Mary Recomenda | A Cachorra — Pilar Quintana

A temporada de 2025 está no ar.

Estamos de volta, caros amigos do OCDM. A temporada 2025 de Mary Recomenda começou em altíssimo nível, com Contos do Esconderijo, para não nos esquecermos jamais das consequências do ódio e do extremismo. A Cachorra, da escritora colombiana Pilar Quintana, divide opiniões, mas cumpre com muito brilhantismo o objetivo de envolver os leitores.

Capa da edição brasileira (Reprodução: Editora Intrínseca)

A Cachorra é uma narrativa ambientada em uma comunidade costeira da Colômbia e a personagem principal é Damaris, uma mulher de meia-idade assombrada por traumas do passado, que carrega também a frustração por não poder ter filhos. Com isso, sua relação com uma cachorrinha resgata alguns de seus sentimentos mais profundos e conflitantes.

Sobre a autora


Pilar Quintana nasceu em 1º de janeiro de 1972, em Cali, na Colômbia. Formada em Comunicação Social pela Universidade Javeriana, em Bogotá, já trabalhou como guionista de televisão e redatora de publicidade antes de se dedicar à literatura. Em 2007 foi selecionada como uma jovem promessa da literatura da América Latina, pelo Hay Festival. Participou também do projeto International Writing Program da Universidade de Iowa em 2011 e do International Writers Workshop em Hong Kong, no ano seguinte.
Seu romance A Cachorra (La Perra no idioma original), publicado em 2017, tornou-se um grande sucesso internacional; traduzido para 16 idiomas e finalista do National Book Award for Translated Literature, nos Estados Unidos, em 2020. Em 2021, seu livro Los Abismos ganhou o prestigiado Prêmio Alfaguara de Novela.

Arco narrativo

A escrita de Quintana é crua e imersiva, capturando a dor e a complexidade emocional desta protagonista repleta de camadas que vão se desfazendo a cada capítulo. Ao explorar temas como a maternidade, a solidão e a busca por redenção, conhecemos a vida de Damaris, marcada por tragédias pessoais e traumas desde a infância. Um episódio doloroso de sua juventude, onde ela foi injustamente punida pela morte de um menino, molda sua perspectiva de vida.
Sua relação com a cachorra, que ela trata quase como uma filha, revela seu desespero e amargura quando o animal segue seus instintos e se afasta dela, despertando uma profunda sensação de perda e inveja. Essa foi minha interpretação da transformação da personagem principal ao descobrir que sua amada cachorrinha podia ser mãe e ela, não.

Impressões

Senti uma mistura de raiva e empatia durante a leitura, especialmente na cena em que Damaris tem um surto e comete um ato imperdoável, na minha percepção. Foi um momento perturbador, mas também um reflexo da dor profunda que ela carregava desde que se entendia por gente.
Ao mesmo tempo, a parte em que Damaris relembra sua infância, o pouco-caso das pessoas ao entorno e o peso da culpa e da injustiça me fizeram sentir uma profunda compaixão por ela. O final me desagradou por não concordar com o que ela fez, todavia, refleti sobre o quanto a falta de amor e perspectivas abre feridas incuráveis e rouba a esperança de dias melhores. Essa dualidade de emoções é um elemento a tornar o texto tão poderoso e realista.
A Cachorra é uma leitura impactante e emocionante, ideal para aqueles leitores que apreciam narrativas profundas e provocativas. Pilar Quintana entrega uma história que nos desafia a confrontar as complexidades das emoções humanas e a profundidade das relações. Recomendo para quem busca um livro que fuja do eixo norte-americano, dos clichês de sempre e proponha uma reflexão intensa sobre vida e dor, sem promessa de “e eles viveram felizes para sempre”.

Referências:

https://www.portaldaliteratura.com/autores.php?autor=4369

Gostaram da sugestão de hoje? Preparei-a com muito carinho e agradeço imensamente por tudo. O Mary Recomenda desta semana fica por aqui, mas a programação do OCDM continua. A gente se vê por aqui, até a próxima! ♥

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