O que faz de mim uma escritora (ou não)?

 


Minha primeira aula na universidade foi logo de Literatura. Esses encontros semanais são muito enriquecedores em todos os sentidos e estou tendo desde então a oportunidade de expandir conhecimentos e desenvolver um pensamento mais crítico e consciente sobre o conteúdo que foi produzido antes de mim, a importância de possuir embasamento teórico para me aprofundar mais ainda em um universo vasto de vozes a serem ouvidas e outros conceitos mais que me ajudarão a ser um ser humano melhor. 

Sobre o pouco que (não) sei

 




Não sei o que escrever.
Não sei como me sentir.
Não sei onde ele está.
Não sei se ele voltará.

Sei que o sorriso se desfez quando não o vi.
Que as esperanças diminuem à medida que os dias passam.
Que meu coração está batendo num ritmo mais lento e entristecido.
Que eu gosto tanto dele que não consigo sequer colocar em palavras.
Que ver o lugar dele vazio está doendo bem mais do que eu imaginava.
Que não adianta procurar em ninguém o que só ele me faz sentir.

Não sei se é amor.
Se não passa de uma quedinha inocente.
Se devo conjugar o afeto no presente.
Não sei...

Só sei que hoje no meio da aula eu tive uma crise de choro.
Que senti uma vontade tão grande de abraçá-lo.
Que o sol sentou-se ao meu lado num banco amarelo e me deu a mão.
Que só então dei-me conta do quanto deixei-me cativar.
Que nada me maltrata mais do que um cenário de indefinição.
Que a verdade dói e é melhor do que viver a espera que nunca acaba.

sempre foi um poema de amor 💞



o amor não prende-se a falidas convenções,
ama-se sem medidas, sem impor condições.
reconheço o amor na essência de quem amo,
tampouco amo um em detrimento de outro.
cada sentimento corresponde ao que se vive.
com cada pessoa, cada vez mais aprendo a amar.
a isso os moralistas chamam de libertinagem,
eu, por minha vez, entendo por liberdade.

— sempre foi um poema de amor 🪻




um poema com o seu nome 🥰

 


apossar-se do sentido,
captar a frequência,
explorar a sintaxe,
decodificar o indizível;
sintetizar para transcender
as nuances do afeto.

um poema com o seu nome

Orgulho 🌈

homofóbicos NÃO PASSARÃO

Hoje meu pai estava assistindo ao discurso de um deputado e o político, em certa altura, criticou a Parada do Orgulho LGBTQIA+, utilizando a falaciosa desculpa de que "as criancinhas podem ser mal influenciadas pelos LGBTS".
Nesse ínterim, minha mãe, mulher de outra geração, discordou do deputado porque considerou o discurso dele LGBTfóbico. Esse coraçãozinho aqui foi tomado de alegria e ternura porque minha batalha não foi, não é e não será em vão.
O deputado tem o direito de se expressar dentro e fora do plenário, no entanto, da mesma forma temos o direito de discordar e desde que a troca de ideias mantenha-se dentro das quatro linhas da legalidade, tudo certo.
A questão mais determinante é sobre quando o discurso coloca vidas em risco, oprime e invisibiliza a existência de outrem porque temos liberdade (ou acreditamos ter) para sermos quem somos, no entanto, seria insano pensar que iremos agradar a todos os públicos, nem nós gostamos de todo mundo.
Ninguém está nem aí se você concorda e ninguém aqui quer ler versículo bíblico jogado fora de contexto para sustentar a falsa santidade, a questão é respeitar. Se o seu deus é aquele que só pune, odeia, castiga e condena, sinto muito, mas ele não é o meu. E que bom.
Por outro lado, ver minha jornalista favorita se assumir em rede nacional enche o coração de ternura, nos lembra que temos de nos posicionar, ser para os outros as referências que não tivemos, não permitir que ninguém se aproprie do nosso lugar de fala, nem que ninguém nos diga o que é ou não preconceito.
Há pessoas que temem aquilo que não conhecem e não compreendem muito bem, logo, é preciso ter carinho e respeitar o espaço de cada pessoa da mesma forma que reivindicamos nosso respeito e nosso espaço por meio das artes, das políticas de inclusão e da força de vontade de cada um todos os dias para ser quem se é, para que deixemos de integrar estatísticas nefastas. 

