CONFISSÕES DE LALY 10 ANOS | FERNANDA CONFESSA QUE AMA FUINHA (em comemoração aos 10 anos da web novela)



Quando Fernanda se amuava, era porque a energia estava baixíssima. Ela era nosso carregador, nossa Poliana, aquela que, mesmo já sendo gente grande, não perdia a alegria pueril. Quando desafiada, não esmorecia, florescia, mostrava o tamanho da força interior. 
Se minha geminiana predileta estava na fossa, era por uma causa importantíssima.
— Quando você faz esse biquinho me dá vontade de te pegar no colo... — Fiz uma voz abobada para conversar com ela, pedindo licença para sentar-me ao lado dela no sofá da sala, onde uma fita só com música triste tocava no aparelho de som.
— Aaah, Lalinha, você já se sentiu completamente invisível?
— Invisível? Você?
Fernanda Gallardo? Aquele mulherão de quase 1,80 metro de altura, com corpo de violão, cheio de curvas, cabelos longos, pesados e aquele rosto tão meigo? A amiga alegre e pra frentex que todo merece ter? Com quem você pode ser você mesma sem pisar em ovos? Aquela que ama ver você brilhar e não se ressente? Que insiste para você não desistir? Que acredita mesmo quando todos ao redor debocham?
— Tenho comigo que sou invisível.
— Com crises de pré-adolescente, Fer? A Lílian ter essas crises é perfeitamente normal, ela está entrando na pré-adolescência, essa fase de transição é complicada sempre, mas você sabe que não é invisível.
— Eu sei, mas...
— Mas o quê? Vai, fala... eu não rirei.
Coloquei a mão direita de Fernanda por dentro das minhas e a olhei como se, em vez de melhor amiga, fosse sua progenitora. Ela abaixou a cabeça e uma lágrima caiu.
— Tem a ver com o Abel?
— Ele ama você.
— Ama nada. Ele não ama ninguém além de si.
— Eu nunca tive nada com o Abel, nada além de amizade. Ele sempre deixou bem claro que ama você e sempre amará. Independentemente de estar ou não com você, o sentimento dele não muda.
— Ele tinha que ter pensado bem nisso antes de pisar na bola...
— Eu não estou triste porque só sou amiga do Abel, ele é um ótimo amigo... acontece que eu não entendo por que a gente sempre ama quem não ama a gente.
— Olha logo para quem você fala isso... estou tentando superar o Abel e não consigo.
— Por que vocês não voltam?
— Porque somos a água e o óleo.
— Não são, não. 
— Você está triste porque não te selecionaram para o confinamento?
Ela assentiu e deu de ombros.
— Era uma oportunidade...
— Para quê?
— Para ser reconhecida.
— Pelo quê?
— Uma vez na vida eu queria me sentir importante, notada.
— Mas muitas pessoas amam você. Se você busca conforto na fama, adianto a você que será uma decepção enorme.
— Você fala isso, mas é famosa, entra dinheiro na sua conta todo mês, todo mundo sabe quem é você.
— Não é por aí, amiga. Eu sou uma pessoa pública. As pessoas me veem, sabem meu nome, minha ocupação, mas amigos de verdade, com quem posso contar, são poucos. Bajuladores existem aos montes, mas se eu perder tudo, saberei quem realmente está do meu lado.
— Você chora pelo Abel, mas poderia ter o homem que quiser.
— Também não é por aí.
— É, sim.
— Deixa eu ver se entendi: você queria entrar nesse reality show, ter projeção nacional e tudo o mais para conquistar uma pessoa?
— Pode parecer ridículo, mas é isso.
— Você tem interesse em alguém?
— Ele só me vê como amiga.
— Ele já disse isso?
— Na verdade, ele nunca disse nada. Ele nem sonha que gosto dele.
— Eu o conheço?
— Conhece.
— Ele é solteiro? Casado? Enrolado?
— A única namorada firme que ele teve foi a Aimée e depois dela nunca mais falou de ninguém.
