Simplesmente Tita — 2ª Temporada — 8º Capítulo


Eu viveria mil anos apenas por um beijo seu


A chance de ter nascido era de uma em trilhões, mas venci aquela maratona, correndo desenfreadamente para chegar a algum lugar. Cruzei uma linha invisível e assumi todos os riscos inerentes.
Fui vencedora.
Cresci até adquirir a forma que me preparava para outro desafio: deixar aquele recanto quente e confortável para partir em direção a outra reviravolta que me desarmou.
As luzes eram tão fortes, o medo também. Eu chorava porque não sabia falar, era totalmente dependente dos cuidados alheios e todos em volta celebravam a chegada de uma garotinha saudável, pronta para desbravar o mundo e vencer.
Muitas circunstâncias já me fizeram desejar estar entre aqueles trilhões que não estão vivos nem mortos, não são coisa alguma.
Por outro lado, a vida me ensinou o que era necessário saber para crescer e sobreviver em um mundo ainda muito distante de ser justo, cercada de pessoas que sentiram prazer em me segregar conforme seus preceitos distorcidos acerca de quase tudo.
Tentaram me empurrar do precipício esperando que eu caísse e morresse, mas menina ainda descobri que a imaginação era meu par de asas e não tendo nascido anjo, desenhei meu próprio escudo, colori a escuridão, fiz poesia sem rima e cantei com o coração.
Então, te conheci... E só esse instante fez valer todos os sacrifícios que fiz para chegar onde estou exatamente agora...
Tudo impossibilitava o nosso encontro. Eu não estava inserida no seu círculo de amigos e tampouco possuía qualquer esperança de algum dia te abraçar por um minuto que fosse porque vivíamos em dois universos opostos, rodando numa órbita onde nem o calor do sol poderia nos aquecer.
Eu, pelo menos.
A distância era ainda maior quando calculada. Sentida, pois sim, de todas as maneiras.
Uma pessoa muito sábia me ensinou que quando um sentimento é verdadeiro, o destino sempre arranja um meio de encurtar as fronteiras e fazer com que suas almas afins se reconheçam por intermédio de um olhar.
E no seu olhar não só me reconheço como me desnudo, me entrego, me faço sua, te faço poesia, te prometo que se vivesse mil vezes mais, em todas elas eu desejaria te encontrar aonde quer que você estivesse.
Eu viveria mil anos apenas por um beijo seu.

Simplesmente Tita — 2ª Temporada — 7º Capítulo


Destrinchando a letra | Even Flow - Pearl Jam


Boa tarde, amigos e amigas do WNBM! O Destrinchando a Letra está entrando no ar e a letra de hoje também foi um fenômeno da década de 90. Estou falando de Even Flow, do Pearl Jam, incluída no álbum Ten, de 1992, um daqueles discos que eu adoraria que o Papai Noel me trouxesse. De brinde, ainda está na trilha sonora de Simplesmente Tita, por ser aquele som que os jovens curtiam numa boa.

Falando um pouco sobre os anos 90, quem viveu naquela época sabe como o cenário musical era diverso. Para muitos, o pagode ou o axé music eram as grandes tendências, mas nem todo mundo se sentia parte dessa onda, havia espaço para todos curtirem o que amavam. A Tita, por exemplo, começa a se encontrar ouvindo rock, e o rock se torna para ela uma forma de resistência que ela ainda nem imagina. A música sempre foi uma forma poderosa de expressão, e, no caso dela, esse gênero ajudará a moldar sua identidade.

Agora, voltando a Even Flow, essa música nunca envelhece. Vinte e um anos já se passaram e, mesmo assim, ainda tem gente ouvindo, curtindo, e aprendendo a tocar violão e guitarra. Os próprios integrantes da banda falam que essa música é a mais difícil de tocar, o que só reforça o quanto ela tem de especial. Lembro de tê-la ouvido pela primeira vez na oitava série, e sempre sinto como se as notas fossem atemporais. 






Even Flow
Fluxo Constante

Pearl Jam

Freezin', rests his head on a pillow made of concrete, again
Congelando, descansa sua cabeça em um travesseiro feito de concreto, de novo
Oh, feelin', maybe he'll feel a little better set a days, ooh yeah
Sentindo, talvez ele se sinta um pouco melhor em alguns dias
Oh, hand out, faces that he sees time again ain't that familiar, oh yeah
Esmola, rostos que ele sempre vê já não são tão familiares
Oh, dark grin, he can't help, when he's happy looks insane, oh yeah
Sorriso sombrio, ele não pode evitar, quando está feliz parece insano, oh yeah

Even flow, thoughts arrive like butterflies
Fluxo constante, pensamentos chegam como borboletas
Oh, he don't know, so he chases them away
Ele não sabe, então ele os expulsa
Someday yet, he'll begin his life again
Algum dia ainda, ele começará sua vida novamente
Life again, life again...
Vida novamente, vida novamente...

