Arquivo Malacubaca | Programa do Meirelles... fato ou lenda urbana?

 

A edição de hoje do programa foi um estrondoso sucesso, dentro e fora das redes sociais. A chefa imaginou que Edu Meirelles apenas seguiria o script e no dia 13 a Lilly voltaria, pois a irmã de Luís Carlos está deprimida hoje, dia 12 de junho, todavia o jornalista trouxe outra vibe para o vespertino, pois a personalidade de Eduardo é carismática por natureza e tal fato não passa despercebido, entretanto, sua fama de mulherengo e vacilão atrasou (e muito) seus progressos efetivos na carreira.

— Você sobreviveu, cara! — Luís Carlos felicita o amigo com um abraço depois que o programa acaba.
— Isso aqui é mamão com açúcar.
— Mamão com açúcar pra você que só se maquiou e entrou no ar, mas aqui tem trabalho duro... — adverte Luís Carlos. — A Lilly e eu trabalhamos muito duro aqui! Sem ela, eu estou me sentindo muito perdido, mas o que posso fazer se logo hoje ela decidiu ter uma crise existencial?

Edu Meirelles, espertalhão como sempre, deixa a indireta no ar:

— Indisposição, crise existencial, imprevistos, não importa qual seja o motivo da ausência... — Ele se curva em reverência ao amigo: — Edu Meirelles está inteiramente a dispor de vocês...
— Nem pense! — diz Luís Carlos, saindo do estúdio.

Edu Meirelles o segue:

— Pô, a gente não é uma família?
— Você é vacilão...
— Sou nada...
— Não sou seu irmão... minha irmã é a Lilly... vá cuidar do seu harém... a propósito, pelo menos encaminhou cartões de dia dos namorados pelo zap, já que o truque da urticária não dá mais certo?

😎😎😎

Edu Meirelles havia se esquecido de encaminhar cartões de Dia dos Namorados para o harém no zap. E adivinhem: encomendou isso de Ceci alguns dias atrás e ela, que estava aproveitando o horário de almoço para responder a alguns e-mails de fãs, topou.

— Tu é muito canalha mesmo! — brinca ela, confeccionando modelos diferentes de cartões românticos no Canva.
— Preciso parecer um poeta falando... — suplica ele, que dá vários pitacos enquanto Cecília escreve aquilo que gostaria de dizer.
— Já que a gente joga no mesmo time...
— Você economizaria muito mais se namorasse uma mulher só. — alfineta ela. — E dê-se por satisfeito, pois um designer cobraria bem caro por essas encomendas...

Edu Meirelles se debruça na mesinha da amiga:

— É claro que se você não jogasse no mesmo time que eu, receberia um cartão desses também.

Ele joga um beijinho para ela.

— Quando é que você vai criar juízo?

Ele contorna a bronca com um trocadilho:

— Mal dou conta da cachorrada e do harém...
— Sem noção! — Ela mostra a língua para ele.
— Quem mostra a língua quer beijar... — diz ele, tentando soar sedutor. — Quase toda mulher da Malacubaca que me experimentou, pediu bis.
— Nossa! Tá faltando homem nessa emissora? Ou você é que se acha o garanhão?
— Se eu preciso encomendar cartão, imagine, é porque sou irresistível...

😎😎😎

Noviça e Lilly conversam pela web cam:

— Nunca te vi ligar pra Dia dos Namorados... — Noviça comenta, pois quem sempre ficava em clima de velório todo dia 12 de junho costumava ser ela.
— Eu também tenho sentimentos, chefa! — argumenta Lilly. — Até a Luciana Andrade vai se casar pela oitava vez e eu nem buquê em casamento tô pegando... nem gripe...
— Como você pode se importar com algo tão frívolo quando estamos muito próximos de sofrer mais uma emboscada dos aliens, Lilly? Eu preciso estar atenta, vigiar cada passo, cada sinal desses salafrários, pois nem que eu tenha que travar um embate no qual sacrifique minha vida, não deixarei esses alienígenas mal-intencionados dominarem nosso planeta.
— Do jeito que as coisas andam, seria melhor deixar os aliens invadirem, chefa. Quem sabe lá em Marte as coisas funcionem... vai ver meu crush deve ser um alien...
— Não! — grita Noviça. — Eu nunca me renderei! Eles querem a revanche e eu não sou mulher de levar desaforo pra casa!
— Estou me sentindo muito sozinha... — chora Lilly. — Eu não quero passar o resto da vida sozinha, sem ter o que esperar...
— Você sabe a loucura que eu tive que fazer pra ter o programa mesmo sem você?