Meu coração pesou menos com aquela confissão. Fuinha era um excelente partido. Faço uma retratação sobre o cupido de Fernanda, ele mirou bem o alvo, mas minha melhor amiga se sabotava, preferindo catar as maçãs podres pelo pomar no lugar de juntar forças e escalar rumo ao topo da árvore.
— Conheço o Fuinha desde criança. Ele era muito tímido e inseguro, mas sempre teve um ótimo caráter. Ele se cobrava muito, era perfeccionista ao extremo, acabava se frustrando quando os planos dele não davam certo. Se achava feio, sem graça, vivia à sombra do irmão. Pelo que soube por cima, a Aimée fez muito bem.
— E como fez... — suspirou Fernanda. — Antes dele, minha irmã só se metia com traste...
— Pelas fotos que você me mostrou, o Fuinha se tornou outra pessoa. O tempo fez bem para ele.
— Ele é um cara tão sábio, culto, interessante. 
— Como se você não fosse...
— Eu nem ouso revelar meus sentimentos, mas tenho medo que uma hora ou outra eu receba uma carta dele me contando que encontrou a tampa da panela e eu seja obrigada a enterrar meus sentimentos.
— Se você não quer que isso aconteça, faça alguma coisa!
— Como o quê? Me declarar e levar toco?
— Como quer que ele saiba sobre seus sentimentos se você os esconde?
Fernanda fez biquinho.
— Você é linda, é fácil falar. Vivo em guerra com a balança desde os 15 anos. Se quiser ter um corpo perfeito, não posso comer; se quiser comer, preciso aceitar que nunca terei manequim 36.
— Você nunca parou para refletir que é linda assim? Que todas as suas formas combinam com você? Que se você parar de comer, o que te espera é a anorexia? E da anorexia não surgirá nada de bom. Até onde sei, mortos não podem nada.
— O Fuinha nem me vê como mulher, é só um amigo, mas se fosse para namorar, eu queria namorar alguém como ele.
— Se ele também não tem ninguém, por que não investir?
— Já me magoei demais.
— Se ele é diferente dos outros como você diz e eu acredito que sim, por que você o repele? Por que você sente tanto medo de lutar? É medo de dar certo? Tanto medo de dar certo que é melhor se sabotar?
— Eu sou realista, sei o chão que piso...
— Deixa de besteira, miga. Ele está vivo e é solteiro, ou seja, existe esperança. Nem que seja uma hipótese de 0,00001%, existe esperança. Ora, qual é? Talvez ele até já tenha tentado te dizer de algum jeito que não quer só sua amizade, mas tem medo de não ser o seu tipo de homem.
— Caras como ele não ficam com mulheres como eu.
— Por quê?
— Porque eles nem sequer me notam.
— Se os caras não te notam, não sei o que fazem, então. Quando saio com você, noto os olhares dos caras...
— Mas quem gosto simplesmente nem me nota.
Conversando mais tarde com May, perguntei mais sobre a longa amizade de Fuinha e Fernanda. Tomamos água de coco no calçadão da praia, aproveitando o final de tarde.
— Só a Fernanda não enxerga! — May declarou. — O Fuinha é um pouco travado quando a questão é paquera!
— Eu sabia!
— Todo mundo sabe que eles foram feitos um para o outro, só a tonta da Fernanda não percebe.
— O Fuinha já te disse assim na lata sobre a Fer?
— Nem precisa! Quando ele chegar, só note o jeito que ele olha para ela... com aquele olhar de admiração, que chega a brilhar, sabe? É tão fofinho... eu me derreto!
— Me desculpa tirar você do trabalho, mas é que eu não podia esperar. A Fer ficou muito mal porque não foi selecionada para o confinamento e está numa fossa, achando que perdeu a última oportunidade da vida, aí confessou que ama o Fuinha, mas está conformada em não tê-lo.
— Por você e pela Fer eu não me importo em me ausentar, vocês são minhas irmãzinhas. Se uma não está bem, as outras também não ficam bem...
