É assim que a vida é

Estou me conhecendo e dispenso interferências nesse processo. Permita-me elaborar minhas próprias perguntas. Desabrochar exige sacrifício e certos elos são sagrados. Ser quem sou é doloroso. O meu melhor lado sempre sufocado e oprimido para adequar-se aos tais conformes que sempre me desviaram por tabela. Tudo bem, é assim que a vida é. 

Uma mulher pensativa e determinada (Reprodução/Canva/Arquivo pessoal da Mary)

Quero escrever, mas tenho medo. Escrevi esta oração cinco vezes, apaguei-as, não vinha nenhum gancho interessante, nada digno de ilustrar um prefácio qualquer daqui a dois séculos. O culpado não foi o cansaço, meus sonhos morreram antes; a espontaneidade também. 

Era bom ter olhos de quem sonha acordada, trazer para a realidade a candura do meu mundinho colorido, cheio de riso, esperança, expectativa, a compensação da criança que construiu um castelo em meio a uma redoma, para se proteger de um mundo hostil.

Quando fecho os olhos, tento não pensar em nada. Custou-me tanto abdicar daquele futuro que meu esforço, minha criatividade e um pouquinho de sorte poderiam trazer, só quero dormir de uma vez porque careço de forças para permanecer de pé e me conformar com uma existência medíocre e sem propósito.

Quero escrever, mas tenho medo. Sigo escondida para não incomodar as pessoas que não gostam de mim. Tenho o direito de desgostar delas de volta, a vida é muito curta para passar pano para quem não merece. A fragilidade de outrem é terreno fértil para a atuação dos monstros, conhecimento de causa não me falta para ilustrar essa questão. 

A história continua com tantos rascunhos guardados, ninguém tem um pingo de interesse em conhecer o desfecho. Quero escrever, mas tenho medo.