Sou quem eu sou, seja quem você é. Com muito orgulho. 🌈

10 anos depois: o legado das Jornadas de Junho

 

Em 2013, quando as ruas começaram a se encher de gente protestando contra os absurdos de um Brasil que, no fundo, ainda estava longe de ser o país dos nossos sonhos, eu me vi ali, com a esperança de que algo estava prestes a mudar. Era um momento de empoderamento popular, um grito de quem estava cansado de ser tratado como parte de um rebanho, obedecendo sem questionar. 

Nós, como sociedade, queríamos mostrar que estávamos atentos, que não era só sobre os 20 centavos, mas sobre uma mudança estrutural que exigia mais do que um país que se preparava para sediar uma Copa do Mundo. Queríamos que a mesma energia dedicada ao evento esportivo fosse direcionada para saúde, educação e segurança pública — questões fundamentais que, até hoje, continuam sendo negligenciadas.

Na época, era como se, finalmente, houvesse a possibilidade de um novo caminho. A possibilidade de cobrar de maneira contundente as melhorias que tanto precisávamos. Porém, olhando para 2023, vejo que, se eu soubesse que aquelas manifestações de junho dariam brecha para a ascensão de alguém como Bolsonaro ao poder, jamais teria apoiado aquelas passeatas. Naquele momento, estávamos todos buscando uma mudança, porém não tínhamos a clareza de que a abertura para o novo poderia, paradoxalmente, nos conduzir a um caminho de retrocesso tão doloroso.

Hoje, olhando para trás, percebo que o que estava em jogo não era apenas o cancelamento da Copa. O que realmente queríamos era ser ouvidos. Era exigir que o nosso país fosse mais do que uma vitrine de grandes eventos internacionais; era querer, de fato, um Brasil que funcionasse para todos. Um Brasil que se importasse com a saúde de quem mais precisa, com uma educação digna e com segurança pública de qualidade.

Agora, mais do que nunca, vejo que a luta que começamos em 2013 não foi em vão. Ela só se desvirtuou em alguns momentos, porque, ao invés de refletirmos sobre o verdadeiro papel da sociedade — de cobrar e atuar como agente de mudança —, fomos capturados por discursos de ódio e polarização que, ao final, só causaram divisões ainda maiores no país.

Ainda acredito que o desejo de transformação que nos uniu nas ruas de junho de 2013 é legítimo e continua vivo. O Brasil que queremos não é aquele em que, após grandes eventos, tudo volta à estagnação. 

Queremos um país de justiça, igualdade e, principalmente, que todos possam viver dignamente. Que possamos refletir sobre como a nossa atuação, enquanto sociedade, deve ir além das manifestações esporádicas e se tornar um movimento constante, um esforço contínuo por um futuro melhor para todos.

fantasmas 👻👻👻

 


setembro 14, 2022

fantasmas 👻👻👻

23:03 |

 

Era noite de sexta-feira quando senti uma angústia difícil de ignorar porque a princípio parecia tudo bem, levando em conta os critérios pessoais, aliás, a luta para ficar bem é o que me mantém porque Marte em Áries não me deixa esmorecer, no entanto, não se pode ser forte o tempo inteiro. 

Respirei fundo, mas a vontade de chorar permaneceu. Carrego saudades em meu coração, mas a maior ausência nessa fase da minha vida é de mim mesma, não é de um amigo ou um amor, embora não tenha nem um nem o outro. 

E eu, que sempre pirei só de pensar em uma rotina monótona, hoje, com conhecimento de causa, posso bradar que existe vida ao abdicar de um sonho, porém o preço a pagar é alto e as decisões tomadas com base na impulsividade são fantasmas em meu encalço.



