Palavras para Maria Paula

 


Maria Paula era uma garota doce, meiga, simpática, alguém que desde cedo compreendeu qual era seu objetivo durante esta existência. De personalidade forte, curiosa e questionadora, encontrou nos livros e na poesia a sua voz, a sua forma de se expressar. Mais, encontrou outros jovens que, tal como ela, também padeceram à solidão causada pela inadequação, pela falta de representatividade, pelo silêncio delegado às minorias por séculos. Maturidade nem sempre está ligada à idade, ao número que muda todo ano e não define ninguém, porque senso crítico e habilidade com as rimas, Maria Paula possui, com um acréscimo, verseja a realidade, a sua realidade, logo, um olhar até então solitário representa outros tantos que nunca se expressaram através das mais diversas formas de arte, mas em algum momento se questionaram. Por muito tempo, Maria Paula não conseguiu enxergar-se bela, pois era convencida a crer que seus singelos e únicos traços destoavam do tal "padrão" e tolerar amizades pouco sinceras para atenuar o vazio, o vazio que lhe acompanhou por muito tempo até encontrar um ponto de acolhimento e aquelas lágrimas engolidas por tantos anos finalmente virem à tona e lavarem a alma, para que assim a linda garota pudesse enfim vislumbrar os primeiros passos para trilhar rumo ao promissor futuro daquela que ainda haverá de inspirar multidões e ser o que em alguns momentos da vida lhe faltou. A passos lentos e não menos significativos, meninas e mulheres que certamente se leem nas vivências dessa jovem poetisa assumem seus cachos e aprendem a amar cada pedacinho de si mesmas, a acolher também os cacos quebrados de seus corações para se reconectarem com aquela menina cheia de sonhos que lhes acena volta e meia, aquela menininha que sempre foi linda e merecedora de todo amor.
O racismo é um crime injustificável, covarde, pois não é preciso ser negra para indignar-se com ele, basta ser humana.
Não existe nada de errado com você, Maria Paula. Que sua voz perdure pela eternidade. Que a tristeza não te detenha, que nada te impeça de voar e espalhar sua mensagem para um mundo que precisa mais do que nunca de pessoas dispostas a transformá-lo num lugar melhor, e é possível, mesmo que os tempos sombrios de retrocesso desencorajem, não são eternos.
Você é parte da criação, você é poesia, você é vida, você é sonho.
Você é uma garota sensacional.
As meninas negras precisam se sentir aceitas e acolhidas, saber que são lindas e amadas e que valem muito, que suas vidas importam.
- inspirado num comentário escrito no 04 de junho de 2017 para uma amiga que vale mais do que ouro.

Gente blasé eu quero fora da minha vida

 


Gente blasé me cansa. Se você possui meios de entrar em contato e não o faz, desconheço motivos para te manter na minha lista de amigos. Não curte nenhuma foto, não comenta, não compartilha... a verdade é que para você não faz diferença alguma ter ou não a minha amizade, o erro foi meu, te superestimar, enxergar você sob as lentes da inocência e da bondade, que te faziam uma pessoa melhor do que você realmente era. Não quero te incomodar, viva sua vida e seja feliz, agradeço a Deus por ter me mostrado a verdade, dessa forma estou aprendendo a nunca mais revirar o passado, nem romantizar situações. A única que manteve a amizade viva ao longo desses anos fui eu, você se refez, pessoas ao seu redor não faltam, o meu problema é esse: a carência me faz uma mendiga de afeto, a vontade de ter com quem conversar, alguém que me escute e também fale, que se importe, tenha iniciativa. Sei viver sem você e você sabe viver sem mim, prefiro me afastar porque pode não parecer, mas não deixa de ser uma dolorosa constatação: eu fui amiga sozinha. A falta de tempo não cola, pois se duas pessoas se querem bem, sempre vão encontrar um meio de diminuir a distância e demonstrar o bem querer, agora para quem se escora em desculpas esfarrapadas, qualquer uma é válida. Gente blasé eu quero fora da minha vida.