Kneelin', looking through the paper though he doesn't know to read, ooh yeah
Ajoelhando, olhando para o jornal mesmo sem saber ler
Oh, prayin', now to something that has never showed him anything
Rezando, agora para alguma coisa que nunca o mostrou nada
Oh, feelin', understands the weather of the winters on its way
Sentindo, entende que o inverno está chegando
Oh, ceilings, few and far between all the legal halls of shame, yeah
Tetos, raros entre todos os legítimos salões da vergonha

Even flow, thoughts arrive like butterflies
Fluxo constante, pensamentos chegam como borboletas
Oh, he don't know, so he chases them away
Ele não sabe, então ele os expulsa
Someday yet, he'll begin his life again
Algum dia ainda, ele começará sua vida novamente
Whispering hands, gently lead him away
Mãos sussurrantes, o conduzem gentilmente para longe...
Him away, him away...
Para longe, para longe...
Yeah!
Yeah!
Woo...ah yeah...fuck it up...
Woo... ah yeah... foda-se tudo...

Even flow, thoughts arrive like butterflies
Fluxo constante, pensamentos chegam como borboletas
Oh, he don't know, so he chases them away
Ele não sabe, então ele os expulsa
Someday yet, he'll begin his life again, yeah
Algum dia ainda, ele começará sua vida novamente
Oh, whispering hands, gently lead him away
Mãos sussurrantes, o conduzem gentilmente para longe...
Him away, him away...
Ele longe, ele longe...
Yeah!
Yeah!
Woo...uh huh...yeah, yeah, fuck'em up again...
Woo... uh huh... yeah, yeah, fodam-se todos de novo...

A música Even Flow fala sobre as dificuldades e a luta pela sobrevivência em um mundo imprevisível. Ela retrata a vida de uma pessoa que vive à margem da sociedade, sem um lugar fixo, sem estabilidade e enfrentando as adversidades do cotidiano. A letra descreve uma jornada cheia de incertezas, com a pessoa sendo levada pelas circunstâncias, tentando encontrar um propósito, mas sendo constantemente desafiada pelas dificuldades da vida.

O tema da música é bastante profundo, abordando a sensação de estar à deriva, sem controle sobre a própria existência, e a luta constante para encontrar um sentido no meio do caos. A ideia do “even flow” (fluxo constante) pode ser vista como a metáfora para a constante mudança e a sensação de que a vida está sempre fluindo, sem garantias, para o bem ou para o mal.

A canção também transmite uma sensação de desamparo e solidão, mas, ao mesmo tempo, carrega uma certa resistência — como se, apesar de tudo, a pessoa continuasse a lutar, mesmo sem saber ao certo para onde está indo. Esse “fluxo” da vida é algo que pode ser interpretado de muitas formas, mas a ideia central é de adaptação e resistência frente a adversidades, algo que muitos jovens, como a Tita, podem sentir ao tentar se encontrar no meio de um mundo cheio de expectativas e desafios.

Daqui a pouco, às 17h, tem mais um capítulo de Simplesmente Tita e, às 18h, as fortes emoções da reta final de Confissões de Laly.

Simplesmente Tita — 2ª Temporada — 5º Capítulo


Destrinchando a letra | Nutshell - Alice in Chains


Boa tarde, amigos e amigas!

O Destrinchando a Letra de hoje traz uma música que é pura emoção. Vamos falar de Nutshell, do Alice in Chains, uma das bandas mais importantes do movimento grunge de Seattle nos anos 90, ao lado de Pearl Jam, Nirvana e Soundgarden.

Talvez fosse óbvio escolher Man in the Box ou Would?, que também têm tudo a ver com o clima de Simplesmente Tita. Mas Nutshell me ganhou. Esse som, cheio de camadas e significados, conversa direto com o coração de quem já se sentiu fora de lugar. Aliás, “nutshell” pode significar “casca de noz”, “concha” — uma metáfora para quem, como a Tita, vai se descobrindo e se protegendo, ainda sem saber a força que carrega.

O Jar of Flies (1994), EP que inclui Nutshell, foi o primeiro a alcançar o topo da Billboard — um feito incrível para um EP. Outras faixas de destaque são No Excuses e, claro, Nutshell, um clássico que fala sobre solidão, luta e autoconhecimento. É provável que o vocalista Layne Staley tenha refletido ali sobre suas próprias batalhas pessoais, principalmente contra o vício, que infelizmente o tirou de nós muito cedo.