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regeneração


abril 24, 2023      

regeneração

23:33 |

a rosa mais feliz de todas as rosas 🌹



ela era uma rosa como todas as outras
num canteiro que ladeava um belo jardim.
desejava asas mas tinha espinhos,
acostumada a viver sem carinho,
sonhava acordada e dela as outras davam risada.

a joaninha dizia:
não perca a esperança,
amiga minha,
o amor há de te encontrar,
seja paciente!
a sorte pode ser traiçoeira!

ela era uma rosa como todas as outras
não era raposa mas também sabia cativar,
mãos erradas poderiam do jardim arrancá-la.
as outras rosas costumavam zombar dela.

sempre sozinha, que insucesso!
cuidado porque o tempo passa,
a idade chega,
fica cada vez mais difícil encontrar alguém,
que dirá alguém que preste,
debochou a rosa pretensiosa.

antes solteira a ser refém da sorte traiçoeira,
repetiu baixinho a sensata rosa,
o amor é necessário e o entendimento também.

ela era uma rosa como todas as outras
até a tarde em que um belo e sensível clique
fez dela a mais bela de todas as rosas do jardim.
os olhos dele fulgiram nesse doce encontro
e, dessa forma, ela viveria para todo o sempre.

as outras rosas olhavam-na de cima a baixo,
tinham os cravos comendo em suas mãos
e desdenhavam da ideia de um dia a pobre rosa
conquistar um amor para a vida toda,
inconformadas estavam porque esse dia chegou.

o que aquele beija-flor tão maravilhoso
viu naquela rosa tonta e sem graça?
ela é tão estranha, esquisita,
ela nem sequer é uma de nós!,
murmurou uma rosa pretensiosa.
o que ela tanto tem que eu não tenho?

ela costumava ser uma rosa como todas as outras,
vivendo um dia de cada vez, como tinha de ser;
distraída e à procura de novos defeitos a odiar,
o cravo a via de longe, a primeira flor da primavera,
tão linda, tão desprendida, tão doce e tão singela.

sou uma rosa igual a todas as outras,
o que você enxergou logo em mim?,
quis saber a apaixonada rosa.

enxerguei em seus olhos o fim de uma busca,
a busca pelo amor que sempre sonhei,
que não era miragem nem delírio,
seu toque macio despertou sonhos antigos e esquecidos,
destroços de intermináveis tempestades pelo entorno
não intimidaram o desabrochar da primavera.
seu amor me trouxe de volta para casa.
não almejo possuí-la com violência,
tampouco tenho pretensões de aprisiona-la
em uma fria e impessoal redoma.
amo você desde o primeiro olhar,
de você pretendo sempre cuidar,
pode haver muitas rosas aqui nesse jardim,
mas você é a única para mim!

desde então,
ela não é mais uma rosa como todas as outras,
ela é a rosa mais feliz de todas as rosas.

- a rosa mais feliz de todas as rosas 🌹

fetiches

 


afáveis e cálidos braços envolvem-me
respirações entrecortadas,
o olhar cúmplice depois do beijo,
as continuações,
as roupas vão ficando pelo chão,
seus dedos tocam uma canção,
sou apenas sua.
estamos em casa.

se nuvens derramam lágrimas furibundas
e ventos tempestuosos prenunciam perigos, não tememos.
nós já protagonizamos esta cena diversas vezes,
no entanto, nossos personagens tinham nomes distintos,
os cenários de outrora são nossas
"saudades do que afirmamos nunca ter vivido".
estamos em casa.

se nós sempre nos reconhecemos
em meio ao turbilhão de deveres mundanos,
sabe-se que o esquecimento nunca apagou as impressões
que nos reconectam àquela parte da nossa essência
— tão necessária para que o ritmo do processo de evolução não enfraqueça —,
tampouco o apreço responsável
por tão memoráveis encontros de almas, corpos e intenções.
estamos em casa.

toques sagram reencontros e sanam tão doloridas ausências,
fecho os olhos e continuo sonhando,
após uma vida de tombos e desencontros
eis o sim para o sonho que hoje faz da realidade a poesia
porque ela é a sensível ilustradora
dessa história que nunca terá fim,
apenas breves intervalos entre os atos.
estamos em casa.

