fim de tarde, e seis da última vez em que de fato o entusiasmo pôs os braços em volta do meu ombro. 
Passam as tendências, as estações, os fogos no céu e as velas acesas. 
Passam as provas e os editais, o primeiro e o último capítulo. Tudo passa, mas quando se passa em nós, fica nesse vai e volta, porque eterniza. 
Posso folhear as páginas quando bem entender, daquilo que registrei da maneira que pude, e também daquilo que não ficou escrito em nenhum papel e sempre irá me acompanhar.

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