Uma virtude deveras admirável é a paciência. Não somos dados a longas esperas, vivemos na era do “é para ontem”, onde pessoas, sentimentos e tendências são descartáveis, estamos sempre na luta para não ficarmos para trás, não queremos ser piegas, uma piada sem graça.
Tem-se a leve impressão de que o amor chega para todos, menos para nós. Todos à nossa volta formam pares, sobramos nessa dança das cadeiras cósmica. Casais felizes e perfeitos brotam de tudo quanto é lugar, algumas pessoas até nos olham com certo desprezo; enaltecendo até quem tem um relacionamento ruim porque a palavra solteira é mais politicamente incorreta do que uma expressão ofensiva, pior do que um palavrão.
O mundo demonstra desprezo aos ímpares, que o diga no Dia dos Namorados, quando ficamos de fora das comemorações. Muitos de nós, que amamos alguém em segredo ou sonhamos em sentir a magia do amor, ou apenas sermos amados, questionam-se acerca dessa solidão ingrata.
Será que estou solteira porque sou gordinha? Por não ser ruiva? Por não me parecer com uma daquelas influencers que podem fazer do dinheiro papel higiênico? Por ser tímida demais? Por não gostar de sertanejo e funk? Por não gostar de BBB?
Não queremos estar com alguém “só por estar”, para ter conteúdo nas redes sociais e usar uma aliança no dedo para mostrar a todos não sermos “incompetentes”.
A paciência está sentada no assento ao lado, é impossível ignorar a presença dela. No entanto, os conselhos são amargos e um pouco irritantes. Ela não vê que o tempo está passando?
Ela assente que sim, despreocupada, olhando a paisagem pela janelinha do trem. Se o amor chega para todos, ainda temos dúvidas. Sou do time do “é para ontem” e estou cansada de ser ímpar, mas pior do que ser o bombom que ninguém gosta na caixa, é outro tipo de solidão, aquela em que alguém leva embora o que temos de melhor e nos deixa na escuridão, a dois passos de um imenso precipício.
Ela é sábia, reconheço. Reconhecemos, aliás. Redes sociais têm filtros, recortes, intenções; são só palavras que vêm e vão em meio à enxurrada de distração no feed eterno. O amor vem, não diz quando nem onde, viver um dia de cada vez é a recomendação, não tem tutorial nenhum ensinando. A magia acontece em nós.
Enquanto não damos nossas mãos para nossos companheiros de jornada, lembremo-nos de batalhar para realizar tudo que depende apenas de nossa vontade e esforço, que o resto vem.
Curitiba, 6 de julho de 2024
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