- fetiches


Curitiba, 06 de julho de 2022.

Meu planeta de cores está em #4 no ranking de poesia

 


Boa noite, tudo bem aí do outro lado? Espero que sim e que se não estiver, não se desespere, pois tudo passa. Aproveitei para passar aqui e registrar que meu novo livro de poesias, Meu planeta de cores, conseguiu alcançar a quarta colocação no ranking de poesia, uma surpresa grata, posto que em matéria de divulgação estou ciente que deixo a desejar, todavia, todas as pessoas que passarem pelo livro, votando ou não, gostando ou não, são bem-vindas e o crescimento, embora pequeno ao ver de alguns, é grande para mim. Deve-se celebrar todas as pequenas conquistas, todas, todas elas. E cá estou, mas de saída também estou. Tenha uma linda e abençoada semana, a gente se vê no próximo post. =)

segundas chances em quatro versos 🩷


certas rupturas são, na verdade mais pura,
aberturas de caminhos,
para viver um sonho jamais escrito,
o amor que eu havia dado por perdido.

— segundas chances em quatro versos 🩷



deserto



adversidades e provações somam-se
os amigos, por sua vez, somem
máscaras e promessas desfazem-se
não pretendo implorar para que fiquem

o caminho é pela sombra
não tem atalho de volta

se para os lados eu olhar
apenas a mim mesma irei encontrar
foi sempre assim
a quem eu tanto tentei enganar
senão a mim?

- deserto


O resgate da essência

 

Os tantos benefícios acessíveis por meio da fama são fatalmente sedutores. Pode ser aquele distinto cavalheiro que a convida para dançar sem olhar as horas, aquele instante em que a sua versão de 10 anos se senta na primeira fileira para acompanhar o seu discurso com os olhinhos úmidos e ternos, orgulhosa dessa jornada que te conduziu até a glória, no entanto, a exposição que consagra o talento e a dedicação carrega um punhal nos ombros, sempre à espera de um momento de descuido para entrar em cena. 

consentimento 💕

 



as regras devem ser claras

este jogo é jogado por dois
joga-se limpo ou fim de jogo
avançamos neste torneio
ou permanecemos estáveis
o objetivo deste campeonato
não se dá por competirmos
um com o outro
e sim por compartilharmos
dessas sensações inigualáveis
corpos unidos e encaixados
ocupam o mesmo espaço
dois corações num ritmo afim
histórias que se encontram
poucos mergulham tão fundo assim
um ponto fora da curva
mas jamais perdido
um beijo na testa e outro nos olhos
me abraça e fica aqui comigo

— consentimento 💕

onde estará o amor?

 


luzes apagadas
olhos abertos
vontade daquilo 
que não se pede
tanta gente online, 
ninguém que interesse
todo dia é sempre 
o mesmo dia

— onde estará o amor? 

Segure a minha mão

 N/A: Hoje apresento a releitura do poema Segure a minha mão, escrito há 4 anos, quando 2023 era um sonho distante. Este é o meu posicionamento e, portanto, eu tenho o direito de me expressar. Em caso de desagrado, beba um gole de água, mas mantenha o conteúdo no céu da boca até que a raiva passe, então engula, fecha a página e vá ser feliz. 

Reflexões de Ceci

 N/A: Encontrei esse texto de 2018, cuja narradora é a Ceci Paternostro ♥, da obra Aconteceu naquela tarde de verão. Cecília completará 5 anos de criação em agosto. Submeti o texto a uma revisão, reedição e reescrita. Conjugando corretamente o pronome da pessoa amada. B não é biscoitinho da sigla. Nós existimos.