É o único momento em que Lilly ri:

— Eu achei que era zoeira do pessoal... tá dando nojo de entrar no Instagram hoje... parece que todos os casais felizes do mundo decidiram desembocar pra me deixar pra baixo... — desabafa Lilly, que já devorou uma caixa de bombons inteira e está chorando tanto que a cama de casal está cheia de lenços de papel amassados e caixinhas espalhadas por todos os cantos...
— Esquece esses casais trouxas que se traem no Tinder e presta atenção: o ano de 2019 é muito emblemático para o mundo, importante demais para eu me importar com uma data que só serve para o comércio lucrar. Não posso acreditar que minha melhor amiga está se desesperando por um motivo frívolo quando há muito mais em jogo. — discursa Noviça. — Os aliens estão comendo pelas beiradas, pois a cartada final virá...
— Chefa, isso é tão 2012, ninguém mais cai nessa de aliens depois da farsa do fim do mundo...
— Ria... isso... relinche... fique aí rindo... mas depois não diga que eu não avisei...
— Rir? Rir no dia de hoje? Quem é tão sádico a esse ponto?

😎😎😎

Cecília Paternostro e Edu Meirelles se tornaram grandes amigos, dada a convivência. Cecília foi bem aceita pelo público e Meirelles, apesar das trapalhadas, de destoar completamente da figura do âncora sisudo e metido a sabe-tudo, também é muito querido. Os dois sempre conversam bastante durante todo o processo de produção do telejornal e não são aqueles apresentadores que sorriem só quando entram no ar e no fundo se odeiam (como ocorre muito).

— Foi demais, Ceci! — narra o bonitão, sentado ao lado dela na bancada. Apesar de o estúdio ainda manter alguns traços do modelo tradicional, a modernidade também impera: há telões, cadeiras para os apresentadores receberem entrevistados, dentre outros detalhes, como poder ver através de um vidro a redação onde o noticiário é produzido.
— Pena que alegria de pobre dura pouco  — brinca ela. — Amanhã a Lilly já volta pro posto...
— Bom, nunca se sabe... — Edu Meirelles dá de ombros e lança um olhar enigmático para a colega de bancada.
— A Lilly não pretende voltar? — espanta-se Ceci, pois as tiradas mais espontâneas que viram memes vêm de Lilly. Luís Carlos dá a tônica do programa por ser um pateta completo. Lilly é a cabeça e a alma do vespertino.
— Bom, é claro que a Lilly vai voltar, mas eu estou pensando em ter uma conversinha com a chefa depois do expediente e não é de hoje que eu quero trocar umas ideias com ela, mas nossas agendas nunca coincidem...
— Pode me adiantar o teor da conversa?
— Logo você saberá... — Ele dá uma piscada de olho para ela, que repassa o que dirá na última chamada para o jornal.

😎😎😎

A chefa já está preparada para ir para casa quando sua secretária lhe avisa que Edu Meirelles quer ter uma conversa com ela. Na imaginação dela, o bonitão abre a porta, a agarra pela cintura, fecha a porta com os pés e a beija com ardor. Os dois se encostam à parede.

A diva suspira:

— Bem que dizem que o melhor fica para o final.

Mas Edu Meirelles não a beija, não fecha a porta com os pés e não a agarra com ardor.

— Diga, Meirelles... O que o traz até aqui?
— Vim ter uma conversa séria contigo, chefa. Já está mais do que na hora...
— Pois fale... — incentiva a chefa, convidando Edu Meirelles a se sentar num sofá de couro magenta ao lado dela. Ela banca a Bruxa do 71, tentando se sentar perto dele, que se afasta, mas não tão bruscamente, afinal de contas, precisa se portar bem, caso queira ser ouvido.
— Chefa, é o seguinte... Faz tempo que estou querendo ter essa conversa, mas sabe como é, esse ano está tão de cabeça pra baixo, nossas agendas não coincidem, eu fico de falar, mas na última hora sempre acontece algo que interrompe e hoje, logo hoje, surgiu a oportunidade... E olha que eu não sou de acreditar em destino, mapa astral, essas coisas...

