Vinte anos atrás, eu era uma adolescente de 15 anos, que não desconfiava nem por um minuto ser autista, pois sempre me expressei bem, sempre fui comunicativa, curiosa, tida como inteligente por todos que me conheciam, criativa, no entanto, alguém que tinha potencial e não conseguia desenvolvê-lo, nem gerenciar crises por sobrecarga de estímulos e a ressaca pelo excesso de masking. Eu achava que era depressiva e amaldiçoada a sofrer, que drama. Nesses longínquos tempos eu era feliz e não sabia!
Pois bem, essa garota de 15 anos não desgrudava do seu aparelho de rádio em formato de cebola, todo customizado, e amava assistir televisão, de telejornais ao Teste de Fidelidade, da Globo à TV Comunitária, quando era o canal 14 na NET Curitiba. Numa dessas zapeadas, vi uns caras fazendo manobras de tirar o fôlego com a bicicleta e me encantei, posto que era um programa muito interessante, que se chamava Resistência. Pude acompanhar campeonatos de surf, skate vertical, street, motocicleta, além de apreciar uma seleção musical de excelente bom gosto - gravei muitas músicas em CDs e escutei até enjoar, diga-se de passagem.
Considero-me sortuda por ter acompanhado essas edições aleatórias que podiam passar a qualquer momento na TV Comunitária,pois Resistência marcou, sem dúvida alguma, um passo significativo para a construção da minha identidade e personalidade, além de colaborar para as férias de inverno mais animadas que já tive. Infelizmente, por razões que desconheço, a atração saiu do ar, deixando uma fã órfã.
Na época, entrei em contato com o FAQ da TV Comunitária e eles me explicaram que o programa estava fora do ar devido à falta de patrocinadores. Graças ao Youtube, por alguns anos eu assistia - quando batia a saudade - a alguns vídeos curtinhos e às vezes visitava o site no aguardo de novidades. Somente em 2016, numa bela noite, procurando uns rocks para ouvir, descobri que as edições originais de Resistência foram publicadas.
Vivendo tempos tão sombrios, ter um reencontro com a adolescente de atitude que eu era, fez-me muito bem, afinal de contas, o mesmo vento que arrasa tudo quando vira tornado, é a brisa gostosa de quando desço a Serra do Mar para ir à praia. Pude vislumbrar um amanhecer, uma esperança adormecida, um caminho. Cresci, é verdade, não sou mais aquela jovem de 20 anos atrás, no entanto, dentro do meu coração, sempre terei 15 e boas lembranças para me fazer companhia.
Essa introdução ficou maior do que o texto em si, mas é de coração.
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Créditos: Resistência Filmes. Palavras de uma simples fã do projeto e do programa. |
Sábado de inverno.
Os pingos de chuva eram as estrelas da tarde de um fim de semana sem variedade.
Parecia desesperançosa, sem um lugar para ficar.
A paz venceria o tédio pelo cansaço.
Poderia não saber por que escolhi mudar, mas sei que tudo se transformou no pensamento que me libertou.
Ali era meu novo lar e o eterno se fez sentença em meu olhar.
Foi exatamente assim que a história começou.
Ideologia de uma juventude a qual sempre soube integrar e nunca havia me questionado.
Desfeitos os clichês de ser e agir.
A nova era havia chegado e, impaciente, não queria viver remoendo o passado.
Poderia ser quem sempre desejei e nem mesmo o medo me faria desistir no meio do caminho.
Ainda chovia lá fora como há alguns minutos atrás, entretanto havia viajado ao paraíso e voltado com um pouquinho da paz trazida de lá.
Horizontes ampliados pela visão, o interessante é só questão de opinião.
Uma nova criatura, ainda que dividisse o espaço com a antiga, ou em miúdos, extrinsecamente a mesma do espelho.
O silêncio evitou que palavras desnecessárias fossem escritas, enquanto a inocência registrou, na humildade de um aprendiz, que o mais importante é viver o que se sente.
Sonhar, amar, tentar...
Sempre haverá uma próxima vez, um pretexto a justificar o fim, baseado no começo.
Lágrimas em vão ou de emoção: a esperança me dava asas para conquistar meu lugar.
Viver o que se sente é privilégio de todos, mas os que compreendem são poucos.
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