Toda forma de amor tem espaço no OCDM

A postura de quem passa por todos os estágios de um coração partido é a mais defensiva possível. Erguemos uma muralha à nossa volta no intento de proteger o pesado portão para barrar possíveis ameaças. Invejamos o Homem de Lata, que não tinha coração, porque dói tanto olhar para a hora que não passa, sentar diante de uma mesa vazia e o silêncio incomodar mais do que a bagunça. 
Viver dói.
Esquecemo-nos de que o mesmo amor que machuca, também pode ser a cura.
Esquecemo-nos de não determos o controle de nada. Na inútil tentativa de buscar segurança em qualquer subterfúgio que não exponha nossa fragilidade, nos machucamos e deixamos rastros de nossa imaturidade por todos os cantos.
Esquecemo-nos de que pedir desculpas não nos desumaniza, lutar pelo amor não nos torna tolas, fracas e desconectadas da realidade.
Muitos recuam ao sinal do primeiro obstáculo, desistem de lutar à medida que não se sentem merecedores do amor que sentem, dizem amar quando desejam tão somente a afirmação e aprovação da sociedade inclinada a demonizar a solidão, condenando aqueles que por inúmeras razões esperam a uma condição injusta de doente, inapto, incapaz, desinteressante. 
E depois de um coração partido, a impressão que se tem é a de que o amor apenas serve para machucar, que todas as pessoas são uma ameaça em potencial.
Escondemo-nos de que, mesmo excedendo as intimidades, tentam nos tirar da concha. 
Escondemo-nos de qualquer convite tentador que nos furte o conforto trazido pela inércia.
Escondemo-nos de nós mesmos, suprimindo também a capacidade de florescer amor.
E nessa brincadeira de pique-esconde com o universo, surpresas acontecem. Não antes que o coração cale-se para se ouvir. E se ouvir sem pudor. Aquele mergulho interior que deixa as paredes da alma arranhadas como se fossem um disco que nunca para de tocar.
O apego desmedido tornou-me refém do egoísmo. O sentimento predominante não se chamava amor. Era a junção de traumas, inseguranças, expectativas distorcidas. O medo de perder era tão imenso que nunca me permitia viver o presente. Os pensamentos projetavam um futuro sombrio sem ela, o passado retornava em doses esporádicas de gatilhos. O ninho de amor era um lugar solitário e não mais o pacto entre duas pessoas que se entregavam ao desejo e poderiam se demorar, o único compromisso urgente naqueles bons tempos era amar.
Deixou de ser. 
A passarinha escolheu pousar no meu ninho porque naquele momento não havia mais nenhum lugar no mundo no qual se sentisse acolhida e segura. Éramos cúmplices, confidentes, planejávamos para aquele futuro distante. Felicidade demais sempre embrulhou o estômago. Eu sabia, sabia que estava perfeito demais para ser verdade. Eu aceitaria tudo, menos te perder. Eu daria literalmente tudo por você. Ninguém me interessava mais.
Em busca de conquistar seu amor para que nós não tornássemos aqueles casais que julgávamos, cansei minha imagem, admito com vergonha que tentei moldar você para ser mais parecida com aquela mulher da minha imaginação, quebrando, portanto, a promessa de amar você do jeitinho que você era.
Nossas longas conversas sobre assuntos aleatórios transformaram-se em longas discussões as quais levantávamos a voz, batíamos portas e passávamos dias sem qualquer contato, como se não passássemos de meras colegas de quarto. O arrependimento vinha e o perdão, banalizado, já não era mais um ponto final ao conflito. A paz, fadada à efemeridade, afetada sobremaneira pelas circunstâncias, passava longe de nós.
As vírgulas eram vislumbres de um novo olhar para a nossa história, mas o que nenhuma de nós tinha coragem de admitir a si própria, estava óbvio para todos os nossos conhecidos. Mentíamos porque a situação, apesar de desconfortável, era conveniente. Eu precisava de você. Eu não queria perder você.
