Arquivo Malacubaca | Edu Meirelles, o boi de piranha da Malacubaca

Mais um Dia dos Namorados se aproximando na Malacubaca. Desde 2017, quando a urticária amorosa falsa de Edu Meirelles foi desmascarada, o bonitão não está em alta conta com a chefa.

No ano passado, a diva da Malacubaca estava curtindo as férias em Orlando e só reapareceu em público na final da copa. Em 2019, com uma tragédia atrás da outra não dando trégua para a central de jornalismo, ela está mais obcecada do que nunca com a ideia de que os aliens querem uma retaliação pelo fiasco de 2012.

Até hoje Noviça acredita piamente que sua negociação com os alienígenas foi o que salvou a Terra de um colapso, embora convenhamos que do jeito que as coisas andam, teria sido melhor que ou o mundo tivesse acabado lá em 2012 ou estivéssemos vivendo sob o jugo dos marcianos, mas aposto que eles não perderiam munições poderosas e empenhariam tanto esforço para dominar o Brasil.

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Edu Meirelles vai fazer uma visita para a chefa no gabinete dela e a encontra sentada numa mesa lustrosa, analisando os dados de um telão e bem que tenta forçar uma tosse para escapar da labuta no dia dos namorados, mas a chefa não cai mais nessa conversa:

— Nem me venha com esses truques de raposa velha para cima de mim, Eduardo Meirelles. — bronqueia a chefa. — Se eu souber que o senhor andou passando pelo RH para inventar doença pra escapar da labuta, não tem perdão: vai pra rua.

— Gravar matérias na rua? — brinca ele.

— Não banque o engraçadinho, Meirelles. — ralha a chefa. — Eu te coloco sem dó nem piedade no olho da rua!

— Ô chefa, que é isso? Eu sou seu muso, seu crush, você própria diz que eu sou a cara da Malacubaca, que sem mim não tem emissora, que eu sou o dono de um dos sorrisos mais lindos desse país... Se você me colocar no olho da rua, o que você acha que o público vai pensar?

— Está avisado...

— É... — Ele coça a cabeça. — A coisa está feia para o meu lado!

— Que bom que entendeu!

— Mas eu não vim aqui para falar da minha urticária amorosa, os médicos dizem que está sob controle,eu estou é preocupado com a Lilly.

Noviça franze o cenho:

— Não me diga que a Lilly está entrando nessa onda de inventar doença pra fugir da labuta?

— Pior, está chorando sem parar,não sei nem se vai entrar no ar...

— A Lilly? Chorando? Mas o que é que deu nela?

Bom, a verdade é que nem Luís Carlos sabe porque a irmã nunca ligou para o Dia dos Namorados e sempre tinha que consolar a chefa.

— Sozinho ele não vai apresentar. Se a Lilly não está em condições, hoje terá uma folga.

— Por que a Lilly vai ser dispensada e eu não? — questiona o bonitão.

— A Lilly está muito deprimida...

— Por causa de uma data que o comércio inventou para extorquir dinheiro dos trouxas?

— Isso não é da sua conta! O fato é que a Lilly não descansa nunca...

— E eu também tenho dado minha alma por essa emissora, chefa. Veja bem, o ano passado eu fui quase onipresente na Malacubaca e o universo tem conspirado contra mim porque toda vez que eu chego no RH pra marcar as minhas férias, algo terrível acontece...

— Você acabou de me dar uma ótima ideia...

— Sinto até medo quando você faz essa cara... — recua ele, quando ela se levanta sorridente e caminha até tocar os ombros dele, com um sorriso vitorioso.

— O que o senhor acha de cobrir a ausência da Lilly hoje?

— Ficou maluca, chefa? Eu sou âncora do Vinte Horas!

— E daí?

— E daí que uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa!

— E eu sou a dona da emissora!

— Chefa, o que é que as pessoas irão pensar se eu aparecer no programa da Lilly e do Luís Carlos e mais tarde no jornal?

— Pra quem já apresentou o jornal vestido de Bruxa do 71, o que vai ser cobrir a ausência da Lilly?

— Não é possível! Eu sou o boi de piranha dessa emissora... Eu não sou irmão do Luís Carlos. Bota uma reprise no ar, sei lá...

— Não tem nada de sei lá coisa nenhuma. O decreto já foi dado! O programa durante o ano é ao vivo! Anda, que você tem que estar pronto em vinte minutos.

— Vinte minutos? — Edu Meirelles arregala os olhos.

— Até onde é do meu conhecimento, os irmãos entram no ar às duas e quinze, quando as afiliadas da Malacubaca se juntam para exibir a programação nacional, salvo alguma cobertura especial...