A biografia oficial do Alice in Chains que encontrei no Wikipédia está meio resumida, então deixo também o link de um blog de rock que apresenta uma história mais completa para quem quiser mergulhar fundo nesse universo.


BIOGRAFIA COMPLETA ALICE IN CHAINS.

Confesso: estou me apaixonando agora, de verdade, pelo rock que sempre admirei. Descobrindo discos, histórias, nuances... Só falta ganhar na Mega Sena pra sair comprando todos os álbuns e EPs que quero!

Sobre a música:
Se você apenas ouvir superficialmente, pode achar que Nutshell é triste e só. Mas se abrir seu coração para as metáforas, ironias e mensagens implícitas, vai perceber como essa letra fala de sentimentos universais: a busca por identidade, a luta para não se perder no meio do caos, o desejo de encontrar um lugar seguro para ser quem realmente se é.

Inclusive, na trama de Simplesmente Tita, a descoberta do rock é uma forma inconsciente de resistência para a Tita. Um jeito de encontrar sua própria voz em meio a um mundo que quer a moldar de outra forma. (E, claro, quando a Meire descobrir isso, vai jurar que é “coisa do capeta”. Ah, Meire, você realmente se leva a sério demais!)

Ah! E para quem não sabe, o Alice in Chains segue na ativa: desde 2006, William DuVall assumiu os vocais, mantendo viva a história da banda.

Agora, bora ouvir essa canção que é puro sentimento. Primeiro na versão original do EP e depois na versão acústica, que muita gente considera ainda mais tocante.



E a versão acústica a qual dizem que é bem mais conhecida que a versão original, do EP. De qualquer forma, é sempre bom compartilhar música decente. Me crucifiquem se quiserem, mas essa música tem muito mais o que dizer do que muita porcaria que está figurando os tops musicais.


Nutshell
Casca de Noz

Alice in Chains

We chase misprinted lies
Nós perseguimos mentiras mal contadas
We face the path of time
Nós encaramos o caminho do tempo
And yet I fight, and yet I fight
E eu ainda luto, e eu ainda luto
This battle all alone
Esta batalha completamente sozinho
No one to cry to, no place to call home
Ninguém por quem chorar, nenhum lugar para chamar de lar

My gift of self is raped
Meu amor-próprio foi violado
My privacy is raked
Minha privacidade foi invadida
And yet I find, and yet I find
E ainda encontro, e eu ainda encontro
Repeating in my head
Se repetindo em minha mente
If I can't be my own, I'd feel better dead
Se não posso ser eu mesmo, eu me sentiria melhor morto

🎵✨

O Destrinchando a Letra de hoje fica por aqui! Se estiver com saudades, é só clicar no marcador para conferir as edições anteriores.
E não se esqueça: logo mais às 17h tem capítulo inédito de Simplesmente Tita e às 18h fortes emoções na reta final de Confissões de Laly. Continue navegando aqui no WNBM!

25 desejos

Sandy Cheeks.

Depois dos 25 | O primeiro parágrafo pode ser o fim e ninguém sabe

 


Sempre chove no meu aniversário e esse friozinho gostoso acaba me completando mais que uma daquelas noites quentes em que nenhuma posição me conforta.

Meu apetite não é tão voraz quanto eu pensava. As borboletas no estômago me recordam isso.

Antes eu me enganava, assistia o que não gostava, cultivava “pessoas” para manter “lembranças” daquilo que nunca havia existido, mas me esforcei para que uma vez ao menos fosse especial para alguém, não sem antes me odiar um bocado por nunca corresponder às expectativas.

Ilusão de que os problemas eram pequenos e eu mais alegre. Sei que não passou disso. Outra utopia que alimentei, confundindo de novo os sinais, a exemplo daquilo que aconteceu com aquele garoto por quem pensei estar apaixonada.

Foi bom reconhecer que fiz o papel de otária porque com a dor eu teria a vergonha na cara que me faltou por tanto tempo, para discernir que eu merecia muito mais que migalhas.

Fui observadora em vez de protagonista. 
Que se foda a novela! Todas elas! 

Cobrança disfarçada de entretenimento. Arquétipos comportamentais descartáveis. 
Engoli minha opinião para ter sanidade. 
A sala de espera me torturou. 
Passei longe da prateleira onde o destaque era uma série de dicas para ser magra e linda como aquela atriz que está namorando o craque do momento. 
Mas pensei bem se precisava daquilo. 
Cheguei à conclusão de que não.

