A casa de minha avó era um terreno situado numa esquina de uma rua de barro. Um ponto de referência. Um local construído com o fruto do trabalho.
Era um lar.
E o conceito de lar se estende conforme a palavra busca se harmonizar com a intenção.
Esse lar ia além da descrição física e trivial, sem emoção.
Esse lar possuía significados.
Era o coração dela, onde sempre cabia mais amor.
Era a mesa arrumada, com o café quentinho na xícara, um bolinho, um pãozinho, até no sabor do geladinho especial cuja receita só ela sabia.
Era no abraço caloroso e contente de quem vestia as melhores roupas e abria o sorriso mais bonito para dizer "entra, fica à vontade, não repare a bagunça", quando tudo estava sempre organizado.
Era para alguns um almoço de domingo, sentar e ouvir discos, para outros, ver álbuns de fotografias e ouvir as histórias que eram mais divertidas quando contadas por ela.
Era na generosidade expressada e desinteressada que também se conhecia o sentido de olhar por aqueles que mais necessitam de um pedaço de pão, algo para vestir ou calçar, uma palavra amiga.
Era no doce e tradicional aceno em frente ao portão, até a silhueta de vista perder.
O carro dobrava a esquina, subindo, e no farfalhar das árvores pelo caminho, as melhores recordações eram discutidas. Uma tarde nunca era o bastante.
E pode ser difícil chegar ao fim dessas considerações e saber que nunca mais haverá um telefonema dela nos aniversários e no natal, que esse percurso que por tanto tempo nos conduziu até aquele lugar será apenas uma recordação.
O terreno sem a presença dela é apenas um imóvel como outro qualquer. O amor dela era o laço que unia a todos, uma estrutura inabalável, mesmo quando o inevitável se dá e não se sente o chão sobre os pés.
Na partida, levando um pouco de cada um de nós, não acenou, porque adeus é uma palavra muito forte para se dizer, quem sabe um suave "até a vista".
O portão se fechou. Nas estrelas desenham-se as lembranças dos tempos de criança, hoje apenas vagos vislumbres, e nos sonhos esse lar já teve tantas formas.
Agora é de saudade.
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