Edu Meirelles foi acordado por Renata pouco depois do meio-dia. Ela abriu as janelas do aposento e ele, amargando uma enxaqueca proveniente da embriaguez na véspera, cobriu os olhos.
— Você e os caras quase botaram essa casa abaixo. Não me surpreenda que esteja de ressaca.
— Nunca mais bebo desse jeito! Nunca mais!
— Nem na terça-feira? — Renata lançou um olhar sapeca para o amado.
— Nem na terça! — Ele voltou a se queixar. — Nem na terça, nem nunca. A gente curte, mas a ressaca manda a conta. Mas, e aí? Cadê os caras?
— Foram embora de Uber. Eu chamei todos. Com o seu celular.
— Como assim?
— O anfitrião convidou, o anfitrião pelo menos teve a decência de pagar Uber. A propósito, a casa ficou uma bagunça!
Edu bocejou.
— E você, como sempre, deu um jeito em tudo.
— O anfitrião ofereceu a festa, o anfitrião limpa a casa. — Desconversou Renata. — A propósito, vá tomar um banho, trocar de roupa e tomar uma canja, tá?
— E o meu celular, cadê?
— Carregando — respondeu Renata. — Mas pode ficar despreocupado porque eu não li nenhuma mensagem, só chamei o Uber.
Recomposto da ressaca, Edu Meirelles tirou o celular do carregador e sentou-se na ponta da cama para verificar as mensagens. Eram tantas, levaria algum tempo que pudesse visualizá-las e respondê-las.
— Pode ir me passando esse celular — exigiu Renata.
— Por quê? A festa já acabou!
— Você só vai poder usar o celular quando a casa estiver limpa!
— Outra hora eu limpo…
— Nada feito. — Renata estendeu a mão direita na direção de Edu e ele, ainda relutante, entregou-a o aparelho. Ela, por sua vez, guardou-o na bolsa preta de couro sintético que usava no braço esquerdo.
— Tudo eu nessa casa… — Edu se levantou da cama resmungando. — Tudo sempre sobra para mim!
— Sujou? Tem que limpar! — Zombou Renata, saindo do quarto e encontrando Edu no último degrau da escada, já perto da entrada da residência. — Tenho uma dica que pode te ajudar: comece. Quanto mais cedo você começar, mais cedo vai terminar.
— Você não vai me dar uma ajudinha?
— Eu estou com cara de fada madrinha, por acaso?
— Só uma ajudinha, vai… — suplicou ele, lançando mão daquele olhar do Gato de Botas, que não comoveu Renata.
— Eu estou indo ao mercado, quer alguma coisa?
— Quero o meu celular!
— Seja um bom menino, vai! — Pediu Renata, beijando a testa dele. — Senão vai ficar sem celular até a segunda ordem!
— Tá bom… — Edu fez um biquinho engraçado e Renata apertou as bochechas dele. — Daqui a pouco eu volto. Comporte-se, hein. Se fizer limpeza xexelenta, vai ter que fazer tudo de novo. Até mais! — Ela fechou a porta atrás dele, que seguiu trotando e reclamando baixinho até chegar à lavanderia, onde estavam os produtos de limpeza e as sacolas de lixo com capacidade de 200 litros. — Tudo eu nessa vida!
A área de lazer parecia ter sido arrasada por um tornado, havia latinhas de cerveja amassadas por todos os cantos, louças sujas na bancada, o piso estava inconcebível. Edu recolhia com cuidado as embalagens porque separava o lixo por categorias. Assim que terminou aquela etapa da faxina, trouxe uma vassoura com as cerdas arreganhadas para esfregar a pavimentação e enxaguá-la com a água reaproveitada da máquina de lavar. Mais cedo, Renata havia colocado as roupas de cama dele no cesto de roupa suja.
— Nevado… o Nevado… — assobiou uma voz conhecida no interfone. — Atende aí. Eu sei muito bem que você está em casa!
Edu sentiu um arrepio na espinha.
— Rubão?
— Ô de casa!
Edu deixou a vassoura perto da parede e dirigiu-se até o portão para receber o patrão.
— Quem é vivo sempre aparece!
— A que devo a honra, patrão?
