Malacubaca | É FESTA NA FAVELA E FORA DELA TAMBÉM 🏆

 Nota da autora: Parabéns, Flamengo. Hoje foi o dia de tirar aquele grito atravessado na garganta, viver altas emoções e ainda ter fôlego para amanhã. Não se esqueçam! Aos antis, sinto muito, mas eu sou Flamengo até morrer.

Chegou o dia mais esperado do ano: 23 de novembro, a grande final da Copa Libertadores entre Flamengo e River Plate. Após 38 anos, os rubro-negros quebram um jejum memorável, especialmente para as gerações mais jovens que não eram nascidas ou não tinham idade suficiente para lembrar as brilhantes atuações de Zico, Júnior e o grande elenco daquele inesquecível 1981.

(COISAS QUE VOCÊ SÓ VAI VER NA RPN) O CROSSOVER DA DÉCADA (spin-off especial)

Duas famílias nada convencionais estão prestes a se conhecer e viver uma experiência um tanto quanto inusitada. A proposta em si não é desconhecida no universo televisivo, no entanto, dessa vez não tem costa quente nem armação. Rubão garante que você não verá nada parecido na concorrência.
Antes da abertura do Programa do Rubão, sempre passa algum vídeo tosco e comentado pelo comunicador. 
— Olha o tipo do sujeito... — Rubão ri. — Olha... olha lá... Crise de riso. 
— O sujeito se ferrou...
Depois da abertura, o corpo de baile entra no estúdio ao som de Born to be alive — Patrick Hernández. Uirapuru entrega o microfone a Rubão, que saúda o público de casa. Ele costuma usar vestimentas extravagantes e fazer algum comentário sobre o assistente dele, para desanuviar o clima.
— Pessoal de casa, se a TV tivesse cheiro, vocês saberiam que o Uirapuru está apaixonado.
O homem cora.
— Que perfume, rapá. O Uirapuru tem essa cara de come quieto, mas é o maior pegador...
Uirapuru nega.
— O Uirapuru, depois do nosso ilustre Edu Meirelles, é o campeão de cartas aqui na RPN, arrasa corações. Esses dias, uma rapariga que não se identificou mandou uma calcinha...
A plateia cai no riso.
— Calcinha vermelha. De renda.
Rubão ri e Uirapuru devolve:
— É mentira dele, recebi nada não!
— Olha a responsa, Uirapuru. Sua admiradora secreta está te assistindo... deixa um recado para ela.
— Sacanagem, pô...
Rubão dá um tapinha nas costas do amigo e bagunça o cabelo dele:
— É brincadeira... O Uirapuru não pega nem resfriado...
— Assim também não, minha mulher está vendo o programa...
— Um beijo para você, D. Neusa. Não coloque o Uirapuru para dormir no sofá, não, ele só tem olhos para você...
Quem recebe cartas com calcinhas sensuais é Edu Meirelles, mas isso é assunto para outra ocasião.
— Boa tarde, Brasil! O Programa do Rubão está no ar comigo, o seu galã de todos os domingos... Aqui não tem desânimo, não, xará! Arranca essa carranca, que o Rubão chegou. Nem pense em trocar de canal! Hoje o Programa do Rubão promete... Se você perder, rapá, perdeu! Vai render assunto para a semana inteira. Eu recomendo que você pare o que estiver fazendo porque o programa de hoje, olha, até eu, que tenho experiência, que domino qualquer situação, estou impressionado. Você não viu nada parecido na concorrência. Vai ter cacetada, vai ter câmera escondida, nossa pausa pro futebol, nosso giro de notícias, mas...
Propositalmente, Rubão é cortado para ir ao ar um teaser do tal quadro misterioso.

— Eu sou linha dura mesmo! E com orgulho! Imponho respeito! Comigo, criança mal-educada entra nos eixos. — Apesar de Meire das Neves estar de costas, sua voz é reconhecível. — Nada que um sarrafo bem-dado no meio da cara não resolva. Não tem essa de criança mandar em pai e mãe, criança não tem querer, se quiser tem chicote, vara, cinto e pimenta-malagueta na boca, além de bicuda no traseiro.
— Ah, eu faço o que for pela minha família. Os meus eu defendo com unhas e dentes, boto a mão no fogo. Sou mãe coruja, sim, meus filhos são os mais bonitos, os mais inteligentes e, modéstia à parte, eu sou uma mãe maravilhosa. — Graça Cavicholo também não é mostrada pelas câmeras.
Corta para Rubão.
— Tô falando, não saia daí porque o programa de hoje promete... — anuncia Rubão, sensacionalista como só ele mesmo poderia ser. — Essa minha produção apronta cada uma... bateu ou não bateu uma curiosidade básica? Fala para mim, vai...

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Meire das Neves é apresentada ao público. Foram colhidas imagens dela trabalhando em casa.
— Sou a Meire, mãe da Tita, mãe linha dura, das antigas, mãe que impõe respeito. Comigo, tem que andar na linha senão o bicho pega.
Meire confere o dever de casa de Tita, à noite desliga a televisão quando se supõe que já seja tarde demais para uma criança estar acordada.
— Educar os filhos não é para qualquer um e eu acredito que não estou falhando nessa missão. Criança precisa aprender a respeitar autoridade, ter disciplina, engajamento, não está certo esse negócio de filho mandar em pai, criança respondona tem que ser colocada no devido lugar.
Meire veste a jaqueta de tactel e Tita coloca a mochila nas costas para juntas irem até o carro. Como a garota está uniformizada, entende-se que será levada até o colégio pela progenitora.
— É, a Tita está naquela fase complicada de aborrescência, de querer ficar no quarto, de esconder tudo de mim, mas no geral, eu acredito que minha criação está sendo excelente. Eu coloco ordem, ela obedece e podemos nos considerar uma família feliz e estruturada. — Ela balança a cabeça com os olhos arregalados. — Ah, não. Bagunça é inadmissível! Cai dedo, lavar a louça que sujou e guardar no lugar? Porque pra jogar videogame e fritar o cérebro por horas a fio o dedinho está bem que é uma beleza, nunca vi igual... eu não entendo o que esses jovens tanto veem nesses videogames..., sim, é verdade que hoje em dia já não é mais que nem no nosso tempo em que a molecada podia brincar na rua, mas eu não deixo filha minha brincar na rua, sei a criação que estou dando e não quero que corrompam a Tita... não dá... não dá mesmo... ser mãe hoje em dia é pra quem tem o coração forte porque o mundo, que nunca foi lá tão bonito, está a cada dia pior... mas quem se importa? Os governantes só pensam em si, falam, falam, mas não dizem nada. No fundo, só querem mesmo é o nosso dinheirinho suado e se perpetuarem no poder com essa conversa de acabar com a corrupção. Acaba coisa nenhuma. Todo mundo rouba. Não tem santo, não. Eu não voto em pilantra nenhum, para se ter uma ideia, eu não torço para o Brasil nem em copa do mundo. Não sou mulher que se dobra fácil e sei que minha filha deve me admirar mais do que tudo no mundo.

