Laços esgarçados

Por desconhecer meu próprio valor, me contentava com as migalhas de atenção.


Aquele gelo no estômago seguido de um estado de torpor era familiar, uma porta escancarada para outra crise; crescendo dentro do peito a vontade de sumir sem dar notícias a ninguém; dormir para não ser atormentada pelo tsunami de pensamentos intrusivos. Meu castelinho de cartas ruía com certa facilidade, após tanto esforço para erguê-lo, reconheço a fragilidade estrutural e a teimosia que me acorrentou a um ciclo de carência e profunda vulnerabilidade.

Não era questão de ignorar a realidade, mas duvidar da própria intuição, bem típico de laços esgarçados. Segurar a tesoura e cortar o fio puído doeria uma vez para nunca mais, enquanto as tentativas insistentes pinicavam nas paredes da alma, abrindo feridas até hoje mal cicatrizadas. Poupando-me de maniqueísmos caricatos, somos moedas atiradas para honrar apostas onde todos, em maior ou menor proporção, saem machucados.

Enfeitar frases-feitas e metáforas de gosto duvidoso, vamos aos sinais, interpretá-los nunca foi nada de outro mundo, brilhavam feito vaga-lume no breu. Palavras me faziam sangrar e derramar milhares de lágrimas pelos mesmos motivos da vez passada, acentuando a desproporcionalidade da entrega e do desespero por constatar que jamais seria boa o suficiente para quem já sempre teve uma opinião consolidada sobre mim.

Retirar-me de cena não atestava loucura alguma, mostrava a coragem de me afastar de quem sugava minha energia, torcia contra meu sucesso e me tratava como a última opção, fazendo-me sentir indesejada e pequena, distante de estar dentro do padrão. Ora, as investidas eram tão descaradas que elas invertiam a narrativa para se eximir da falta de empatia. Não era saudade, era só curiosidade, vontade de ter uma trouxa ouvindo o monólogo do outro lado.

Por desconhecer meu próprio valor, me contentava com as migalhas de atenção, na expectativa de enfim ser aceita, tudo para mergulhar de cabeça numa piscina vazia e lamentar a decomposição da dignidade. Meti-me em tantas armadilhas prontas para receber um pouquinho de carinho, caindo em teias de ilusões, aceitando insultos e outras espécies de violações, duvidando do próprio juízo, comprando como verdadeiras todas as mentiras de quem nunca foi bem-intencionado comigo.

Era conveniente manter o patinho-feio a uma distância razoável, meu incontestável masoquismo lhes dava uma boa vantagem nesse cabo-de-guerra doentio. Quando a reação veio, pintar-me a vilã da história foi questão de tempo, mas ninguém me perguntou por quanto tempo suportei ser humilhada e carregar no peito culpas que nunca foram minhas. Minimizar os avisos da intuição coexistia com o medo da solidão e o anseio por me libertar daquele laço esgarçado. Esses algozes, peritos na arte de me desestabilizar, com o uso de indiretas e daquelas “brincadeiras” que dizem certas “verdades”.

Eles só queriam ter por perto uma pessoa “inferior” para descarregar seus dejetos emocionais e me induzir a acreditar no reflexo fantasmagórico do espelhamento. Compreendo que a total paralisia diante de determinadas situações se chamam gatilhos. E eles sempre foram calculados para me atingir. As sequelas desses envolvimentos podem ser percebidas no cotidiano, no que as pessoas queridas nomeiam de “autossabotagem”, no indigesto medo de viver.

2 comentários:

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