Fui me reinventando. 
Seletividade. 
Eu precisava de uma palavra-chave que adequasse àquilo que sou agora. 
Até um pouco casmurra, por que mentir? 

Eu não me sinto tão à vontade em festas de aniversário, nem promovendo nenhum tipo de hipocrisia que me obrigue a sorrir para estranhos.

Eu não tenho medo de ser diferente, mas de ser apontada como o problema. 
Porque fui condicionada a me rejeitar por não ser como todas as outras. 
Minha mãe me disse que não se planta um jardim com flores iguais.

O espelho refletia o que aquele programa imbecil de fofocas pregava. 
Puta merda! Que padrão mais chato! 
Quem faz parte dele? 
Uma minoria, sem dúvida. 
Coando, mutilando, oprimindo. 
Um padrão melancólico e abrasivo do que é certo para alguém, não para mim. 
Porque não é correto percorrer objetivos que amanhã ou mais tarde se perderão.

Tem um mundo que esperava o meu olhar. 
Porque se essa tal de verdade suprema é outra balela, descarto as mais insensatas hipóteses e percebo nitidamente que se eu pensar por mim, cabe também decidir de que lado me sentirei bem.

Quero fazer o bem, mas essa coisa de posar de santa não me faz a cabeça. 
Inha não é comigo, acorda! 
Acordei! 

Normal não sou.
É um praxe rotular. 
Sem conhecer, principalmente. 
Aquela coisinha inconsciente, displicente e tão humana. 
Nem sempre justa, nem sempre condizente.

E de louca e pecadora tenho muito, não é pouco. 

O que posso ter para brindar? 

Eu mal sei beber. 
Essa coisa de me conter, falo mesmo, é um saco!

Minha boca “suja” é mais limpa do que muitos corações ditos “puros”.

Tenho poucos amigos. 
Pouquíssimos. 
Confiar plenamente aniquilou minha paciência. 
Tem gente que abusa desse negócio de intimidade. 

Um silêncio delineado com o caderno aberto e uma caneta são o meu tesouro, bem mais que dinheiro enterrado, brindes com champanhe importado.

Vinte e cinco primaveras e nenhuma flor. 
Nem me venha com rosa-vermelha e frase feita, meu bem. 
Não me chama de “mô”, porra. 
Quero um amor que ninguém nunca me deu, um amor para chamar mesmo de meu. 
Até nas mais doidas projeções. 
Uma história confiada, polida aos mínimos detalhes pela personalidade. 

Um poema pela metade ainda vale mais que a dignidade de alguns. 
Sem ponto nem nada. 
O primeiro parágrafo pode ser o fim e ninguém sabe.


By Mary <3

*escrito no dia 16/11/2013.

(Dos tempos do WNBM) Sonho de amor...


Sonhei que você me conduzia ao desejo. Viajando devagar aos meus lábios, os seus me tocaram, me trouxeram a paz que há tempos eu tanto procuro. 
Naveguei calmamente em você e enquanto durou, me entreguei totalmente ao que deixou de ser um capricho. O amor é cegamente poético, você vive os versos de olhos bem fechadinhos, sentindo as pinceladas de ternura e satisfação.
Poucos entendem que sanar o vazio não é colocando qualquer um no seu lugar. Eu queria você, mas não pode ser desse jeito. Só não sei o que faço com os meus sentimentos, com o gosto desse beijo que não sai da minha memória.
Um beijo e sonho, por fim acordei e ao meu lado ninguém que não seja o tédio. Só ele e não você.
Quem ama, padece à dor. Ultrajante certeza, não mais indago, também plenamente não acato, apenas ajusto as velas do meu coração em direção ao vento para poder me localizar e viajar para o mundo onde os sonhos de amor sejam livremente aptos para a realidade.

Simplesmente Tita — 16⁰ Capítulo

 

Editorial WNBM | Sobre não caber no molde que me venderam

O nível da prova do vestibular deste ano está visivelmente mais alto do que nos anos anteriores. Não me saí tão bem quanto gostaria — reconheço que não me preparei como deveria. Estou focada em outras prioridades que, neste momento, parecem tão urgentes quanto meu sonho.

É claro que fico triste. Ver o sonho adiado por mais um ano não é fácil. Mas, mesmo frustrada, sei que não é o fim da linha. Não é uma prova difícil que vai definir quem eu sou, nem invalidar meus talentos ou minha paixão. E é isso que quero dizer a todos os amigos, leitores e visitantes ocasionais que passam por aqui: a vida continua, e o nosso valor como pessoas não cabe dentro de um gabarito.