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É mostrada a fachada de um simpático prédio residencial do outro lado da cidade onde vive a fofoqueira Graça Cavicholo. Numa tomada ela está ajeitando o topete de Renan, seu filho mais novo, e beijando a testa de Isabella, sua neta. Em outra passagem, a família Cavicholo está degustando uma refeição e Fabíola, a primogênita e mãe de Isabella, até usa o guardanapo de pano para causar uma boa impressão.
— Ah, minha família é tudo para mim.
Vários álbuns de fotografias estão espalhados pela mesinha de centro e Graça os folheia enquanto fala sobre os dois filhos e a neta.
— A Fabíola, minha querida Fabi, sofreu um grande golpe da vida e foi mãe muito cedo, o Otto e eu não esperávamos ser avós assim tão cedo, pois apostávamos todas as nossas fichas de que nossa Fabi seria doutora ou então se casaria com um médico, mas a Isa foi um presente de Deus e uma família com F maiúsculo se apoia em todos os momentos. A Isa veio ao mundo para compensar os anos de sofrimento e tristeza que os Cavicholos passaram depois que o meu sogro, o pai do Otto, morreu, e tudo que restou foi esse prédio onde moramos. Somos donos, mas com o que ganhamos com os aluguéis está quase difícil de sobreviver, e esse desemprego... a pobre Fabíola até tenta arranjar ocupação, mas só ouve não... eles querem quem tem experiência, mas como ela vai ter experiência se não dão oportunidade? Meu pobre Otto sofreu um acidente de trabalho e está aposentado por invalidez, faz um bico aqui, outro lá, o danado até tem uns tostões para sobreviver, mas ficar parado em casa não é a praia dele. Ah, meu Renan, meu Renan é um comunicador nato, é o melhor aluno de toda a escola, tem um carisma sem fim que faz a meninada cair de amores por ele, mas focado como é, só quer saber de estudar, quer ser bombeiro esse piá, sem falar que é meu companheiro de novela, a gente assiste a todas as novelas. Os Cavicholos são muito noveleiros. Final de novela é final de copa do mundo: a gente prepara aperitivos, bebidinhas e até o coração. Na hora da novela pode estar caindo o maior toró, o mundo acabando, eu detesto ser perturbada.

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Corta para Rubão, que esfrega as mãos.
— Essas duas mães não se conhecem, não sabem uma da outra, nem imaginam o que nossa produção armou para cima delas... não, você não pode perder essa.
Rei da enrolação, Rubão chama o intervalo comercial, depois faz um giro de notícias, tudo para manter a audiência lá nas alturas.
— Essas duas mães estão prestes a trocar de lugar uma com a outra... — narra Rubão quando a matéria que apresenta as mães ao público volta a ser exibida dentro do programa. — Essas mães nem imaginam que estão sendo entrevistadas pela RPN para participarem desse quadro do nosso programa, elas acham que a matéria sairá em algum noticiário...
Rubão dá uma risadinha fina e sussurra: 
— Vamos ver como elas irão reagir quando souberem...

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Meire a princípio não reage muito bem, pois estar no controle de tudo lhe dá a sensação de segurança que na realidade nunca teve, embora seu zelo acabe por sufocar Tita.
— Um fundo para a faculdade da minha filha? Desejo que a Renata entre numa federal, mas a gente sabe que a concorrência é grande e muito desleal. Filha minha, haverá de ser alguém na vida sem depender de homem. Eu não quero que minha filha dependa do casamento para ser alguém na vida. Na realidade, não importa. Quem faz o profissional é ele mesmo, não é? Também acredito que será uma experiência enriquecedora colocar ordem em outras casas e adotar meu sistema disciplinar que, modéstia à parte, é um sucesso absoluto. Topo esse desafio com a certeza de sair dele fortalecida.

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No apartamento dos Cavicholos, choradeira total.
— Ficar longe dos meus pimpolhos? Mas quem vai cuidar deles? — Graça chora. — Eu não suporto ficar nem um dia longe dos meus pimpolhos, mas se eu ganhar essa bolada de dinheiro, quero ajudar a Fabi a abrir um negócio próprio. A coitadinha precisa de um apoio financeiro para trazer o pão de cada dia para casa, mas vai ser um sacrifício para mim... 
A fofoqueira gesticula, dramática como só ela poderia ser.
— Uma mãe é capaz dos sacrifícios mais extraordinários pela felicidade de um filho, portanto, lá vou eu, para um lar desconhecido, com pessoas desconhecidas, abrir as portas da minha mansão para uma desconhecida tomar conta dos meus filhos, mas, por amor, eu poderia muito mais!..
Graça assoa o nariz.
— Desculpa, mas não posso conter a emoção. Sou de câncer, a matriarca da família. Não faço a menor ideia de como será passar tanto tempo sem contato com meus pimpolhos, sem saber o que se passa aqui. Pensando nisso, escrevi uma lista de tudo que considero essencial para a outra mãe saber sobre os meus pimpolhos.
Graça prega uma lista na geladeira.
— Com essa lista, a desconhecida poderá se adaptar mais depressa ao ritmo dos Cavicholos. Agora, se me permitem, preciso contar essa triste notícia aos herdeiros!

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Rubão interrompe a matéria.
— E isso é só o começo! Mas o Programa do Rubão fará uma pausa para o futebol e voltará em seguida com essa e muitas outras atrações para espantar a carranca do seu rosto...

RPN | A SAIDEIRA É POR CONTA DO MEIRELLES

 

Mascote da RPN veste o manto rubro-negro (Reprodução: criação pessoal da Mary)

É a primeira vez que um vídeo motivacional da Lulu não dá zica. Sim, ela preparou um vídeo especial para motivar o Flamengo a voltar a uma final de Libertadores após 38 anos — motivo de alegria para qualquer flamenguista que se preze e para esta flamenguista que os escreve.

Leve o tempo que for


"A imensidão da estrada assusta. Já dei alguns passos, porém tudo é deserto à minha volta. Tenho medo. Faço monólogos mentais a fim de refletir até onde poderei suportar. Chegarei a algum lugar. Sim, não estou parada. Cada passo por vez, no meu ritmo, sem olhar para o lado e ver quem está adiantado ou olhar para trás, flertando com o arrependimento. Aqui e agora. Determinação. Se o sonho brotou em meu coração é porque sou aquela que irá realizá-lo, leve o tempo que for."

Às vezes sonho que tem alguém, em algum lugar desse mundo, que sonha com o mesmo que eu, alguém que gostaria de encontrar alguém como eu.



        Às vezes, quando não consigo dormir, fecho os olhos e imagino como deve ser abraçar alguém que te faz se sentir protegida, amada, que te aquece o corpo e a alma, como deve ser beijar alguém e sentir que o coração acelera e o desejo queima, pulsa; olhar dentro dos olhos desse alguém e compreender a razão dos desencontros do passado e deixar que alguém me enxergue também, cuidar, porém também deixar alguém cuidar de mim.
        Às vezes sonho que tem alguém, em algum lugar desse mundo, que sonha com o mesmo que eu, alguém que gostaria de encontrar alguém como eu.