— Pô, chefa... — dissimula o bonitão. — Eu... eu vim trabalhar, mesmo com a urticária amorosa me atacando, mas substituir a Lilly já é demais...

— Não quero ter que falar duas vezes...

Ao contrário do que pensava Edu Meirelles, o programa que Lilly e Luís Carlos apresentam nas tardes é super divertido.

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Ao ver Edu Meirelles se sentando ao lado dele no camarim para que as maquiadoras terminem o trabalho, Luís Carlos se espanta:

— Mais desgraça pra hoje?

— Vim cobrir a Lilly.

Nem Luís Carlos acredita.

— Tá de brincadeira, mané?

— Tô nada e a chefa não tá pra brincadeira.

— Tá na cara!

— O que é que eu tinha que aparecer lá? — reclama Edu Meirelles. — Eu estou sempre metendo o pé na jaca...

No entanto, quando entra no ar com Luís Carlos, não é só o irmão de Lilly que se espanta, o público realmente não compreende a ausência de Lilly, uma vez que a apresentadora pouco fala sobre a vida pessoal e amorosa e a primeira hipótese é a de que o âncora mais sexy da tevê brasileira tenha vindo cobrir uma tragédia no programa vespertino e o humor fique de lado, mas estão errados, Edu Meirelles está usando uma blusa de flanela azul, uma calça jeans de corte reto e um sapa tênis marrom.

— Mano é quem a gente considera... — embroma Luís Carlos, recebendo ordens do diretor no ponto eletrônico. Ele é bom em repetir tudo que é dito. — E hoje a minha irmã Lilly teve uns probleminhas, então a chefa escalou o Meirelles aqui, esse nosso amigão, esse camarada que nunca nega um favor pra um amigo, pra cobrir a ausência da Lilly, mas ela está bem e logo voltará, mas enquanto ela não volta, o Meirelles quebra o galho; não é macaco gordo, mas quebra um galho. O Meirelles é aquele cara que dispensa apresentações...

Passados alguns minutos, Edu Meirelles está se divertindo tanto que no intervalo comenta com o colega:

— Eu trabalhava de graça se soubesse que era mamão com açúcar...

— Eu não gosto de mamão, cara. Quem come mamão pra ir ao banheiro é a chefa, mas eu não sou muito chegado...

— Tô falando em moleza, cara. — prossegue Edu Meirelles. — Qualquer energúmeno pode vir aqui falar com as câmeras que tá beleza. Você não pode nem reclamar da vida.

— Você é que pensa...

— Não me diga que tem mutreta...

— Eu é que não sei, mas é hoje vai ter pedido de casamento...

Edu Meirelles detesta vídeos de pedidos de casamento, mas Luís Carlos cochicha no ouvido dele e os dois caem na gargalhada, levando bronca do diretor.

— Sério?

— Mas você tem que parar de me olhar com essa cara de riso, pô. —  pede Luís Carlos.

— Ah, tá! Você me conta essa e não quer que eu caia na risada?

— Não tão descaradamente, pô.

Edu Meirelles assente, tentando parar de rir, balançando a cabeça:

— Tá certo, tá certo...

A produção do programa preparou um "casamento surpresa" para uma moça que terminou com o namorado e não quer nem ver a cara dele, que faz parte da equipe do vespertino que veio das madrugadas para desbancar os inúmeros programas de fofoca da concorrência.

A moça, que é modelo, pensa que está se preparando para fazer um trabalho e ganhar um cachê. Ao ver as estruturas montadas e uma centena de pessoas a esperando, imagina que talvez se trate de um comercial de perfume, mas ao ver lá no altar o ex-namorado, joga o buquê no tapete vermelho de veludo.

— É uma palhaçada! Eu não aceito essa palhaçada! Alguém pode me explicar que porra é essa?

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Como a tela fica dividida, dá pra ver Edu Meirelles com o rosto vermelho de tanto rir, pois ele está sozinho no estúdio e Luís Carlos, que foi cumprimentar a "noiva", vestido como o diretor do tal comercial, é acompanhado por outro grupo de cinegrafistas. O irmão de Lilly é mestre em disfarces.

— Moça, eu sou só o diretor do comercial, não estou entendendo todo esse alvoroço. Tenta ficar calma, por favor! A gente vai resolver isso, mas tente ficar calma!

— Eu não vim pra isso! O combinado era um comercial! — brada a moça. — Eu quero saber o que está acontecendo aqui!

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Edu Meirelles banca o Rubão, narrando o que é óbvio para as pessoas, que prefeririam que ele calasse a boca e deixasse o barraco no casório rolar:

— A moça está possessa. A moça está indignada. Olha só, gente! Ela jogou o buquê no chão. Essa noiva é das brabas!