Na cabeça da chefa, no take seguinte os dois estariam se amassando no sofá...

— Mas a oportunidade perfeita chegou: no ano que vem eu irei completar 30 anos de casa. — anuncia o crush da chefa.

O sorriso de Noviça murcha.

— E daí? — ralha ela, fingindo indiferença, pois em 2020 o Programa do Rubão completa três décadas no ar e por coincidência a primeira aparição de Edu Meirelles como contratado da Malacubaca também. Será um ano de muitas comemorações para Rubão, claro, pois o patrono dos domingos não deixará a efeméride passar despercebida.
— 30 anos de casa não é pra qualquer um. Não em tempos onde as emissoras andam demitindo seus medalhões, seus referenciais, perdendo a essência, a identidade, e a identidade é muito importante para uma emissora, é o que faz o público se identificar, e o público se identifica comigo. Eu sou um patrimônio da Malacubaca. Você mesma, em diversas ocasiões, disse que a Malacubaca é uma família, portanto quero advertir de que mereço ser homenageado, posso até fingir surpresa e tudo o mais, afinal, gosto de ser homenageado... 30 anos é uma vida, uma vida que eu construí aqui... Aliás, passei boa parte da minha vida aqui...

A chefa só cruza os braços e olha bem para o colega de trabalho:

— Eu sou uma figura pública de suma importância para a televisão brasileira, participei de coberturas antológicas, tenho uma extensa carreira, já encarei todo tipo de desafio, vou tirar meu diploma de jornalista, mas nunca sonhei pra mim com esse negócio de bancada e sinto que já está na hora de alçar voos mais altos. Edu Meirelles sente que precisa ser desafiado...
— Quer desafio, é? — debocha ela. — Se você quiser, te mando amanhã mesmo para ser correspondente especial na Coréia do Norte, engraçadinho.
— Pô chefa, cadê o senso de humor?
— Escafedeu-se, junto com a minha paciência para as suas brincadeirinhas... — retruca ela, nada comovida com o drama perpetrado pelo colega.
— Com 30 anos de casa é esse o tratamento que eu recebo? — questiona o jornalista.
— Afinal, o que é que você quer?
— Conversar!
— Já estamos conversando...
— Bom, preciso ser direto ao assunto...
— Nem pense em me pedir dispensa...
— Chefa, eu nunca te pedi nada...

Noviça tem um ataque de riso.

— Eu estou falando sério... — insiste ele.
— Pois prossiga...
— Chefa, quando eu disse que queria um desafio, sempre falei sério. Eu gosto de ser apresentador, mas estou com vontade de mostrar para o público que posso mais do que isso... Muitos colegas meus que um dia encararam a bancada de um noticiário agora estão migrando para o entretenimento, que dá mais oportunidades, e eu estive pensando que o Rubão tem que pensar num nome à altura para substitui-lo, não digo agora, não agora, mas num futuro próximo, e não por nada, mas eu gostaria de ter o meu programa. Com 30 anos de casa ser o boi de piranha dessa emissora não é o sonho de ninguém.

Noviça inclina a cabeça para trás de tanto rir.

— Resumidamente, você quer ter um programa?

Ele assente com a cabeça.

— Os domingos são do Rubão. Ele é intocável. Pensei num programa semanal, a princípio. O Meirelles Show é um programa com o qual eu venho sonhando desde que descobri que era possível...

Edu Meirelles descreve o projeto para a chefa e a resposta não tarda a vir:

— Minha emissora não é picadeiro! — declara Noviça, colérica.
— Lembre-se de que um dia você teve uma conversa desse teor com a nossa antiga chefa... — Ele faz o sinal da cruz. — Que Deus a tenha... E ela não te disse o mesmo? E ela não estava completamente equivocada de ter cancelado o seu programa? De não ter reconhecido seu talento?

As informações conferem...