Diga que me ama (cap. 10) ele fala


        Você já está nos braços de outra pessoa, amando e se deixando amar. Vocês formam um belo par. Ainda assim, dói. Meus sentimentos estão bagunçados. Alegro-me por saber que depois de todas as desilusões que lhe furtaram a fé, seu coração te guiou com a razão e as portas se abriram para que alguém adentrasse e cuidasse um pouco dessa alma incrível. 
Por outro lado, não serei hipócrita: eu queria ser essa pessoa que te proporciona tantos sorrisos, com quem você imagina um futuro ao lado, ainda que não possa mudar os fatos. Te ver sem poder te tocar, te sentir, ter qualquer esperança de te provar que meu apreço sempre foi verdadeiro, me martiriza sobremaneira. Preciso aceitar que agora você é meu maior impossível.
Queria te abraçar sem pressa e deslizar as mãos pela sua cintura, deixar os dedos correrem por entre os seus cabelos e te beijar. Eu ainda me lembro do seu gosto, deixou saudades no céu da boca. Seu cheiro na fronha do travesseiro, as pontas dos dedos curando feridas que a insegurança encobria com camadas de vaidade. Hoje te enviei aquela música, talvez tenha colocado tudo a perder, porque as mágoas não são muralhas que impedem o contato. Lágrimas não choradas nos surpreendem. Somos tão francos com o papel, libertamos nossos pesos conforme as páginas avançam.
Você se lembra de quando demos nosso último beijo? Sabíamos que seria o derradeiro? Havia algum sinal que não interpretamos muito bem ou fomos vítimas de uma sucessão de desencontros?
        Não quero te constranger te perguntando a respeito da música porque ela, por si só, diria muito mais do que eu, em minhas tentativas pífias de escrevinhar uma resposta digna. Melhor acreditar que te marquei por saber que The Corrs é uma das suas bandas favoritas. Poucos têm conhecimento de que você ainda guarda com carinho os CDs e discos ganhados e comprados. Forgiven, not forgotten é um deles. 
        Ora bolas, você está comprometida. Quase dez anos se passaram desde o nosso último beijo. Seguimos o curso de nossas vidas, nos permitimos beijar outros lábios, dormir em outros braços, encarar desafios e provações. O tempo não parou. Nossas escolhas nos levaram a estar onde estamos hoje. Se decorresse o inverso, a abnegação seria sua prova mais de pura de amor. 
Você viu Yasmin nos braços de outro rapaz e mesmo com o coração quebrado por saber que eles se envolviam enquanto vocês estavam juntas, seguiu em frente e decidiu cuidar um pouco mais de você mesma, não focou sua energia em planinhos ridículos de vingança.
       Ainda me lembro dos seus longos cabelos castanhos cobrindo a cintura, daquele vestido de verão branco com estampas florais e manga ciganinha que você usava naquele happy hour de ano-novo, do colar cujo pingente era um coração vazado, de seu sorriso também. 
Você me disse uma vez não se sentir bonita. Isso ainda se dá por você nunca ter enxergado sob as lentes de quem a ama. Se fosse capaz disso, se surpreenderia. Porque me surpreendi com a intensidade das batidas do meu coração quando nossos olhares se encontraram naquela mesa cheia de gente risonha e paqueradora e nos cumprimentamos pela primeira vez.
        Você estava desacompanhada e não usava anel de compromisso. A noite era longa. Amigos se reuniam e colocavam a prosa em dia. Suas amigas estavam trocando amassos com os companheiros enquanto você conversava e parecia até um pouco deslocada, não exatamente por não ter um par, mas porque não estava em seu lugar.
        — Está esperando alguém?
        Você fez que não com a cabeça.
        — Tudo bem se eu me sentar aqui?
        Você me perguntou se eu era quem era, confirmei com um sorriso e então me lembrei de uma moça bonita a qual alguns amigos meus comentavam, que apesar do talento não ascendia na profissão porque não dormia com o patrão. Não se aborreça comigo, mas era o papo que rolava entre amigos em comum, que a Cláudia Barreto só se tornou âncora do TVTV News porque saía com o Sr. Velloso, enquanto você, que havia estudado por quatro anos, feito pós-graduação e vários cursos livres, era preterida, apesar de talentosa.
        Essa moça bonita era você, também conhecida por não dar moral a ninguém.
As línguas maldosas diziam que você almejava ser à preferida do velho Velloso e por isso não assumia nenhum relacionamento. Outros já questionavam sua orientação sexual, embora naquela época você não falasse a respeito, fosse por medo de portas fechadas ou por separar vida pessoal da profissional com a maestria que poucos de nós conseguimos.
        — Pois é, tenho que estar de pé às sete. — Você deu de ombros. — Estou de plantão, por isso não vou beber nem um golinho, só vim dar um abraço no pessoal…
        — Não vai nem acordar para ver os fogos?
        — Talvez… — Você me respondeu, sorridente, e a conversa fluiu tanto que, por mais que seus sinais não fossem tão claros, a ideia de dormir com você se agigantou dentro de mim. Se você também curtia viver intensamente sem problematizar tudo, trato feito.
        — Depois do plantão, você vai ter uma folguinha? — Arrisquei, porque tudo que poderia ouvir de você era um não e até onde sei, ouvir não faz parte da vida. Pior do que ele, o nada, o nada que poderia ter sido tudo, a teia destrutiva da suposição.
        — Não. Sigo na labuta. Não paro nunca. — Você me respondeu.
        — Nem gripe te derruba? — Brinquei.
        — Só gripe e olha lá.
        A primeira impressão nem sempre é a mais correta, mas a sua desmontou todas aquelas teorias da conspiração que pipocavam a seu respeito. 
Naquele instante, vi uma jovem jornalista focada batalhando para construir uma reputação ilibada no trabalho, dedicada, entretanto, esgotada e ferida pela total falta de reconhecimento, sem oportunidades reais de ascensão.
Gozei desse privilégio, não posso negar; só agora me dou conta disso, de que o caminho que você trilhou para estar onde está, foi muito mais repleto de buracos, trechos íngremes e curvas perigosas. No entanto, para a felicidade geral, você nunca se intimidou nem com a pior das tempestades.
        — Me passa seu número?
        Meus planos para 2009 eram os de sempre, comuns a todos nós, os clichês que repetimos para que se tornem verdades. Aquele que brotou quando 2008 já se aproximava do derradeiro fim, foi te ver naquele novo ano, te ver nem que fosse uma só vez, quiçá a última.
        E você me passou seu número, aproveitando o ensejo também para se despedir da turma. Provavelmente até hoje você pensa que flertei com outra moça e passei a virada do ano acompanhado.
       Pouco depois que você saiu, eu poderia, sim, ter entornado vários drinques e me divertido com outra. Em vez disso, voltei para casa e passei a virada vendo televisão, olhando para o seu número gravado na minha agenda e pensando se seria muito atrevimento te deixar uma mensagem de feliz ano-novo.
        O tal do “escrevi, mas não tive coragem de enviar”.