— O que a gente pode fazer?
— Quem deveria tomar a iniciativa de dar uns pegas no Fuinha era ela, mas a gente pode dar uma forcinha dos bastidores...
— Você me ajuda?
— Ajudo. Ajudo no que for preciso.
— Me conta: é sério que o Nilton chegou até você sem ninguém intermediar?
— Chegou, ué. Ele se declarou para mim e era correspondido, não tinha muito o que esconder. No começo fiquei um pouco apreensiva de ele estar transferindo o amor que sentia pela Naira, mas conforme o tempo foi passando, um se deu conta de que amava o outro de verdade. Se não fosse assim, a gente não teria passado por tudo que passou. A gente fez muitos sacrifícios no começo do casamento. Os primeiros anos foram bem difíceis, nós dois em Curitiba, ele trabalhando e fazendo faculdade, eu trabalhando, tentando terminar a escola e cuidando do Pepo, mas graças a Deus, nosso esforço teve recompensa. O Nilton sabia que não podia desistir dos estudos porque tinha a mim e ao Pepo. Quando eu me sentia exausta e tinha saudade daqui, ele me dizia que um dia a gente iria olhar para trás e até fazer piada da penúria, que valeria a pena. Ele lembrava que você também estava lutando. Na verdade, a gente está sempre lutando, às vezes tem batalhas mais difíceis, outras nem tanto...
— Mesmo depois de tantos anos, você e o Nilton continuam apaixonados...
— Sim, mas não como no começo.
— Não?
— Eu tinha 15 anos quando comecei a namorar, minha cabeça era de uma menina daquela idade. Hoje a minha cabeça é outra, eu amo o Nilton de outro jeito. Não é menos amor do que naquela época só porque não é aquele amor todo.
— O Nilton era tão tímido quanto o Fuinha, por isso fiquei surpresa de saber que vocês se entenderam sozinhos.
— O Nilton ainda é um pouco travado quando está num ambiente onde conhece pouca gente, mas perto das pessoas que ele ama, ele brinca, interage, se diverte. Para mim ele conta tudo, não temos segredos. Na verdade, nós sempre nos entrosamos bem, desde antes de nos darmos conta do nosso sentimento. Ele dizia gostar da Naira, não duvido, mas era sempre comigo que ele tinha aquele papo mais cabeça e eu não posso nem julgar a Fer porque me sentia como ela, via minhas amigas sempre rodeadas de pretendentes, falando de beijos, namoros, cartinhas e nada me acontecia, o menino que eu gostava era afim da minha irmã, eu olhava para o espelho e via uma menina baixinha, magricela, que com 14 aparentava ter uns 12 anos, aquela que nunca era a primeira opção de um menino, a garotinha de recados. Você, melhor do que ninguém, sabe disso. 
— E como eu sei... fico muito feliz em ver que você cresceu, agora sabe que é linda, inteligente e única, tenho orgulho de ver a pessoa que você se tornou.
— Eu também tenho, amiga. Você sempre soube. Eu sempre acreditei em você.
— A gente não pode entrar na cabeça da Fer e tirar o baixo astral todo, mas pode dar uma ajudinha, não pode?
May e eu pensaríamos em algo para ajudar Fernanda e Fuinha a saírem do 0 × 0. Se o afeto era recíproco, por que eles não estavam juntos?

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Muito obrigada pela visita ao OCDM, espero que você tenha gostado do conteúdo e ele tenha sido útil, agradável, edificante, inspirador. Obrigada por compartilhar comigo o que de mais precioso você poderia me oferecer: seu tempo. Um forte abraço. Volte sempre, pois as páginas deste caderno estão abertas para te receber. ♥

Mary Recomenda | Querida Kitty - Anne Frank

  Hoje é sexta-feira e nada como sextar acompanhando o Mary Recomenda. Na edição de hoje, nossa convidada especial é Anne Frank e sua Queri...