A moça está revoltada e não é para menos:

— Moça, por favor, se acalme! — implora Luís Carlos, pois tudo está ocorrendo ao vivo, não é gravado. Se ele apanhar, todo mundo em casa verá.

— O combinado não era esse... —  insiste a moça.

Aí vem o "noivo", de joelhos, e toma o microfone das mãos de Luís Carlos, que se sai muito bem fingindo que não sabe o que está havendo:

— Volta pra mim, amor... — O sujeito começa a chorar. — Sem você não tem vida pra mim, não tem nada, não tem sonho...

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Pensava-se que o áudio de Edu Meirelles tivesse sido cortado, pelo menos por ora, mas não foi:

— Esse mico eu não pagava nunca!

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Enquanto isso, lá no local da cerimônia ao ar livre, a orquestra começa a tocar A Thousand Years, da Christina Perri, enquanto o "noivo", de joelhos, implora para que a amada diga sim.

— Eu terminei com você faz quatro anos, cara. Vira essa página!

— Amor que é amor não se esquece...
— Você está querendo tirar onda com a minha cara, só pode! Você termina comigo no dia dos namorados, diz que não me ama mais, sai com a minha melhor amiga e agora me apronta essa?
— Eu nunca deixei de te amar!
— Ridículo! Escroto! 
— Esse escrito aqui te ama... — O sujeito bate a mão no peito. — Esse cara aqui te ama!

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Como a produção do programa sacaneia todo mundo, mostra Edu Meirelles rindo, gesticulando e fazendo caretas:

— Tem que amar muito uma pessoa pra se sujeitar a passar essa vergonha em rede nacional...

O diretor, que quando é sério mete medo até na chefa, quando dá pra zoar, supera o Rubão:

— Edu Meirelles não faria loucuras por amor? — atiça ele, com a voz de robô que faz perguntas sem noção para Lilly, que não tem paciência.

— Eu sempre fui avesso ao casamento...

— E eu jurava que você seria capaz de loucuras por amor... Com esses olhos cintilantes, quantos corações se derretem...
— Comigo a fila anda...
— Edu Meirelles é direto e reto!
— Na moral!

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Luis Carlos quase apanha da noiva e é obrigado a revelar o mistério. 

— Me ajoelhar e romper em prantos por uma mulher? Nem morto! Edu Meirelles não é homem que chora por amor! Mulher é o que mais tem nesse mundo... Se algum dia alguém falar que me viu arrastando corrente por mulher, pode saber que deve ser um sósia meu... tô fora, rapá!

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Algum sacana do CEDOC encontra o vídeo de Edu Meirelles chorando por amor no Programa do Rubão e leva ao ar depois que a noiva, que no fundo ainda gostava do noivo, aceita se casar com ele.

— Aqui na Malacubaca, a zoeira é de A a Z, meu chapa... — debocha Luís Carlos, de volta ao estúdio. — A gente não poupa nem o Meirelles, mas conta pra gente como é que está seu dia dos namorados... Alternativa a) no maior pega com o Mozão, b) urticária amorosa me define, c) à espera de um milagre, d) pior que o Meirelles eu não fico...

— O universo conspira contra mim, só pode... — reclama Edu Meirelles, olhando para uma câmera, não raivoso, mas chateado porque a chefa nunca lhe deu essa oportunidade antes, em outras ocasiões que um dos irmãos se ausentou do programa.

— A gente não queria estragar a surpresa, mas...

— Esse aí é especialista em estragar surpresa...

— Ah, eu lá tenho culpa se eu sempre pego você no amigo oculto?

— Amigo da onça, só se for... você não se cansa de me trollar...

— Ah, eu pechincho... — Luís Carlos dá de ombros. — Eu vejo o que está mais em conta e levo... Gosto de surpreender...

— Pechincha, é? E por acaso a Malacubaca paga ninharia pra me dar porta-retrato?

Luís Carlos faz de conta que não é com ele.

— Quando o bicho pega, esse é o primeiro a deixar o barco! — declara Edu Meirelles. — Eu poderia fazer um Top 10 dos piores presentes que eu recebi na vida e todos foram seus...
— Pois claro, se fosse fazer dos seus micos, teria material pra um documentário de duas horas, comentado pelo Rubão.

— Produção, pô, mostra a sacanagem que esse canalha me aprontou num amigo da onça, em 2013...

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Começa uma batalha de zueiras até o fim do programa e o diretor, que tinha outros planos, quebra o espelho porque a audiência está mais alta do que nunca.

— A chefa tem uns planos doidos na cachola, mas de vez em quando acerta... — comenta o diretor, direto do switcher, onde os "irmãos" estão se zoando. — E eu pensando que a ausência da Lilly seria um desastre total... pelo visto me enganei...

(continua)