Sexta-feira é dia de acompanhar as dicas do Mary Recomenda e nada como uma boa retrospectiva das leituras de agosto para te ajudar a escolher o próximo livro do seu coração.
Recomendação da semana passada. Li pela primeira vez em 2014 e não só revivi algumas emoções, bem como pude analisar determinados fatos com o discernimento que tenho atualmente. Além disso, o ritmo envolvente da narrativa não me deixa mentir, dá vontade de não parar de ler.
Sou uma tola por te querer — Camila Sosa Villada
Foi meu primeiro contato com essa grande autora argentina. Esse livro de contos traz protagonismo travesti, mescla elementos de realismo mágico com crítica social, representatividade e a voz clara e marcante de Villada, que tem outras obras as quais pretendo ler futuramente. Sem dúvida, um dos contos mais emblemáticos é o que dá nome ao livro, inspirado numa canção de Billie Holiday.
Todo mundo tem mãe, Catarina — Carla Guerson
O livro conduz o leitor pelas dores e afetos transmitidos entre gerações, com destaque para três mulheres: Vó Amélia, Suzana e Catarina. A narrativa é marcada por uma escrita intimista, carregada de silêncios e não-ditos que falam tanto quanto as cenas mais intensas.
A personagem principal é Catarina, uma menina criada pela avó, que até então desconhece as próprias origens ou, por assim dizer, conhece apenas o que Amélia permitiu. Esse é o mote do livro.
Esôfago — Ítalo Silva
Apesar de ser denso e tratar de temas sensíveis, também tem uma escrita limpa e simples, sem floreios, o que me permitiu ler num mesmo dia.
O muro da nossa casa — Ana Kieffer
O ponto de partida é o mês de dezembro de 1968, logo após a promulgação do AI-5. Para quem tem interesse em obras que narram os terrores da ditadura, aqueles anos de chumbo, vale a pena colocar na lista.
No útero não existe gravidade — Dia Nobre
Também foi uma releitura, mas em 2022, quando tive o primeiro contato com a obra, estava doente e não registrei minhas impressões sobre ela. Para quem gosta daqueles socos no estômago em forma de livro, super recomendo.
Como o Flamengo se tornou uma nação: as 4 histórias que contam e as 5 ondas rubro-negras — Pedro Sá
Para quem quiser iniciar pesquisas sobre o Flamengo é um bom ponto de partida porque além de desmentir várias fake news propagadas pelos “anti”, também traz uma perspectiva histórica do próprio Rio de Janeiro ao longo de tantas transformações sociais, políticas e econômicas. Senti falta de uma seção de referências bibliográficas ao final da obra, muito embora o autor tenha recorrido a fontes confiáveis para estruturar esta obra, que cumpre o objetivo de desmentir as groselhas ditas pelos “anti”.
A hora da estrela — Clarice Lispector
Para fechar com chave de ouro. É um livro curto, mas muito intenso. É daqueles que você lê em uma sentada, mas fica ecoando dentro da cabeça por muito tempo. A história é narrada pelo Rodrigo S.M., um narrador que, ao mesmo tempo, conta e reflete sobre o ato de escrever, o que já deixa o livro com um clima diferente, quase como se fosse uma conversa direta com o leitor. A protagonista é Macabéa, uma datilógrafa nordestina que vive no Rio de Janeiro. Ela é simples, pobre, ingênua e invisível para a sociedade. Enquanto o mundo a ignora, a narrativa vai mostrando sua rotina banal — o trabalho mal pago, o namorado grosseiro, os pequenos gestos do dia a dia. Mas é justamente nesse “nada acontece” que Clarice revela tudo: a solidão, a vulnerabilidade, a brutalidade do mundo contra quem é frágil. O livro é um soco no estômago porque a gente vai criando afeto por Macabéa e entendendo que sua vida, embora sem glamour, é cheia de humanidade. E, no final, a estrela do título surge justamente na hora mais trágica — aquela em que, por ironia do destino, ela encontra um instante de brilho. É um retrato cruel da desigualdade e da indiferença social, mas escrito com a poesia e a intensidade que só a Clarice tem. É daqueles que fazem a gente olhar para o mundo com outros olhos.
👉 Espero no próximo mês trazer uma listinha especial de recomendações, caso eu consiga ler mais livros e, claro, que vocês tenham gostado do Mary Recomenda de hoje, que fica por aqui, mas pode voltar a qualquer momento na nossa programação ou na próxima sexta-feira, às 18h. Um forte abraço e até lá!
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