Parabéns, Mariane! *-*


Feliz Aniversário, Mariane. *-* *-*


Parabéns pelos seus 30 anos, amiga!
Não sei se você pretende comemorar este dia memorável, mas não se esqueça da importância dele. Significa que você já teve oportunidades de aprender (com) e ensinar as pessoas. Que você viveu altos e baixos e tem muitas histórias para compartilhar. Eis que escrevo para um coração de tinta, que também tem ideias maravilhosas e por mais maravilhosa que seja escrita, não perde a humildade, segue carinhosa com cada leitor que se manifesta, não se envaidece com números e não permite que sejam eles os responsáveis pela sua autoestima, não mede seu talento - inegável - com eles. Ora, esqueci-me de dizer também que você cumpre tudo que promete.
Porque você é maior.
Maior do que tudo e todos que já tentaram (ou talvez tentem) te colocar para baixo.
Maior do que os seus temores e dificuldades.
Maior do que as lágrimas que já derrubou.
Maior do que os planos que deram errado.
Confesso que você merecia vencer aquele concurso muito mais do que eu, sua história é maravilhosa e não pensei que seria amiga de uma escritora que admiro. Pois bem, ele foi o meio pelo qual nos conhecemos. Senti-me mais feliz de conhecer o seu livro do que com a colocação que tive na categoria.
O tempo te tornou minha amiga e ultimamente ando seletiva com relação às pessoas que coloco em minha vida porque coleciono decepções, portanto sinta-se honrada, sua amizade é um presente e olha que a aniversariante é você.
Você não é aquela amiga que passa a mão na cabeça quando estou errada, sabe me dar bronca sem ser rude e costuma me mostrar que não há um único e irrefutável ponto de vista, a realidade é plural, o mundo também, faz parte da vida mudar de ideia, se desapegar de velhos hábitos, na medida do possível, encarar tudo com mais leveza.
Você é muito verdadeira em suas convicções, por isso quando disse que você é uma amiga verdadeira, é no sentido literal da expressão. 
Um dos mais recentes conselhos que você me deu foi o para não desperdiçar a década dos 30 como fiz com a dos 20, no afã de agradar às pessoas e medir meu valor de acordo com a aprovação (ou rejeição) delas; você também pediu para eu não me cobrar demais, e tem toda a razão (e olha que sou bem teimosa, dou sempre com a cara na parede por cometer os mesmos erros) porque meu perfeccionismo beira ao exagero. Até certo ponto é bom, no entanto excessos são prejudiciais.
Sempre que te mostro um texto é porque confio no seu juízo. 
Como hoje você está completando 30 anos e vai entrar numa nova fase da vida, desejo que ela seja próspera, feliz, repleta de realizações. Acredito no seu potencial. Seria redundância dizer que já te vejo vencedora porque você é uma. Meus votos são para que essa década seja simplesmente incrível e que sua estrela brilhe muito.
Desejo que você tenha saúde, se cuide sempre com carinho, acredite nos seus sonhos, em você mesma, não tolere nada nem ninguém que te faça mal, e acrescento que também espero te escrever por muitos anos ainda e que um dia possamos nos conhecer pessoalmente.
Escolhi o unicórnio como tema do seu cartão porque nunca vou me esquecer da Unicórnio e nem do concurso que me mostrou que se procurar direitinho, com carinho, dá para encontrar livros e pessoas incríveis no Wattpad. Você é uma delas. E que privilégio poder dizer que você é minha amiga, mesmo que não nos falemos todos os dias, entendo a correria, porém isso não me impede de te querer bem.
Saiba que escrevi tudo com carinho porque senti no coração que precisava te escrever um texto de aniversário à altura dos seus livros, do apoio que você me oferece sempre. Peço perdão porque às vezes não sou a melhor amiga do mundo, tenho medo de puxar conversa e levar vácuo ou de estar incomodando, também gosto de respeitar a privacidade das pessoas porque todo mundo precisa ter o seu espaço, mas quero dizer que não são palavras vazias, você pode contar comigo.
Você merecia um texto melhor do que esse, mas cada palavra foi pensada a fim de ser uma mensagem mais autoral, mais honesta, não apenas votos vazios e repetitivos.
Receba meu abraço e todo o meu carinho. 
Por favor, me prometa que vai lutar sempre pelo seu espaço, por tudo que acredita, que vai viver cada dia e saber que tanto os bons quanto os maus passam, que vai aproveitar as oportunidades que vierem e que vai ser a protagonista da sua própria história.
No dia de hoje agradeço imensamente a sua amizade. Que ela seja tão longa quanto espero que seja a sua vida. Longa, próspera e feliz. 
Curta cada minutinho não só do primeiro dia desse novo ciclo. E brilhe. Brilhe o mais forte que puder. Acredite, muitas pessoas se já não se inspiram, ainda irão se inspirar em você. ♥

Diga que me ama (cap. 2) - por Ceci



Amar o amor é muito diferente de aprisioná-lo em uma convenção atulhada de regras quase sempre egoístas, egocêntricas e retrógradas. Próxima dos 30 anos, as comparações com primas da mesma idade que já haviam deixado a vida de solteiras para construir famílias era constante. Olhares de piedade vindos das tias mais velhas que me pediam para “não perder a esperança”, como se o fato de não estar comprometida nos moldes mais tradicionais me condenasse a uma existência sem brilho.
Eu já não era mais uma foca na redação. Trabalhava arduamente e os imprevistos combinavam tanto quanto meu figurino. Às vezes preterida, às vezes esperançosa. A carreira era o foco central da minha vida, afinal, dela vinha (e ainda vem) o pão de cada dia. Vinha lutando para um propósito maior do que me sentar em uma bancada e passar dez ou até vinte anos (isso com sorte) fazendo o mesmo, muitos colegas nossos pereceriam por tudo isso. 
Eu buscava um sentido no ofício, um meio de me realizar como pessoa e compartilhar com a comunidade o aprendizado diário nas atividades que executava dentro e fora do ambiente de trabalho.
Meu coração, se assim pode dizer, estava ocupado demais para joguinhos estúpidos e pessoas que atravancassem meu caminho com possessividade e egoísmo. Não posso dizer que sempre sonhei em me casar de véu e grinalda e brincava de casinha porque seria uma tremenda hipócrita. Estava sempre metida nas partidas de futebol de rua com os meus irmãos, batendo figurinha, construindo carrinho de rolimã, passando longe de ser aquela menininha-padrão que toda mãe sonha em colocar frufru no cabelo e vestidinho com bainha de renda. 
Eu herdava a roupa dos mais velhos — o que podia ser aproveitado, sentia-me confortável, escaramuçando até a Vó Hilda gritar da janela do apartamento: “pra dentro, cambada!” e vivia cada dia de uma vez, sem me preocupar com o amanhã ou com o que pensariam de mim, eu estava ocupada demais me divertindo.
Tudo mudou quando eu estava com doze anos e meio. Eu já notava algumas mudanças no meu corpo, sobretudo em relação à estatura, que impressionou, porque as outras são irrelevantes ao contexto. Teria futuro enquanto levantadora, se assim desejasse, altura eu tinha. Poderia pensar em jogar basquete também. 
As transformações que encerrariam minha infância seriam mais cáusticas, profundas e inquestionáveis.
A família sempre foi o meu grande pilar. Não era novidade para ninguém que os parentes promovessem uma grande reunião no Natal e no ano-novo, oportunidade para os primos se reverem, colocarem as conversas em dia e brincarem até adormecerem nos colchões dispostos na sala do apartamento de vovó. 
A preparação começava cedo, com a Vó Hilda assando os perus e a Tia Zuleica, minha madrinha, correndo no mercado para comprar algum ingrediente que faltou, enquanto o Vô Ariosvaldo preparava o salão de festas do prédio porque a maioria dos moradores viajava durante o recesso.