✍🏻✍🏻✍🏻✍🏻✍🏻✍🏻✍🏻✍🏻✍🏻

Mas não foi para isso que eu vim cedo postar.

Hoje descobri que o que sentia, lendo certas revistas na adolescência, era um sentimento comum entre muitas garotas. Nós perdemos nossa adolescência nos odiando por não sermos perfeitas como as artistas teen, nem como aquelas meninas escolhidas a dedo — ricas, magras, de cabelo liso, com namorado e populares na escola e nas redes sociais.

Eu olhava para a minha vida, cheia de inseguranças e dificuldades, e me odiava por não ter o corpo esguio, por não ter tantos amigos, por ainda ser virgem aos 16 anos. Me odiava profundamente.

Uma das razões de eu ter declarado guerra contra o meu próprio corpo foi essa cultura disfarçada de entretenimento, que, sob o verniz de "dicas de autoestima", banalizava tudo e manipulava milhares de meninas a acreditarem que elas não eram especiais, que elas não eram suficientes.

Hoje, com mais clareza, eu repudio essa lógica.


De quinzena em quinzena, lá está ela, a revista, sempre trazendo na capa um rosto conhecido — seja de um carinha de banda ou de uma artista teen cujo rosto parece um filtro digital. 

A ideia é simples: você deve admirar aquelas figuras, rir das piadas de um bando de garotos bonitos que não trazem nada além de uma estética que segue o fluxo. A revista impõe uma definição de beleza que acaba se tornando a referência para tudo o que você deve ser.

Mas, e quem disse que beleza define caráter? Ou que o ideal de perfeição apresentado ali é o único caminho?

Ao folhear, você se depara com dicas de moda que te forçam a se encaixar em um molde estreito. Não pode usar tal cor, não pode ter tal formato de corpo, precisa seguir certas normas para se encaixar nos padrões. Em meio a essa pressão silenciosa, você aprende que ser aceita tem um preço — é preciso estar dentro de um padrão estético e comportamental que parece ser o único modelo possível de vida. Mas será que isso é realmente o que te define?

Essas imposições de padrões, embora não intencionadas de forma explícita, acabam moldando mais do que apenas a nossa aparência. Elas interferem no desenvolvimento de um pensamento mais crítico e limitam as escolhas, criando uma visão de mundo estreita, onde o valor da pessoa é medido de acordo com sua aderência a esses padrões.

A grande questão é: até que ponto somos responsáveis por nos libertar desses moldes e buscar uma autêntica construção de identidade, sem a pressão de se encaixar em um ideal pré-definido?

Sempre esteve escancarado para quem quisesse enxergar: a tal revista, mesmo alcançando milhares de leitoras, nunca falou para todas. Seu editorial foi, desde sempre, voltado para um mundo idealizado, pasteurizado, onde 95% das meninas — reais, imperfeitas, diversas — nunca tiveram espaço. Sempre venderam um padrão inalcançável de beleza, comportamento e sucesso, travestido de inspiração, mas carregado de exclusão silenciosa.

E agora, diante da polêmica da vez, vemos mais do mesmo: o post compartilhado no Facebook foi grosseiramente tirado de contexto. Uma atitude oportunista, alimentada por interesses pessoais, por quem busca promoção fácil às custas da indignação alheia. Quem leu ao menos uma vez a revista sabe que há uma coluna dedicada ao humor, à sátira, à crítica ácida — e que o colunista, como sempre, mirava na contradição e no exagero, não no ataque gratuito.

O pior é que esse tipo de abordagem dita “feminista”, agressiva e desinformada, apenas reforça os estereótipos que deveríamos combater. Alimenta a imagem da mulher amarga, frustrada, intolerante e odiosa. Torna qualquer crítica legítima refém da caricatura. 

Quando a discussão verdadeira deveria ser outra: não a caça às bruxas, mas sim a cobrança por um editorial que consiga conciliar sua marca registrada — o humor, a leveza — com mais representatividade e inclusão. Era para ter sido uma conversa sobre ampliar vozes, e não sobre cancelar narrativas.

O verdadeiro problema nunca foi apenas a revista. O problema é a falta de leitura crítica. É a incapacidade — ou talvez a má vontade — de diferenciar o que é sátira do que é ataque, o que é inspiração do que é imposição. Sem essa consciência, continuamos a oscilar entre o consumo cego e a destruição burra — e em nenhum dos dois casos avançamos de verdade.

2 de maio | Dia Nacional do Humor

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