Uma carta para todos os meus amigos, leitores e simpatizantes!


Recaídas acontecem. Luto contra a anorexia desde 2006, quando comecei a mutilar meu corpo por nutrir ódio por ele. Nunca usei laxantes, diuréticos ou inibidores de apetite. O método era o exercício extremo: malhava de duas a três horas sempre que comia algo como um pedaço de bolo, na tentativa de "expurgar" a culpa. Minha alimentação era mínima, movida pelo pavor de engordar, mesmo que, no auge da doença, eu pesasse menos que uma menina de oito anos.

Ainda não se sabe o que realmente motiva o desenvolvimento da anorexia nervosa, pois cada paciente traz uma história única. Fatores emocionais, como o medo do fracasso, o perfeccionismo extremo, o bullying ou eventos traumáticos, podem ser gatilhos. No meu caso, em 2006, o fim do ensino médio foi um fator significativo. Separar-me dos meus melhores amigos e perder o contato com pessoas da minha idade me deixou à deriva. Eu não sabia o que queria fazer na faculdade e era bombardeada por opiniões e cobranças sobre escolher uma profissão.

Eu e meus demônios interiores



        Encontro-me numa corda bamba moral. Os demônios interiores estão vencendo essa luta. Durante o avanço, as chances de retrocesso nunca devem ser ignoradas. A cura é uma mentira comprada. A tristeza é o lamacento vício que engole as almas mais frágeis no dom da vida, lhe rouba as cores, o ânimo, a energia e se instala no peito sem apego.

Patriota de ocasião

Nesta manhã em que todos estão em ritmo de festa, queria que você estivesse aqui pra eu trocar umas ideias. Ninguém mais no mundo me entenderia.
Você nunca escondeu de ninguém que detestava copa do mundo e tanto falava sobre “pão e circo”. Eu não atinava bulhufas, queria o penta. No outro quarto estava a “do contra”, que se não desligava a tevê na hora das partidas, torcia para que a empáfia da seleção arrefecesse.
Quando menina, eu era aquela criaturinha ingênua que vibrava, chorava, torcia, assistia às partidas da Argentina pra secar os meus irmãos portenhos, amarrava a cara quando alguém me dizia não estar no clima porque achava inadmissível um brasileiro não torcer pelo Brasil.
Hoje, vinte anos depois, sou uma dessas pessoas. Desencantada com a política podre que se faz nesse país, com a roubalheira que desonra o progresso e inclusive norteia o futebol.
Sou eu um pedacinho de você, vendo o bezerro de ouro do cabelo bizarro sendo tratado como um deus, todos alienados e idiotizados em frente ao aparelho de televisão, comemorando o desempenho de uma seleção medíocre. E eu, aquela que desejaria morar em outro planeta para não ouvir falar de copa do mundo ou que em segredo torce por outro 7 × 1.
Como queria que você tivesse visto e rido daquele fiasco. Suas palavras continuam tão atuais, embora ainda representem a minoria que não segue a caravana.
O bezerro de ouro e seus coleguinhas de equipe serão os únicos beneficiados com o hexa. Dois milhões na conta de cada um, milhares de anúncios publicitários, destaque para a chegada dos produtos midiáticos, para o casamento do craque no segundo semestre.
E você, meu caro cidadão? De onde vem essa intolerância com quem não torce pela seleção? O bezerro de ouro já quitou seus boletos, garantiu seu fundo de aposentadoria e alfabetizou seu filho, garantiu uma vaga para ele na faculdade, custeia as despesas do plano de saúde?
Porque para tão inflamada defesa a quem nem sequer se importa se você respira, é a única explicação.
Enquanto a bola rola em campo, a quadrilha que nos governa dança quadrilha e rouba o nosso pão. E o circo está armado em campo, com tombos do craque, muita marra e pouca arte, muito marketing e pouca atitude, muita pompa e nenhuma humildade. 
Buzinam os tolos para o bezerro de ouro. Gritam gol, se vestem de verde e amarelo, pensam que aqueles que não gostam de copa odeiam o Brasil. Patriotas de ocasião.
Do meu lado todos comemoram, mas o cristal se quebrou dentro de mim. Torço pelo Brasil, mas não pela seleção. Me desculpe por não ter te ouvido, por não ter valorizado sua sabedoria. Vinte anos depois queria te dizer que evoluímos, todavia estamos atolados no caos, em todos os sentidos, e não vai ser uma taça de copa do mundo que vai alterar essa situação.
O futebol feminino dá um espetáculo, mas ninguém veste camiseta, assopra corneta e prepara um balde de pipoca. Ninguém vibra pela Marta, pela Formiga, ninguém apoia as meninas que jogam bola e fazem bonito.
A saúde agoniza, a educação pede extrema-unção. No entanto, todos estão contentes porque vão entrar mais tarde no trabalho, encher a cara e compartilhar memes inúteis e ridículos. Pois bem, vida que segue. Nós, que somos diferentes, sofremos porque nunca somos compreendidas da maneira que gostaríamos.
Tomara que sua profecia se cumpra de novo e a França seja bicampeã porque aí as lonas se desarmam, o circo acaba e o mesmo bezerro de ouro que hoje é aclamado, queira Deus que, amanhã ou depois, seja colocado no seu devido lugar, de um reles mortal. Sem mais.
Amem-me ou odeiem-me, a copa perdeu o sentido para mim desde 2006. Herói para mim é o pai de família que se dana com um salário mínimo para sustentar o lar, que chova ou faça sol se vira nos trinta para que a comida na mesa nunca falte e não um jogador arrogante correndo atrás de uma bola porque fazer gol é obrigação dele. A propósito, tem gente que joga muito mais, mas a mídia precisa do seu bezerro de ouro, eis que a ocasião suscitou um herói de ocasião para a nação continuar alienada.
Amem-me ou odeiem-me, essa é a minha opinião. Do contra até o fim, que venha o bi da França, sim.

Tolhida (O blog é meu e eu falo do jeito que eu quiser)



Houve um tempo em que eu dizia o que pensava sem reservas. Hoje, não mais. Não porque me falta coragem, mas por aprender a medir as palavras, não para agradar, mas para minha autoproteção. O maior vilão, porém, não é o politicamente correto.

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