****

1994 foi um ano bastante difícil e movimentado. Tivemos a perda do Senna, devastadora para o meu pai e meus irmãos mais velhos que apreciavam a Fórmula 1 até aquele sombrio primeiro de maio.
Em julho, com ou sem tetra, meu aniversário estava garantido, mas depois daquele pênalti que rendeu à seleção canarinho o quarto título mundial, não me importei em ser “esquecida”, meu aniversário foi dois dias antes. 
Triste foi perder minha cachorrinha Susi, uma vira-lata cor de caramelo, minha parceira desde os 4 anos. Ela se assustou tanto com os foguetes e rojões que fugiu do festerê no salão de festas, foi encontrada esmagada debaixo da roda do carro de um amigo do meu pai.
Esperava que 1995 fosse melhor, mesmo estando naquela fase em que quebraria todos os espelhos do mundo sem me importar com as superstições relacionadas. Fiz questão de usar o cropped branco de rendinha e a saia rodada cuja barra ficava a dois dedos das minhas coxas finas. Era presente da Dinda, não podia fazer desfeita.
Meus irmãos me achincalhavam dizendo que minhas pernas pareciam duas varetas. Eu estava medindo quase o mesmo que o papai e só não cheguei a ser modelo de passarela, apesar dos inúmeros clamores, porque nunca quis parar de comer e ser um cabide humano, descartado tão logo aparecesse outra de treze que contemplasse às expectativas. Zuleica me dizia que aquela fase de insegurança, angústia e inadequação daria espaço para algo muito maior, para a minha percepção real do que significava ser mulher.
Com a Dinda eu era totalmente transparente. Pelo fato de meu pai ser médico e minha mãe enfermeira, minha madrinha era uma figura de autoridade com quem podia desabafar naqueles tempos em que tinha tantas dúvidas, tantas curiosidades, tantos desejos. 
Ela morava com os pais para cuidar deles, porém trabalhava e custeava os próprios caprichos. No meio daquele ano pretendia conhecer Machu Pichu, no Peru, e queria me levar junto, com a condição de que eu me comportasse bem em casa e tirasse boas notas na escola.
Nosso último abraço sempre terminava com um “até mais” depois que eu pedia a bênção. Não tinha nenhum indício de que seria o último. Ela não tencionava nem por um segundo dar cabo da própria vida, amava acordar toda manhã, acender incensos para fazer suas preces matinais e nunca saía de casa com a barriga vazia. Vovô reclamava do aroma de mirra que se expandia por todo o apartamento. Para agora, Zuleica seria um exemplo de mulher empoderada que jamais precisou de um namorado ou marido para deixar um legado.
Falecer aos 42 anos era impensável. Jovem demais. Machu Pichu a esperava. Aquele ano e tudo o que perderia. Eu precisava dela mais do que nunca. Eu a amava mais do que a minha própria mãe. Muito, muito mais.
Quando acordei naquele fatídico primeiro de janeiro de 1995, lá por volta do meio-dia, escutei a choradeira na sala. Pensei que Drica, minha irmã caçula e pimentinha, havia aprontado das dela. Da última vez que bancou a engraçadinha, levou quatro pontos na testa, mas Adriana, de cócoras ao lado do sofá, observava aquela movimentação tensa com os olhos negros, bem arregalados.
— Que ano! — ironizou meu pai. — A Zuleica morre assim e agora a mamãe vai parar no hospital.
— E queria o quê, homem? Que sua mãe comemorasse a perda da Zuleica?
Mamãe me viu pelo corredor e a expressão tensa em seu rosto tanto poderia ser uma reprimenda em relação ao meu comportamento, como um sinal para o tal do “precisamos conversar”.
Minha madrinha tinha mania de limpeza, nunca dormia sem guardar toda a louça, por mais que vovó insistisse que daria conta de tudo pela manhã. Zuleica se angustiava com louça suja e fora do lugar, chão cheio de migalhas e vasos de lixo transbordando.
Meus avós costumam rezar o terço antes de dormir. Eram católicos fervorosos. Se tivessem dormido tão logo os convidados se despedissem, não ouviriam o estrondo vindo lá da cozinha. Foi um ataque cardíaco fulminante, igual ao da personagem de uma novela que passou no ano anterior e a qual amávamos muito.
Saí de casa para desmentir minha mãe e por mais que apertasse a campainha do apartamento dos meus avós até o dedo indicador ficar roxo, ninguém me atendia. 
Quando notei que a caravana voltava não para celebrar e sim para lamentar, fugi pela saída de emergência e corri até onde minhas pernas de gazela desengonçada suportaram, queria que meu coração parasse também.
Viver havia perdido todo o sentido.
Naquele dia, perdi completamente a noção das horas, me escondi na copa de um pé de ameixa que não ficava muito longe do complexo residencial onde meus avós e a Dinda residiam, não porque fosse indiferente à dor dos demais, mas porque precisava daquele momento comigo mesma. Não queria ver Zuleica presa a um caixão escuro, todo fechado. Tinha ciência de que não poderia passar o resto dos meus dias escondida e que não queria voltar para casa.
A morte da minha madrinha abalou as estruturas emocionais de todos. Vovó teve várias crises de hipertensão durante o sepultamento da filha do meio e meus pais sofriam porque tinham noção do efeito dominó. Meus irmãos lamentavam o falecimento de uma tia próxima e querida, contudo, não a amavam como eu a amava.
Tudo perdeu a graça: comemorar aniversário, brincar com as outras crianças na rua, até mesmo estudar. Só não repeti de ano, seria uma humilhação ficar atrasada em relação aos meus amigos, por mais que não sentisse vontade nenhuma de interagir com ninguém e em alguns momentos carregasse a culpa por não ter forças para superar a perda da pessoa que mais me amava no mundo.
Meus pais me amavam, todavia Drica, por ser a filha mais nova, recebia mais atenção. No outro extremo o Sérgio, o primogênito, que estava em ano de prestar vestibular e seria o primeiro Paternostro da geração a terminar os estudos regulares.
Só de ver a chamada do Réveillon do Rubão na televisão eu já entrei em pânico. A família tomou a decisão de manter as tradições, mas a Cecília de um ano antes não era aquela que surrupiou uma garrafa de bebida destilada e uma cartela dos comprimidos que meu avô utilizava para manter a pressão arterial em níveis estáveis.
Pela primeira vez na vida não me interessava nem um pouco em receber um ano, escolher roupa branca ou fazer penteado especial. Aquele que se passou como um borrão na memória não deixou saudades. Primeiro de janeiro sempre traria consigo a lembrança de uma dor que nunca passou por completo.
 Ainda hoje não sou simpática ao ano-novo, motivo pelo qual preferiria trabalhar para poder dormir durante a queima de fogos e ficar quase sozinha numa redação vazia e carente de grandes reportagens, posto que salvo alguma tragédia ou evento político, os primeiros dias de janeiro costumam ser pouco movimentados.
Despertei numa cama de hospital, vendo meus pais e irmãos se controlarem para não chorar. Um médico, amigo de longas datas do meu pai, desconfiou de tentativa de suicídio, no entanto, ninguém queria falar sobre aquele assunto tabu e me encher de perguntas. 
Papai sempre diz que quem me salvou foi Drica, pulando na minha cama para me acordar e ver a queima de fogos. Ao notar que eu não reagia, puxou as cobertas, gritou na minha orelha, puxou meu cabelo e, aos gritos, chamou meus progenitores, esperando que eles me dessem uma bronca por dormir na hora da virada.
Dez anos atrás, numa balada de ano-novo, conheci você…