— E todo seu talento não cabia numa bancada... — Edu Meirelles bajula a chefa. — Imagina só se você tivesse desistido do seu sonho porque ouviu um não da chefa... Hoje não teríamos nem uma parede da Malacubaca para contar a história, não teríamos seu programa matinal que nos traz tanta alegria, não teríamos seu sorriso iluminando as manhãs, as viradas de ano... Você acreditou em si mesma e correu atrás dos seus sonhos... E olha só...
— A resposta é não!
— Eu mostrei que posso exercer qualquer função... não é justo que eu seja recompensado pelos meus méritos?
— Que méritos? — pergunta ela, cínica.
— Ter o meu programa, o meu formato... Sou modesto, aceito uma atração semanal a princípio, para testarmos a aceitação do público, que eu tenho certeza de que acolherá muito bem meu novo ciclo, mas... assim... seria uma boa proposta, chefa... se você não considerá-la, a concorrência poderá pagar o triplo somente pelo meu sorriso...
— Então que paguem!
— Pois é, mas depois que o Meirelles Show ameaçar a audiência da Malacubaca, não diga que eu não vim aqui suplicar de joelhos, dizer que te apresentei a proposta com exclusividade...
— Suplicar de joelhos... Você? Por favor, Meirelles, eu posso ter cara de trouxa, mas nas suas ladainhas eu não caio mais não...
— Eu sou uma figura altamente carismática nas redes sociais, somo mais de doze milhões de seguidores no Instagram. Em 2015, aquele mal-entendido que me afastou da Malacubaca gerou comoção nacional. Você sabe o meu valor de mercado. Eu sou o Edu Meirelles. Imagine o quanto a Malacubaca não pode faturar quando eu estiver liberado para fazer comerciais...

😎😎😎

— Onde é que você tá? — pergunta Eduardo, estranhando o som abafado que vem de onde Renata está.
— Na balada dos solteiros... — responde Renata, despreocupada, no banheiro feminino, onde Jacky retoca a maquiagem.
 E onde é que está o pudor?
— Junto ao seu... — debocha ela.
— Balada dos solteiros... — resmunga ele.
— Algum problema, Senhor Moralista?
— Senhor Moralista é a mãe...
— Diz logo: o que é que você quer?
— Quero saber o que você está fazendo aí!
— Não te devo satisfações de nada...

Edu Meirelles está em casa, esparramado no sofá, ouvindo música de dor de cotovelo.

— O senhor não se lembra de que quem está solteiro entra na faixa na nossa Balada da Saudade? Ué, vim curtir com a Jacky... Só música boa e gente solteira... Mas, anda, alguma coisa você está aprontando porque pra não estar aqui logo hoje, tem treta nesse angu... — relata Renata.
— Eu precisando de um consolo e você vindo com deboche... Nunca me esquecerei disso...
— Como eu nunca me esquecerei de todos os dias dos namorados em que esperei que você fosse me surpreender e quebrei a cara... Agora que aprendi a lição, quero mais é dançar e curtir, que chorar por homem não leva a nada...
— E eu pensando que podia desabafar com você.
 Hoje? Agora?
— Eu precisava desabafar.

😎😎😎

E ele desabafa para Renata, que tal como a chefa, cai no riso.

— Não tem graça! — protesta ele.
— Se juntar o trio, a concorrência quebra...
— Você nunca torce por mim, ninguém nesse mundo me leva a sério, mas eu vou provar que vocês todos estão equivocados.
— Tenho até medo quando você vem com esse papo!
— Quando um sonho move o querer de um homem, o impossível é apenas um degrau a mais para se subir. Portas fechadas não me abalam. Sou sonhador, mas sei que a realidade é cruel, pode ser cruel para alguns de nós, mas sonhar a torna menos cruel, menos dolorosa, menos cinzenta. O que hoje é utopia e motivo de piada, amanhã será a inspiração de muitos. Espere e veja!
— Com pipoca e numa poltrona bem confortável na primeira fileira. — satiriza Renata. — Ah, e obrigada pelo cartão, querido!
— Preparei com muito carinho!
— Ah sim... eu sei...
— Você não pode me acusar de não ser carinhoso...
— Pois é... — ironiza ela. — O harém todo recebeu um igualzinho?

Renata sabe muito bem que Edu Meirelles é astuto a esse ponto.

— A Ceci está sofrendo nas suas mãos... isso lá é coisa que se faça com a sua colega? Seja mais criativo no ano que vem!

Renata desliga o telefone na cara dele.

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