— Vim passar um tempo com o meu amigão. — Rubão olhou para os fundos da casa: — Não cheguei num mau momento, né?
— A fe… — Edu pigarreou e Rubão o acompanhou até os fundos da casa. Atrás deles também algumas visitas ilustres. — A patroa me mandou dar um jeito na casa e cá estou… mesmo de estafa…
— Que estafa o quê, rapá! — Retrucou Rubão. — Eu te conheço de outros mundiais, Meirelles! Sei muito bem que você tirou licença só para curtir, mas sinto te dizer que deu ruim… — O comunicador cobriu o queixo com uma das mãos para abafar a gargalhada. — Não sei qual foi a fonte, mas foi uma baita barrigada, rapá.
— Você está tirando onda com a minha cara, patrão?
— Tudo bem que você queria se desconectar dessa loucura toda, mas também não era para tanto.
— Então… — A voz de Edu foi sumindo. — O Brasil… perdeu?
Rubão assentiu e emendou:
— Quer saber de uma coisa? Você não perdeu nada! Aqui também vai um conselho de amigo: eu, se fosse você, guardaria toda essa animação para o Mengão, lá em fevereiro. Essa seleção não está fazendo por merecer o choro lamentoso de alguém.
— E eu pensando que todas as humilhações anteriores tinham servido de lição. Foi-se o tempo em que os jogadores davam tudo de si em campo, hoje estão mais preocupados com a publicidade, o corte de cabelo, número de seguidores; tanto faz como tanto fez.
— O jogo estava uma merda, sejamos francos.
— Não gostaria, mas tenho de concordar.
— Apesar de querer tomar umas com você, a razão da minha visita não é essa.
Só então Edu olhou para trás e reconheceu os amigos dele e também boa parte da equipe do programa dominical de Rubão.
— Como você pode ver, meu amigo, um passarinho me contou que você andou fazendo uma baita promessa, diga-se de passagem, e como não poderia deixar de ser, minha equipe e eu viemos aqui ver o galã ficar nevado e correr pelado.
— Com amigos iguais aos meus, quem precisa de inimigos? — Murmurou o jornalista.
— Nem vem que não tem, cara! — Reagiu Quibão. — Prometeu, tem que cumprir!
— E quem disse que não poderia ter sido você que prometeu isso? — Dissimulou Edu, dando de ombros, suando frio.
— Tá querendo tirar o seu da reta — caçoou Kejadin.
— Não deixa o fujão escapar — atiçou Rubão.
Edu Meirelles bem que tentou fugir, mas o cerco fechou-se e ele, rendido, a princípio topou descolorir o cabelo. Nesse entremeio, a equipe de Rubão montou um pequeno SPA lá na área de lazer. Preocupado que a zoação dos amigos excedesse o bom senso, o jornalista estendeu o braço para apanhar um espelho de mão, porém foi impedido por Quibão.
— O gato borralheiro não pode ver a transformação incrível que os fados padrinhos estão fazendo. É o diz o regulamento!
— Vê lá, hein! Vê-la! — Ralhou Edu. — Aqui se faz, aqui se paga...
— 2023 está quase aí, amigão. A gente só está dando um tapa no seu visual. — Achincalhou Salamão.
Quibão deu o espelho de mão para Kejadin e um membro da equipe do programa de Rubão escondeu-o num bolso do jaleco.
— Quem ganhar meia e porta-retratos no amigo oculto não vai poder reclamar. — Edu ameaçou os amigos. — Até você, patrão!
— Eu? — Rubão fingiu estar atônito. — Um passarinho entrou em contato com a minha equipe, contou essa história extraordinária e o Rubão foi checar se era verdade ou fake news. Coincidiu de ser você o felizardo. Culpe as circunstâncias! Vá ser azarado assim lá na casa do capiroto.
Dado o tempo de ação da tintura capilar, Quibão usou uma mangueira com água morna para enxaguar os fios do amigo, Kejadin apertou a embalagem de xampu e Salamão, disfarçado, filmava em tempo real com a câmera do smartphone, todavia, Rubão vetou publicações nas redes sociais por ora.
— E aí? Pronto para ver seu novo visual, gato borralheiro? — Propôs Quibão.
SÓ NO PRÓXIMO CAPÍTULO!
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