Amizades que não servem

 

A amizade verdadeira é um dos presentes mais preciosos que podemos ter na vida. É aquela conexão que aquece o coração e nos faz sentir apoiados e celebrados, mesmo nas pequenas conquistas. Mas, infelizmente, nem todas as relações que chamamos de amizade carregam esse brilho genuíno.

O porquê dos porquês


Escrevi para não mais ler porque lavei a alma com lágrimas, tanto as já choradas quanto aquelas que guardo com pudor, porque já estou grande demais para chorar com medo do escuro, me derramando em cada linha até me esvaziar de todo e me sentir cansada demais até para questionar o porquê dos porquês.
Enrolei as folhas de papel e envolvi-as com uma fita vermelha, para que coubessem na garrafa verde de vidro, que consentiu com a insônia e se prontificou a conhecer o mundo sem sequer saber se voltaria para mim. Combinamos que não, é um trato bem especificado.
Lancei ao mar tudo aquilo que quero deixar para trás, junto de palavras que podem pertencer a um destinatário que sequer saberá o paradeiro da remetente, palavras que não mais me pertencem, apesar de terem saído dos mares mais profundos e desconhecidos de minha alma, palavras me desnudam, me fazem tão vulnerável e tão ácida, porque eu sei ser o segundo, sei ser muitas numa só.
E se as palavras correrem o mundo para nunca mais voltarem, estará o coração servindo de guia para que eu me lembre de que sentimentos existem para serem vividos e não escondidos.
Por precaução, é melhor assim. Que alguns deles estejam transferidos para aquelas folhas na garrafa que viajam pelos oceanos adentro, sem pressa de chegar a algum lugar, sem se medir pelo tempo ou pelas convenções.
Apenas e simplesmente viajando. Um de nós corre o mundo e o outro, do mundo.

O que eu não faria para te ter de volta, minha doce infância?



“A infância é a melhor fase da vida e, por ironia, só nos damos conta disso depois que estamos distantes dela, quando não podemos mais regressar aos tempos mais doces de nossa existência, quando os olhos repletos de candura olham para o céu azul pálido talhado por nuvens de algodão e confiam na grandeza do mundo, na bondade das pessoas, que sonhos têm poder de se transformarem em realidade, porque não há recursos possíveis para reviver todos os momentos queridos como se fosse a primeira vez, valorizar cada instante pela grandeza dele, a grandeza contida na simplicidade. Tudo que temos são lembranças e lágrimas. De nossos sonhos, rastros da inocência que o mundo foi arrancando à medida que crescemos. E tão só.”

(LIVE AO VIVO DA LULU) GUARDA ESSA TRALHA

Apesar de 2019 estar sendo marcado por grandes tragédias, a RPN acertou precisamente de estrear Os Versos Calados de Soraya depois dos festejos de Carnaval, porque a novela está repercutindo muito na web e na audiência também, fato que coloca o nome de Luciana Andrade no olho do furacão, uma vez que ela conseguiu exatamente o que queria: chamar toda a atenção para si.
Não é que Soraya não esteja cativando o público, é que a vilã Isaura é prova de que Luciana ainda dispõe de muito fôlego para atuar e surpreender. 
Hoje, um dos vídeos mais vistos, é de Luciana protestando, em 2017, contra o ex-presidente Michel Temer. Fazia bastante tempo que ela não atualizava o canal no YouTube, também em razão dos inúmeros compromissos, da controversa participação no reality show Puxadinho do Rubão.





