Se datas carregam simbolismos, o dia 17 de novembro é quase um portal secreto da literatura. Nele nasceram escritores de alma inquieta, inventores de mundos e cronistas do invisível. É por esse motivo que o Mary Recomenda de hoje tem um brilho todo especial.
🌵 Rachel de Queiroz (1910–2003)
Primeira mulher a ingressar na Academia Brasileira de Letras, Rachel nasceu em 17 de novembro de 1910, em Fortaleza. Aos 19 anos, publicou O Quinze, romance brutalmente sensível sobre a seca de 1915, e reinventou o lugar do Nordeste na literatura brasileira.
Rachel não escreveu “sobre retirantes”, mas com eles, por eles, a partir deles.
Sem exotismo, sem romantização. Seu estilo é seco como a caatinga, direto como um relâmpago, mas atravessado por uma ternura que nunca vira pieguice.
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🇮🇹 Alberto Moravia (1907–1990)
Jornalista, romancista, político e um dos maiores nomes da literatura italiana do século XX.
Temas: existencialismo, alienação, desejo, moralidade, relações humanas e política.
Livros famosos: A Romana, O Conformista, O Desprezo (que virou filme do Godard).
Moravia é essencial para quem gosta de literatura que coloca o dedo nas feridas da sociedade.
🇬🇧 Harry Kroto (1939–2016)
Cientista vencedor do Prêmio Nobel de Química. Basta olhar para a história da buckminsterfulereno, que parece saída de ficção científica.
Eugène Marais (1871–1936)
Poeta, romancista e cientista sul-africano. É figura importantíssima na literatura africâner, autor de clássicos como The Soul of the White Ant e The Soul of the Ape. Mistura poesia com etologia, filosofia e observação social.
Augustin Thierry (1795–1856)
Historiador francês que revolucionou a historiografia europeia ao inserir narrativa literária nas obras históricas. É conhecido principalmente por Histoire de la Conquête de l’Angleterre par les Normands.
Manuel Antônio de Almeida (1831–1861)
Manuel Antônio de Almeida foi um daqueles gênios silenciosos, que chegam cedo, escrevem depressa e mudam tudo sem alarde. Carioca, funcionário público, jornalista e médico por formação, ele publicou Memórias de um Sargento de Milícias em folhetins no Correio Mercantil entre 1852 e 1853, sem imaginar que estava inaugurando uma das obras mais modernas da literatura brasileira.
Memórias quebra completamente o padrão dos romances do século XIX: não tem idealização, não tem heroísmo, não tem castidade, não tem moralismo. É um livro povoado por barbeiros, comadres, sacristãos, espertalhões, malandros, vadios, gente comum, gente da rua, gente real. Ele não pinta um Brasil idealizado: ele mostra o Brasil que existe.
Por isso muitos críticos dizem que, décadas antes de existir “realismo brasileiro”, Manuel já estava fazendo realismo de forma intuitiva.
Infelizmente, morreu muito cedo, aos 30 anos, num naufrágio na costa de Macaé. O Brasil perdeu ali um talento que poderia ter sido monumental. Mas, mesmo num romance só, ele ajudou a abrir caminho para Macedo, Alencar, Aluísio Azevedo, Lima Barreto e tantos o
⭐ Menção Honrosa: Janete Clair (1925–1983)
Se o dia 17 de novembro é o aniversário de vários escritores importantes, também marca a despedida de uma das maiores narradoras que o Brasil já teve: Janete Clair, a mente brilhante por trás do melodrama moderno e a responsável por transformar a telenovela em um fenômeno nacional.
Janete escreveu como poucas pessoas ousaram escrever: com coração, fúria, velocidade e técnica. Criou personagens que respiram até hoje — como João Coragem, Carinha de Anjo, Salvador, Carlão — e costurava dramas humanos com um senso de ritmo cinematográfico. Ela tinha o dom raríssimo de ouvir o país e, ao mesmo tempo, conduzir o país para onde queria.
Do rádio à televisão, Janete fez de tudo: suspense, romantismo, política, denúncia social, catástrofe, triângulo amoroso, cidade inteira explodindo, sempre com talento, energia e aquela assinatura inconfundível. É impossível falar de narrativa popular brasileira sem falar dela.
🌟 Outros nascidos em 17 de novembro
17 de novembro é um berçário improvável de criatividade: nesse dia nasceram de romancistas brasileiros a astros de Hollywood e ícones da cultura popular.
Rock Hudson (1925) — astro do cinema clássico americano.
Danny DeVito (1944) — ator icônico de Hollywood.
RuPaul (1960) — fenômeno cultural.
Lorne Michaels (1944) — criador do Saturday Night Live.
Rachel McAdams (1978) — atriz estadunidense, para muitos de nós, a eterna Regina George.
17 de novembro também é o dia em que eu, Mary Luz, nasci. Embora precise comer muito feijão com arroz para chegar a ser poeira do mindinho do pé desses escritores, sigo caminhando, lendo, escrevendo e aprendendo com eles.
O Mary Recomenda com cheiro de livro e de bolo assado vai ficando por aqui. Um forte abraço e até a próxima!
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