Mary Recomenda | As boas mulheres da China - Xinran



Hoje tem edição especial do Mary Recomenda e com um livro que há muito tempo eu queria trazer para vocês, uma obra densa, profundamente realista, necessária e dolorosa. Aqui não queremos trazer romances de banca e seus clichês ridículos, queremos questionar, nos transformar e conhecer mais do mundo do que apenas a superfície, por isso, se você prefere se iludir com capas de caras sem camisa e enredos previsíveis, o OCDM não é para você.

Por que escolhi esse livro?

Sempre tive curiosidade de entender como vivem as mulheres chinesas. Queria ir além dos estereótipos, mergulhar no cotidiano de quem sobreviveu às repressões políticas, familiares e sociais de um país que mudou radicalmente em poucas décadas. As Boas Mulheres da China, de Xinran, me ofereceu muito mais que isso. Foi uma leitura que me marcou para sempre — e me acompanhou em um momento pessoal difícil, quando eu mesma enfrentava perdas e dores.


Quem é Xinran?

Xinran nasceu na China em 1958 e cresceu durante a Revolução Cultural. Foi uma das primeiras mulheres a conseguir espaço no rádio nacional com um programa noturno chamado “Palavras na Brisa Noturna”, em que ouvia relatos de mulheres comuns — donas de casa, camponesas, intelectuais, operárias. A cada ligação, desabava um universo de sofrimento, resiliência e silêncio.

Após imigrar para o Reino Unido nos anos 1990, Xinran começou a escrever sobre essas histórias. As Boas Mulheres da China foi seu primeiro livro e se tornou um marco na literatura de denúncia social e de gênero.


📻 O poder do rádio como espaço de escuta

Na China dos anos 1980 e 1990, dominada por censura e silêncio, o rádio era um dos únicos canais onde as pessoas se sentiam seguras para contar suas histórias. Xinran, com sua escuta acolhedora e cuidadosa, transformou as ondas sonoras em um abrigo para a dor — especialmente das mulheres, que muitas vezes nunca haviam tido permissão para falar.


🌧️ Histórias que marcaram a leitura

Uma das mais impactantes é a da menina e da mosca — dolorosa, simbólica e quase insuportável. Há também o relato de uma mulher que acreditava que o silêncio e a obediência seriam recompensados, mas descobriu que a dor podia ser eterna.

"Minhas esperanças foram completamente destruídas. Minha própria mãe me dizia que tolerasse os abusos de meu pai. Onde estava a justiça disso?"

Essas vozes atravessam as páginas como gritos abafados que, enfim, ganham eco.


🏯 Contexto histórico: antes, durante e depois da Revolução Cultural

A leitura ganha ainda mais força quando compreendemos o que se passava na China:

  • Antes de 1966: o fracasso do Grande Salto Adiante deixou milhões mortos por fome.

  • Durante a Revolução Cultural (1966–1976): perseguições, prisões, humilhações públicas e campos de “reeducação”.

  • Após 1976: com a morte de Mao Tsé-Tung, inicia-se um processo lento de reconstrução social, econômica e institucional.

As mulheres foram as mais afetadas: perderam direitos, carreiras, filhos, identidade.


🇨🇳 E a China atual?

Desde as reformas de Deng Xiaoping, a China passou por uma explosão econômica. Mas questões de gênero continuam marcadas por:

  • Controle estatal sobre corpos (como a política do filho único até 2015)

  • Patriarcalismo profundo, mesmo com leis de igualdade

  • Pressão estética, econômica e familiar sobre as mulheres

Mesmo hoje, feministas são perseguidas, e a liberdade de expressão ainda é limitada. Xinran nos ajuda a perceber que a luta continua, sob outras formas.


💔 A leitura e meu momento pessoal

Quando li esse livro, eu enfrentava desafios no trabalho e havia perdido meus hamsters — criaturas pequenas que faziam parte do meu cotidiano e do meu afeto. As histórias de Xinran, paradoxalmente, me acolheram. Me fizeram entender que há dores universais e que ouvir o outro também pode ser uma forma de sobreviver.