— Oioioi, gente linda! Que saudade de vocês! Pensaram que eu iria abandonar esse canal? — Inicia a youtuber. — Esse canal é um pedacinho de mim, mas estive ocupada demais e não pude registrar tudo que aconteceu. Olha, 2019 está sendo um ano M-A-R-A-V-I-L-H-O-S-O pra mim, tipo assim, tô me sentindo nas nuvens, uma fênix que ressurgiu das cinzas. Tô namorando, a novela tá fazendo um sucesso daqueles, meu próximo livro deve sair em breve, talvez eu até me case, só falta o Mozão me pedir. Quanto mais olho, mais gente tem no meu canal. Eu não tenho por que reclamar da vida. Olha, hoje eu vim comemorar, não deu tempo de encomendar um bolo pra festejar, mas hoje vai ser inesquecível pra quem estiver acompanhando esse canal…
Luciana quer comemorar a prisão do Temer e vai fazê-lo. Com fogos de artifício. 
— Não usei pro hexa, mas na vida a gente sempre arranja uma serventia pras coisas… — garante a atriz, animadíssima. — Deixa eu pegar minha bandeira do Brasil, minha peruca verde e amarela, porque a make já tá feita, aliás, eu tô sempre pronta pra festejar e hoje é um dia especial…
O namorado de Luciana, que está acompanhando a transmissão da RPN News sentado no sofá da sala, discorda:
— Lulu, minha querida, não tem motivo nenhum para comemorar.
— Votou nele e agora não admite nem sob tortura?
— Eu não votei em ninguém, não voto desde 1994, desacreditei desse nosso sistema e ponto. O fato é que eu não quero ver você passando vergonha.
— A gente ao vivo, eu vim pedir sua força, Mozão. Eu vou exercitar minha cidadania…
— Desliga isso. — implora o homem, irritado.
— Ninguém manda em mim, não. Melhora essa cara de bunda, isso está passando ao vivo no meu canal...
— Que canal?
O homem franze o cenho, incrédulo, pegando no controle remoto.
Luciana revira os olhos e suspira profundamente:
— Eu não posso acreditar numa coisa dessas, é o fim do mundo! Você não sabe quem eu sou?
— Sei, você é a Lulu, meu denguinho, mas isso não está passando na RPN, está?
— Até que deveria, mas nos tempos de hoje, quem precisa na RPN ao ter um ótimo celular e uma cuca fresquinha? Se eu não tenho meu próprio canal de televisão, eu crio. Assim é que funciona. Eu tenho um canal no YouTube. E isso é o futuro. Lulu pensa muito à frente de seu tempo.
— E você grava essas coisas absurdas para jogar na internet?
O namorado de Luciana fica chocado, não para menos.
— Não tem quem não ame! — Gaba-se Luciana. — Meu bem, o mundo artístico é um covil de najas, se eu não faço a diferença na sociedade, puxam o meu tapete.
A atriz ajeita a tirinha do fio dental.
— Uma atriz que se preze tem que estar por dentro do que acontece no mundo, ter posições firmes, ser direta, porque uma atriz pode influenciar todo um público e no meu canal, o meu público me vê como eu realmente sou, não como mandam, porque a RPN me trata que nem um chão. Se eu dependesse da RPN, era capaz de estar pedindo esmola na rua...
— Mas você não está fazendo uma novela de sucesso na RPN?
— Tô, mas o papel é horrível, o que salva a novela, modéstia à parte, sou eu. Ou acha que é responsabilidade pouca? Todo o sucesso da novela está nas minhas costas...
— E o que isso tem a ver com a prisão do Temer?
— Acorda, Mozão. Tem TUDO a ver. Eu preciso me manifestar ou vão pensar que eu já me esqueci de que vou salvar o Brasil da corrupção. Quer dizer, era pra eu estar governando, mas a RPN me puxou o tapete...
— Isso é ingratidão, Luciana. Não é bom. A RPN te deu a oportunidade de fazer um bom papel, porque acredita no seu potencial, no seu nome, é muito feio cuspir no prato que come. — Aconselha o homem.
— Pois é, mas se eu fosse presidente da república, a corrupção estaria com os dias contados... Bom, eu até estava concorrendo, tinha chances, mas preferiram me passar a perna...
— Ah, Luciana, não seja ingênua...
— Vai ser uma teoria da conspiração que as pessoas vão se lembrar pra sempre: Lulu seria presidente em 2018, mas a RPN, que sempre foi lambe bota de governo, não queria perder a mamata, me calou, me calou sabe como? Me escalando pra uma novela fuleira no pior papel que uma mulher pode pegar? Pra quê? Pra eu não poder registrar minha candidatura e acabar com a farra! Depois, não quero ninguém reclamando. Desde 2016 eu estou alertando todo mundo... Agora eu vou é comemorar...
Luciana é cínica ao extremo:
— Não liguem, tá, gente? Casal é assim mesmo! A gente tem umas briguinhas, mas se ama que é uma coisa...
— A prisão de um ex-presidente mostra que ninguém está acima da justiça, mas no caso do Brasil, de três ex-presidentes recentes, dois estarem presos é algo para se pensar. Qual falha tão grave está sendo cometida no nosso sistema político que nós cidadãos chegamos ao ponto de desacreditar deles e seus discursos? Por que o dinheiro e o poder transformam as pessoas? Porque esse sistema já mostrou todas as suas deficiências...
— Quando você começa a falar difícil, ninguém merece.
— Guarda essa tralha...
— Não é tralha! — Protesta ela. — Eu vou comemorar e ninguém vai me impedir!
Sem saída, o namorado de Luciana vai atrás dela para ver até onde a vai a insanidade ousadia da atriz.
— FORA TEMEEEEEEEEEEEEEEEEEEEER! — Berra Luciana, cuja bandeira enrolada nas costas é balançada pelo vento. Como ela não conseguiu escrever nas nádegas a sua mensagem, debaixo do sutiã está escrito: O GIGANTE ACORDOU!
O homem cruza os braços enquanto Luciana grita como se estivesse discursando para uma multidão. Tecnicamente, sim, mas essa multidão espalhada por todos os cantos interage nos comentários do Youtube com emojis de riso ou reproduzindo a fala "guarda essa tralha".
— O GIGANTE ACORDOU, O GIGANTE ACORDOU, O GIGANTE ACORDOU. 
Luciana bem que poderia ser uma animadora de protestos, pois engajamento tem de sobra, acontece que ele é mal direcionado.
— NINGUÉM ESTÁ ABAIXO DA JUSTIÇA! AS COISAS NESSE PAÍS VÃO COMEÇAR A ANDAR! — Luciana discursa. — NEM O FRIO, NEM A CHUVA, NADA É CAPAZ DE DESANIMAR ESSA PATRIOTA QUE AMA O SEU PAÍS E QUER VER POLÍTICO CORRUPTO ATRÁS DAS GRADES! NADA, NADA ME DESANIMA. EU SOU BRASILEIRA, EU SOU CIDADÃ, EU SOU A FUTURA PRESIDENTE DA NAÇÃO. EU ACREDITO NA JUSTIÇA E É POR ISSO QUE HOJE ESTOU CONVIDANDO MEUS SEGUIDORES A BATEREM PANELA PORQUE VOU ENSINAR PRA VOCÊS UM PAGODE DAQUELES... PORQUE PAGODE É VIDA...

A polícia invadiu o sarcófago
O Drácula saiu da tumba
E recebeu voz de prisão
Despenteado e sem capa
Foi parar no camburão

Esperei o hexa, ele não chegou,
mas hoje meus fogos vou soltar
laiá laiá
Animação por aqui não vai faltar
laiá laiá

— Lulu — exige o namorado —, chega, meu bem! Vamos para dentro!
Agora? Você nem se anima pra sambar? Tô lançando aqui o Pagodão do Sarcófago e você não se anima nem um pouco?
— Lulu, para de passar vergonha! Vem! Está frio, meu bem... vamos preparar uma pipoquinha e ficar debaixo do cobertor...
— Não! — Luciana gesticula como se fosse Joana D'Arc. — Eu não saio sem fazer meu célebre discurso sobre a corrupção no país... Eu preciso dar a minha opinião, estimular meus seguidores a saírem pelas ruas comemorando...
— Comemorando o quê?
— Meu namorado, minha gente, fica se fazendo de desentendido porque não quer que os haters me importunem, mas eu já disse pra ele que não ligo pro que a ralé fala...
Como o namorado de Luciana só tem e-mail e WhatsApp, não imagina ter uma penca de gente idiota que ganha salário do Youtube para fazer idiotices, logo, também não está habituado com as "lives ao vivo" dela, nem com o jeito nada doce de responder aos haters.
— Ei, amor! Você vai editar isso, né? — Pergunta o homem, que mesmo contrariado, por amor, assiste ao discurso sem noção de Luciana.
— Isso tudo está sendo transmitido ao vivo, meu bem. Quem sabe, faz ao vivo.
— AO VIVO?
— Gravado é que não é.
— Você expõe nossas intimidades ao vivo?
O homem se amedronta, pensando que toda a vida do casal é transmitida para os internautas, entretanto ela explica o que é a famosa "live ao vivo" e ele implora:
— Por favor, eu nunca mais quero aparecer! — Pede o homem, horrorizado.
— Como assim? Você é meu namorado, é claro que tem que aparecer no vídeo.
— Eu não quero ser exposto ao ridículo.
— Você está falando que o meu canal é ridículo? — Estrila Luciana, à beira de um ataque de nervos. — Você teve essa ousadia? Você teve a petulância de dizer que meu trabalho é ridículo?
Luciana, trotando, cobre as costas com a bandeira e entra em casa.
— ODEIO VOCÊ! — Berra ela.
— Lulu, meu bem...
— VOU DORMIR NO MEU CLOSET HOJE... — avisa a atriz.
— Luluzinha...
— VAI EMBORA... — ordena ela, sumindo da vista do público.
O namorado de Luciana, confuso, conversa com a câmera:
— Não reparem! Acontece nas melhores famílias! — Emenda ele, embaraçado. — A Luciana... Hum... A Luciana é uma menina muito sincera, muito bondosa, a intenção dela é sempre ótima... vai ficar tudo bem entre a gente, tá? Até outra hora!
Ele acena para a câmera porque só assim a empregada para de filmar. Bom, não vai ser coisa de outro mundo que Epaminondas reconquiste Luciana, mas o encontro de hoje fica por aqui...


