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Joaninha no fim de tarde (Reprodução/Arquivo pessoal da Mary) |
Toda vez que abro o rascunho é a mesma história: a folha em branco me encara, exige respostas que não posso oferecer.
Há tantas linhas vazias atordoando a visão, culpas somatizadas nas horas mais escuras... vejo o tempo passar e as palavras amordaçadas desaparecerem no horizonte das ideias.
Movo tabuleiros coloridos para angariar efêmeros estímulos e consumir a vontade. Fecho o documento, me perco no feed, assumo qualquer outra responsabilidade para evitar o confronto com esse espelho quebrado à minha frente.
A atribuição mais lógica diz respeito à associação cerebral da escrita com um iminente risco que me coloca em modo de fuga imediata. Não significa que eu não queira mais escrever ou publicar, mas que esse ato carrega uma tensão emocional difícil de aliviar.
Posso dizer que sobrevivi a todo o ódio direcionado contra mim, porém aprendi a me proteger do que na verdade deveria ser uma ferramenta de cura, não de adoecimento.
O medo aprisiona a poesia, me faz levar uma vida pela metade, onde preciso escolher entre existir e ter paz, sem haver um meio-termo, para evitar pontuais aborrecimentos.
Ainda assim, há dias — como hoje — em que a escrita me chama baixinho, como quem sussurra pela fresta da porta. Aproximo-me do batente, desconfiada, tentando lembrar do ponto exato em que soltei o fio que me unia a ela.
Talvez um dia eu volte a escrever sem medo, sem pedir desculpas por existir, sentir cada palavra ter o peso de uma ferida aberta. Por ora tento me convencer de que o silêncio é uma etapa importante nesse processo de cura e que a folha em branco, no fundo, nunca quis me ferir. Só queria que eu voltasse.
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