Os próprios fatos me dirão

 


        Por toda a vida tive atitudes de mendicante, implorando conversas, nutrindo amizades mortas, inventando amores para não encarar a dor, a solidão, o tédio, a mim mesma. Maltratei-me, transbordei-me para almas blasé demais para retribuir o mínimo que fosse, apenas para a dignidade não se sentir humilhada.
         Pouco tempo atrás lá estava eu, dedicando atenção para uma pessoa que nunca mereceu a saudade de algo que hoje sei, eu mesma criei, para buscar num passado idealizado o alívio para o vazio num coração sem amor. Infértil sempre foi a utopia, alimentada tão somente pelo ego fragilizado, embaçando a vista para o verdadeiro propósito da existência.
          Para não tomar conta da criança desamparada inventei mil maneiras de escapar de um importante dever, o primeiro e essencial, me colocar em primeiro lugar. Hoje recebo os juros daquilo que releguei, o gosto amargo no alto da garganta, mas gosto da minha própria presença, de visualizar as lembranças sem romantizá-las, tirando pessoas dos respectivos pedestais, realocando prioridades, revisitando ambientes, redescobrindo a doce e adormecida essência, assombrada com os estragos causados pela impulsividade.
        Precioso é o dom da vida, até quando serei agraciada pelo agradável e desafiador sopro, não faço ideia, portanto, não faz sentido desperdiçar tempo, lágrimas e disponibilidade para quem não se importa e talvez nunca tenha se importado. 
        Se o que foi bom vira saudade e o que foi ruim serve de experiência, como definir então o momento presente, quando nem mais choro? Os próprios fatos me dirão...

29 de abril de 2016 (cinco anos atrás)

 


Às vezes eu vivo como se não fosse humana.

Finjo não ser real, embora queira ser.

É difícil de me entender.

Tão difícil que eu me perco.

Queria tanto conseguir controlar a raiva.

Tenho acessos de fúria que, claro, não matam, não chegam a ser uma ameaça à humanidade, embora, sim, sejam.

Minha raiva às vezes me torna cruel.

Sinto vontade de retribuir a quem me magoou, mesmo que não me sinta confortável, porque tenho lucidez suficiente para refletir sobre o peso dos meus atos e, claro, ponderar o que serve ou não.

Vingança não me serve de base para construir meu orgulho ferido.

Parece insano ter consciência das e errar assim mesmo.

É o preço que se paga por ser humana.

Mortal.

Por ter uma vida que me foi emprestada, da qual sou inquilina e não dona.

Sim, eu também amo profundamente e em segredo, tento na medida do possível não me odiar mais pelo que sinto, pois ainda me culpo por muitas coisas que aconteceram e ainda não aceito.

Não aceito o amor que sinto, mesmo amando muito mais do que entendo, menos do que posso, do que deveria.

Eu não sou e nunca vou ser normal.

Mas não quero ser.

Não quero pertencer ao senso comum.

Não quero ser só mais uma.

Quero, sim, nunca perder a simplicidade de viver, só que não ser conformada porque uma coisa não tem nada a ver com a outra.

Quero apenas viver.

Viver o hoje.

Quero amar a vida.

Eu amo a vida, mesmo às vezes desejando morrer.

Morrer a mágoa.

Declarar extinta a partir deste instante a timidez.

Morrer de orgulho de ser tola.

Morrer de vergonha, mas não de desgosto.

Morrer de vontade de viver.

Desejo matar a dor para viver bem.

Matar a dor antes que ela me mate de tédio.

Quero produzir algo decente dessa inércia que me toma.

Talvez eu não seja original nem especial.

Talvez eu seja só gente, só carne e osso, só um pouco de teimosia.

Uma criança grande em busca de calmaria.

Um poema sem eira nem beira.

Nem poema.

Não tem verso que resista a tanto medo de perder o compasso.