Foi naquela madrugada tão fria e longa a nossa última briga. Você quebrou meu celular várias vezes e eu perdoei porque tentava não dar motivos para desconfianças, depois você me empurrou, deixei passar porque você estava nervosa, mas quando suas mãos me agrediram e colocaram por terra o que ainda havia de dignidade, continuei no chão e ouvi todas as palavras mais amargas do mundo de alguém que abriu a porta e saiu fazendo escândalo. Eu não poderia tolerar isso. Amor nenhum no mundo sobreviveria àquele caos.
Remoer o rancor denota a postura arrogante de quem insiste nos mesmos desatinos sem ter a humildade de aprender com eles. Juntas aprendemos a viver num mundo que exige que “crianças grandes” estejam prontas para todos os reveses, para se curvar sem se envergar.
Juntas aprendemos a amar.
Juntas amamos. E muito.
Juntas demos as mãos, sentamos no chão, nos abraçamos e choramos.
Juntas, já fomos um só coração, mas fomos deixando de ser, porque as metades que nos tornamos deixaram de ser um encaixe harmonioso para ser a lança afiada que torna a convivência cada vez mais pesada.
Juntas ainda podemos aprender, porque a ideia central de uma união é que um braço ampare o outro, que se busque a concórdia, o equilíbrio, que valores primordiais como o respeito e a compaixão pela outra parte estejam acima de quaisquer interesses escusos.
As pessoas que passam pela nossa vida irão quebrar nossos corações de alguma forma, é inevitável, diante do encontro das almas, da marca que deixamos nelas também. Aprendemos, assim, que o sofrimento faz parte da nossa jornada de evolução, que sempre estaremos à frente de um obstáculo que nos exige coragem, força e sabedoria. Não caminhamos em linha reta. Estamos sempre fazendo escolhas, até quando silenciamos.
E falar de coração partido é virar a outra face da moeda para enxergá-la, de fato.
Se tive o coração partido, também parti outros corações. E estou não apenas refletindo sobre a situação, como ponderando cada visão de mundo envolvida, porque estou amando novamente e espero oferecê-la a versão mais madura de mim, aquela que enquanto deu um tempo ao coração, ouviu realmente o que ele queria dizer.
Durante a negação quis crer que a culpa não foi minha, durante a tristeza esperei pela ligação que jamais aconteceu, durante a raiva arrependi-me de cada jura de amor, o ódio foi o meio menos digno de remover-te do pedestal e durante a suposta “aceitação”, findei-me na premissa de que chegava o momento arrastado para debaixo do tapete: ser a minha própria namorada.
Viver sozinha era menos trabalhoso e me asseguraria à segurança emocional tão necessária, constatando apenas quando meu coração voltou a bater por alguém que eu não queria passar a vida inteira solitária e me privando de amar com a intensidade que me define, apenas esperava pela certeza de ser correspondida. Agora que sou, recuo.
Os livros não contam, você descobre por conta própria: os adultos também sentem medo, apenas não podem reproduzi-los da maneira que uma criança tem autorização. Admito sem firulas que sinto medo. Não de amar. Não de ser correspondida ou de não ser. Não de que o nosso “para sempre” não dure o previsto. Temo que o egoísmo e a vaidade me dominem outra vez, de amar sem reservas e me esquecer de que quem caminha ao meu lado precisa da segurança a qual não sei se posso oferecer, porque nem mesmo confio em mim às vezes.
Eu também estou aprendendo a amar. A me amar. A respeitar limites. A me tratar com o respeito que jamais me tratei. A aprender a diferença entre ser uma pessoa boa e ser uma pessoa boba. A perdoar. A me perdoar. A dominar meus pensamentos ou pelo menos administrar melhor as crises.
Sinto medo de ter medo. Medo do desconhecido.
Talvez tenha chegado a hora de tomar partido e preparar-me para as eventuais consequências. Estarei pronta para assumir ao mundo o meu verdadeiro eu, ou por assim dizer, um recorte discreto, mas sincero do meu verdadeiro eu?

