Copa da confusão: capítulo IV


— Mas o que significa essa baderna? — Bradou Rubão.

O apresentador estava trabalhando em sua sala na emissora, com aplicativos de mensagens conectados, caixas de e-mail abertas, conteúdo para analisar. Se o Brasil foi eliminado da Copa do Mundo, por outro lado, a vida prosseguia, hora de trabalhar.

Rubão costumava compartilhar — quando possível — os stories dos seguidores que o marcavam, sobretudo se fossem hilários. Aquela gravação, no entanto, chamou a atenção do comunicador porque ele reconheceu de prontidão o amigo escorregando no tampo da mesa retangular envolta por muito plástico na área de lazer na residência de Edu Meirelles. A pirâmide de latinhas de cerveja se desfez e ao fundo tocava a canção chamada Clássico, um dos maiores sucessos do primeiro e único álbum do Meirellessamba (1997), formado pelo quarteto festeiro.

— Estafa, é? Espero que tenha festejado muito porque o castigo veio a cavalo!

Rubão revirou os olhos, murmurando baixinho, abriu uma janela de mensagens trocadas com Edu Meirelles no WhatsApp e gravou algumas mensagens de áudio, no entanto, elas não foram enviadas ao destinatário porque a hipótese mais cabível era a de que o jornalista estivesse com o celular descarregado ou, então, desligado.

— Vai ter que pagar a prenda, porque se não fez promessa por aí, não é o Edu Meirelles, e vai ter que pagar a prenda no ar.

O comunicador entrou em contato com Renata, que o colocou a par de todo o contexto e, inclusive, mostrou com cuidado os pagodeiros festejando em tempo real. A essa altura do festejo, Edu e os amigos até se atiravam na piscina e o cachorro Pirata, que amava nadar, também os acompanhou.

— Decidiram curtir a fossa?

— Bem… hum… eles… não sabem do que aconteceu! — Explicou Renata.

— Peraê! Como assim?

— Caiu um toró aqui depois do almoço e nós ficamos sem energia quando o Brasil empatou na prorrogação, daí a energia voltou quando começaram as cobranças de pênaltis e bem quando o quarto pênalti seria cobrado, ficamos sem energia de vez e...

— E eles acreditaram nessa conversa?

— Os caras deduziram que o Brasil venceu nos pênaltis e eu… hum… não consegui contar a verdade.

— E não me diga que a cambada está festejando até agora?

— Pensa comigo, Rubão: estamos ilhados. A chuva não durou muito, mas deixou bastante prejuízo: as ruas ao entorno ficaram completamente alagadas, uma árvore caiu, o poste não aguentou o impacto e, se não bastasse todas as circunstâncias adversas, o Brasil perdeu. Imagina só aguentar essa cambada ilhada, sem energia, sem wi-fi e soltando fogo pelas ventas?

O rosto de Rubão estava corado em razão das gargalhadas que dava. Aquela combinação de fatores, se narrada para ele em outras circunstâncias, pareceria enredo de algum esquete seu.

A energia elétrica foi restabelecida por volta das 19h e, com isso, Renata pediu comida pelo aplicativo. Sabia que o amado tinha dois aparelhos de celular e as músicas que embalaram a celebração inusitada saíam das caixas de som do aparelho reserva. Por ser assinante do referido aplicativo, tinha o direito de escutar música online quando quisesse e precisasse, como foi o caso.

Restava saber quem havia desobedecido à ordem de Edu Meirelles. Renata tinha álibi porque não estava participando das brincadeiras envolvendo jogar moedas em copinhos ou mesmo escorregar de barriga na mesa. O anfitrião estava embriagado, mas não o bastante para cair na mentira. Quanto aos outros, não se sabia.

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