Só não quero ser esdrúxula.

Temores a mil.

Não falo o que penso.

Sou rasa.

Uma farsa.

Uma tola.

Repetente na escola da vida, tropeçando nos erros de outrora que seguem recentes.

Soberba por crer que mereço o que ainda não tenho.

Não tanto que não possa recuar.

Às vezes exagerada, no êxito minimalista de quem fecha os olhos para o que já viu, porque sentir exige de mim aquilo que não precisa de palavras e gestos para ser certeza, só precisa existir, e de mim, e de vida para ser o que é, o que eu não entendo nem lendo, nem me calando...


O dia da vacina

Hoje foi um dia bastante importante… apesar do lockdown, das tantas notícias ruins que nos acostumamos a ver neste último atribulado e estranho ano, a vacina surge como um feixe de esperança para iluminar os dias sombrios nos quais renunciamos a nossas antigas vidas e estamos diante de um caminho cujos rumos ainda são desconhecidos.
Meu pai foi tomar a primeira dose da vacina, não o exporei porque não tenho permissão, mas minha irmã, sabendo o quanto amo tirar fotografias da natureza porque contemplá-la é uma forma de amar a Deus, me enviou estas fotos que sintetizam o hoje e a esperança de que em nossas vidas, quando o pior passar, nós possamos festejar num dia quente e lindo como esse.

Ilusões destruídas

 

Uma vida promissora corre o risco de passar em vão se não houver um entendimento lúcido acerca do passado. Muralhas não encobrirão tardios arrependimentos, castelos erguidos com areia padecerão na primeira ventania.

Murmúrios prolongam as noites escuras, reflexões auxiliam no processo de cura e perdão, permitem um contato íntimo com a realidade, favorecendo o amadurecimento, indicando o caminho a se seguir, que nunca é para trás, porque as lembranças mais doces e queridas estão guardadas num precioso baú para serem acessadas sempre que necessário, as desagradáveis são cicatrizes, algumas bem intensas, outras invisíveis, outras perceptíveis quando se olha de muito perto.

Algumas feridas não cicatrizam tão depressa, maltratam a alma até ensinarem que o atalho mais breve para o sofrimento é o desejo incansável de estar no controle de tudo... por puro medo. O fardo não seria tão pesado se houvesse um lampejo de consciência a indicar que o conceito da felicidade pode variar, mas uma certeza se tem nessa infinidade de cogitações: permanecer com a cabeça no passado é desperdiçar a chance de transformar o presente — por mais difíceis que sejam as tribulações — numa memória aprazível.

Ela levou muitos anos até dar-se conta de que nunca estava deveras sintonizada ao presente, buscava o que não mais tinha — ou nunca teve, um passado utópico, inventado, a recriação de uma lembrança, portanto, nada a preenchia porque a miragem para a qual olhava refletia os anseios quase irracionais de alguém que tinha medo de crescer e desprender as mãos suadas do barbante grudento, soltando o balão para ele seguir o ritmo do vento.

O discernimento cobrou um valor exorbitante por uma conclusão que poderia ter se dado sem haver a necessidade de tanto sofrimento. Muitos deles foram criados pela mente dela, por forçar situações, usar a força para adentrar em festas cuja presença não era bem-vinda, o sacrifício sem glória de conquistar corações que nunca se empenharam em averiguar e praticar o significado de reciprocidade.

Ilusões destruídas, esse era o revestimento dos espinhos que machucavam os pés dela durante a solitária caminhada de volta para casa. Ela amava os sonhos que acalentou, não a realidade que se mostrou sem máscaras. As sequelas da rejeição são aquelas feridas que teimam em não cicatrizar nunca, mas servem para lembra-la do que pode acontecer se insistir num erro.

Saber partir


3 de maio | Dia do Pau-brasil

Post para o Blog: O Dia Nacional do Pau-Brasil, celebrado em 3 de maio, é uma data para refletirmos sobre o legado ambiental e histórico des...