o lado doce do amor

 


 Tenho poucas certezas sobre o futuro, no entanto, não posso mentir que não sonho em encontrar alguém que me note com os olhos do coração e me mostre o lado mais doce do amor.

no começo eu não gostava de você

 

No começo eu não gostava de você. E é assim que essa história começa. Carece-me a requerida habilidade para transformar simples palavras em uma encantadora manifestação do mais profundo afeto, este, que cresce sem o menor receio de ser inconveniente, o elemento responsável por encurtar as mais longas distâncias e reavivar a esperança até nos corações mais feridos. Eis que faço da honestidade o meu álibi.

Não havia grandes expectativas a seu respeito. Decepcionada demais com a indiferença e os tantos obstáculos que roubavam o brilho do olhar, parecia uma sina, um carma, uma infinita maré de azar, como se a conta não fechasse de jeito nenhum e a sentença de ser ímpar até o fim dos tempos fosse uma pedra pesada que eu era obrigada a carregar nas costas, sem nenhuma chance de aliviar o fardo. Quanto antes eu deixasse de esperar por algo que nunca esteve destinado a ser meu, melhor seria.

A linearidade não seria muito útil para ilustrar qual foi o momento exato em que tudo mudou e sentimentos novos sobre você tomaram conta dos meus pensamentos, porque não há uma resposta objetiva e clara, as chances de transformar simples palavras em digressões não devem de maneira alguma ser desprezadas. O mais precioso conteúdo estava trancado a sete chaves dentro do peito, eu não me atreveria a pronunciar em voz alta.

O desejo de estar com você me bastava, nenhum outro lugar seria tão aconchegante, desvendar você era a missão que me excitava. Na realidade, era desconcertante admitir que eu estava profundamente apaixonada. Os versos não mentiam, nem as batidas do coração, nem a vontade de um dia chorar no seu abraço perfumado. 

Eu me repreendia por sentir. Você também é uma mulher. Eu me julgava errada e doente, tentando de todas as formas transferir esse sentimento para algum homem, convencer-me de que eu estava confundindo tudo. Era sobre isso que eu não falava em voz alta, sem fazer ideia de que você era a pessoa que mais poderia me ajudar.

Senti ciúmes, senti saudades, senti raiva por gostar de você e tentei de todo jeito te esquecer, convencer-me de que aquela fase da minha vida era confusa, mas nunca houve nada de confuso, eu tinha uma noção do quanto aquele sentimento era puro e precioso, nem mesmo pediria reciprocidade, o encanto todo feneceria se porventura entrassem em jogo as chantagens, as cobranças, as mil condições impostas. 

Naquele despertar o mais importante já havia ocorrido: o bálsamo da esperança já havia invadido o coração, contagiando-o com a esperança, a certeza de que o amor sempre encontra um caminho novo para o meu lar.

Nunca deixei de te querer bem porque mesmo sendo uma pessoa bem diferente de alguns anos atrás, nunca me esqueci do quanto aquela fase me ensinou tanto e contribuiu para que eu despertasse quando me sentisse confortável para falar em voz alta sobre tudo que enterrei para não ter que lidar, para me aproximar do protótipo tido como "ideal" para sobreviver e ser aceita, porém de nada adianta focar tanto na aprovação alheia e me deixar de lado, é uma traição ao brio, um golpe baixo, uma mentira almejando passar-se por verdade.

Amar outra mulher não é um crime, tampouco depravação, pretexto para diminuir o valor de alguém, medir o potencial, para exclusão. O encontro de duas almas afins após tanto tempo caminhando no deserto da vida foi arquitetado pelo universo muito antes de cada uma nascer, pois o destino aproximaria o que estava destinado a ser. 

E isso deveria ser inspirador, belo, porém há tanta gente maldosa, ignorante, movida pelo ódio, pela intolerância, a exaltar o preconceito, que simplesmente culpa a mediocridade de suas próprias vidas insignificantes para aliviar-se do fardo de uma existência sem propósito, romantizando o passado em que elas subjugavam os outros e destruíam a dignidade deles sem um pingo de remorso, para marcar território e inflar os egos, a determinar o que é certo ou errado, ainda que não disponham de envergadura moral para tais fins. Amar deveria ser lei e tudo que fosse contrário a esse propósito se configuraria em contravenção. 