Que a corrente de amor nunca se quebre por vaidade alguma!



Ela regou meu modesto canteiro de roseiras. Até o primeiro botão desabrochar, meu jardim costumava ser mais triste. Eu ainda não havia entendido que amor é energia para ser compartilhada, não se guarda, se sente, assim como o conhecimento e a compaixão, semeando coragem e ternura em corações desacostumados a receberem gestos de carinho.
Não tem nada mais gratificante que aprender a enxergar o talento dos outros e ser a mão que se estende porque quando se caminha junto se vai mais longe. Ensinar e aprender estão sempre de mãos dadas.
Não tem nada mais bonito do que ver um tímido girassol florescer porque quando o sol se reflete sobre a campina, a visão aquece o coração.
Uma pessoa pode inspirar a outra sem precisar apagar a estrela dela, assim é que o céu brilha bonito.
O sol não se sente ameaçado pelos encantos da lua, nem pelo fascínio que as constelações incitam, todos habitam pelo infinito em harmonia.
Que a corrente de amor nunca se quebre por vaidade alguma porque esse demônio faz algumas pessoas pensarem que são melhores do que as outras, estrelas solitárias que precisam apagar as que lhe representam algum tipo de ameaça.
Não exagero em minhas colocações quando afirmo que a vaidade em demasia é destrutiva porque arrasa jardins inteiros e o egoísmo torna as almas mais frias, menos dadas à empatia, a solidariedade, voltando-se para tudo o que não importa, não ao se ir o sopro de vida, não quando se tenta fazer com que um coração volte a bater ou se regue um lírio esperando que ele torne a florescer.
A vida é tão frágil. O dom mais raro. A oportunidade que nos é concedida para espalharmos aqui na Terra um pouquinho da luz que existe no universo. Porque todo mundo possui essa luz na alma, alguns preferem escondê-la e outros sentem medo dela, o que é compreensível, visto que vivemos num mundo onde demonstrar sentimentos é “ser trouxa”, onde todos querem amar e não sabem se entregar, um mundo controverso em que somos medidos pela beleza padronizada, pelas posses materiais, pela popularidade, sendo que o que nos faz encantadores são nossas particularidades.
Viver bonito pode representar a conquista do topo, no entanto, se não se chegar lá da maneira convencional, cruzar a montanha e apreciar um percurso inenarrável, se encontra na simplicidade, na vontade real de seguir o próprio coração até quando ele está partido.
O problema de tentar seguir o seu coração quando ele está machucado é que se assemelha a dirigir com neblina, é preciso ter cautela, redobrar a atenção e os cuidados. Parar não significa fraqueza quando você precisa de um tempo.
Ser eu mesma, por exemplo, no lugar de imprimir uma versão falsa que convencerá por algum tempo, só não para sempre. Não sou nada daquilo dito pelos meus agressores, não sou o ódio que empenhado para destruir minhas roseiras. Sou humana, possuo defeitos e fraquezas, mas, acima de tudo, o desejo de ser melhor, portanto, não se assuste se eu me colocar de cócoras com um regador, me aproximar do seu vasinho de girassol e regá-lo.
É muito provável que aquele vasinho de cactos ao lado do seu também esteja precisando de uns cuidados. Insisto com todo o meu coração, fazer o bem não dói. 
Deveria ser nosso maior objetivo por aqui antes de quaisquer desejos megalômanos, qualquer sonho que, mais cedo ou mais tarde, pode ser arrasado por uma forte tempestade.
Só peço, por favor, que não seja a tempestade que assola o mundinho de alguém. Se não puder ser calmaria, não seja o caos. Se você não levar muito jeito para cuidar de jardins, seja colo, melodia, poesia, seja o amor que seu coração pode dar, porque não importa o quanto ele foi quebrado, ainda pode bater e de amar.
Lembre-se sempre de que, por mais que você não perceba na correria do dia-a-dia, existem muitas pessoas que se preocupam com você, que te querem de pé, com o melhor sorriso, com os braços bem abertos. 
Pode ser que o mundo continue girando sem você ou sem mim, sem nós, aliás, algo que vai acontecer. Haverá corações onde moramos para os quais somos insubstituíveis ou deixamos uma marca tão grande que nem a passagem de tempo mais intensa poderá apagar.
Vai por mim, numa manhã, minha roseira foi destruída, de joelhos na terra me machuquei com os espinhos e havia (como ainda há) outros mais profundos em meu coração, esses que apenas a indulgência do tempo se encarregará de remover ou então encontrar um bálsamo para aliviar as torturas que levaram embora a inocência.
Nada no mundo consegue pagar o preço da sensação maravilhosa que experimentei quando vi o primeiro botão de rosa ainda fechadinho, me indicando que quando a maldade tenta enterrar sonhos, eles se tornam sementes.
O ódio destrói a roseira na expectativa de que o solo se torne infértil e o canteiro de azaleias ao lado chame mais atenção que os demais e as rosas fossem uma severa ameaça.
O amor, não.
O amor reconhece a beleza das azaleias, mas sente saudades da roseira e recolhe as lágrimas que a chuva deixou, cuidando de cada detalhe da semeadura, se emocionando com cada etapa de um processo que pode levar tempos até se materializar, espera com paciência e se sente feliz com a alegria do outro porque não sabe ser de outro jeito, não queira que ele se comporte de outra forma.
O único amor que deve ser motivo de arrependimento é aquele que fica guardado quando poderia ser o regador que devolve vida à roseira. Se alguém te machucar alegando “que foi por amor”, não acredite nisso, o amor não machuca, mesmo quando quem nós amamos se vai, porque quando existe amor, lembre-se disso, a sementinha está crescendo no peito, resplandecendo pelo infinito por toda a eternidade.

2 de maio | Dia Nacional do Humor

Especial - 2 de Maio: Dia Nacional do Humor Feliz Dia Nacional do Humor! O 2 de maio é o dia dedicado a uma das formas mais poderosas de con...