Por vezes sinto-me com a garganta embolada, questionando se não estou sozinha em um mundo que rejeita pessoas como eu, você e tantas outras, chegando inclusive a pensar que tudo seria mais fácil se eu me esforçasse mais um pouquinho para caber no padrão, fazer o que as outras fazem, pensar como elas pensam, seguir o fluxo, mas da vida almejo tão mais que me sujeitar a desperdiçar meus dias aqui tentando ser o que não sou que me envergonho. 

Eu gosto de quem sou, no entanto, calo-me porque seria uma piada admitir que amo meus olhos escuros, minhas roupas pretas, passar a noite ouvindo música e olhando para o céu, pois também amo o que escrevo, não me importo em nunca ser famosa porque esse não é o melhor parâmetro para descrever a arte que pulsa em minhas veias, amo a minha capacidade inesgotável de seguir em frente mesmo quando já julguei não ter forças para isso porque ainda que o sol deixe de brilhar sobre a minha cabeça por alguns dias, ele sempre me cobre de amor quando retorna e me acompanha para aonde quer que eu vá, no inverno, no verão, pouco importa a estação.

Além disso, por maior que seja a dor de não ter quem me entenda, com quem possa de fato desabafar sem medo, agradeço tanto por aquele dia em que te vi pela primeira vez. Ainda era cedo, cedo demais para saber, mas muita coisa dentro de mim iria mudar. Para melhor, aliás. E pensar que no começo eu não gostava de você…

frases de impacto

 


Ah, as frases de impacto. Elas conferem um charme ímpar quando proferidas e não cansam a leitura de ninguém, no entanto, assim que os dedos arrastam o feed para baixo, perdem o sentido, o destino de todas as postagens.
As crenças internalizadas são as mesmas de duas gerações atrás: ninguém tem interesse que você seja você mesma e se sinta linda como é. Eis o contrário: você deve se odiar e ser uma eterna insatisfeita, disposta a pagar o preço que for necessário para ser tudo, menos você.
Não vemos com bons olhos a sua tentativa de empoderamento, prosperidade e independência, desejamos que você faça o que todas as outras fizeram e, de preferência, sem questionar as nossas estruturas. Não nos importa a sua opinião, mas a sua submissão.

Picnic com amigos

Olá, amigos e amigas! Tudo bem com vocês? Espero que sim! *—*
Não sou afeita a expor minha vida na web, no entanto, o Jardim Botânico é um dos cartões postais de Curitiba, destino de turistas de vários lugares do Brasil e do mundo. Além disso, é um programa perfeito durante todo o ano, sobretudo aos apreciadores de atividades ao ar livre, sejam caminhadas, pique-niques, namorar, levar as crianças para brincar, treinar suas habilidades fotográficas ou simplesmente dar uma boa relaxada da rotina estressante.

entardeceres 🌇

 


Fevereiro 11, 2023

Entardeceres 🌇

 

00:21 |

 

O pouso da borboleta

Olá, queridos amigos! Passei por aqui bem rapidinho para deixar registrado o clique de uma linda borboleta para alegrar o dia de vocês! Tenham um excelente fim de semana e um mês de fevereiro muito abençoado, com ou sem samba no pé! 

o pouso da borboleta

 

rotina

Prédios espelhados (Reprodução/Arquivo pessoal)

Fevereiro está logo ali: carnaval, volta às aulas, ah, e da rotina também. Faz calor, é claro que faz, estranho seria nevar em pleno mês de janeiro, quando o verão encontra-se no auge. Água gelada sempre cai bem, até um sorvetinho é permitido. Os cobertores pesados estão guardados no armário e o ventilador costuma fazer hora extra. No meio da rotina eu paro para contemplar o céu, agradeço por ter a oportunidade de viver outro verão, ainda que meu simples retrato não faça justiça ao belo.
 

2 de maio | Dia Nacional do Humor

Especial - 2 de Maio: Dia Nacional do Humor Feliz Dia Nacional do Humor! O 2 de maio é o dia dedicado a uma das formas mais poderosas de con...