"Eu costumava sonhar que encontraria um jeito de lavar a minha dor, mas será que posso lavar a minha vida?"


🌿 Conclusão: uma leitura que transforma

As Boas Mulheres da China não é só um livro de histórias. É um arquivo de memórias que quase foram apagadas. Um grito por justiça, por empatia, por memória.

"Quando alguém mergulha nas próprias recordações, abre uma porta para o passado; a estrada lá dentro tem muitas ramificações, e a cada vez o trajeto é diferente."

✊ Reflita comigo:

Quais vozes estão sendo silenciadas hoje, aqui, ao nosso redor? Afinal de contas, tanto aqui quanto na China, ainda estamos muito distantes de um mundo seguro para nós, mulheres.

Em clima de reflexão, o Mary Recomenda de hoje chega ao fim, mas você pode acompanhar nossas análises anteriores, caso queira. Obrigada por chegar até aqui, um forte abraço e até sempre!

Pô, Pai | A epifania de André - parte 5

 

Parte 5 | O que o programa do Tino não mostra


Enquanto a família Prado Mendes começa a encontrar um pouco de paz, uma nova tempestade se forma em outra parte da cidade. O dia se inicia como qualquer outro para Comadre, que segue sua rotina normal de todas as manhãs e por volta das 11h liga a televisão para acompanhar a reprise de um programa matutino, para esperar o jornal de Tino Cavalli começar.
De repente, a imagem na tela muda para Tino Cavalli, que aparece no estúdio do jornal dele com um semblante carregado de expectativa.
Bom dia, tudo bem? São 11h30 e falta pouquinho para o nosso encontro. Estou preparando a edição de hoje, que promete revelações bombásticas, bom-bás-ti-cas! Policiais militares salvam o dia em Balneário dos Anjos. Confira em primeira mão todos os detalhes dessa ação e muito mais daqui a pouco, só comigo — diz Tino, com um sorriso enigmático.

Comadre sente o coração disparar. Ela olha para João Augusto, que sorri sem muita convicção.

— Meu querido, você vai aparecer no programa do Tino hoje?

Ele ajeita o quepe na cabeça.

— Lembra daquela história que contei mais cedo? Tinha um noia de bobeira na rua e a gente se aproximou, mas ele fugiu correndo e a gente suspeitou e abordou; ele insistiu em dizer que era inocente e não quis ser revistado, daí eu e os meus parças tivemos que agir.

— E aí? — pergunta Comadre, com a voz falhando.

Mary Recomenda | Olhai os lírios do campo - Érico Veríssimo

Pô, Pai | A epifania de André - parte 4

 Após o emocionante café da tarde, André decide publicar o vídeo em seu canal e sabe que está prestes a compartilhar um momento extremamente pessoal com seus seguidores e está preparado para enfrentar qualquer reação. Sentado em sua cadeira de escritório, com a tela do computador iluminando seu rosto. Ele clica no botão de upload, nervoso, mas decidido.

Quaresma


A Quaresma é um período especial para os cristãos, marcado pela reflexão, penitência e preparação para a celebração da Páscoa. Durante esses 40 dias, a Igreja recorda o tempo em que Jesus esteve no deserto, jejuando e enfrentando as tentações do demônio, antes de iniciar sua vida pública.

História da Quaresma na Igreja

A prática da Quaresma começou a ser vivida pela Igreja por volta do século IV d.C., quando o período de preparação para a Páscoa foi estendido para 40 dias. Antes disso, a preparação era mais curta, concentrada nos três dias do Tríduo Pascal. A decisão de ampliar esse tempo foi tomada porque os cristãos perceberam que três dias não eram suficientes para se preparar adequadamente para a celebração da ressurreição de Cristo.

O número 40 tem um profundo significado bíblico, aparecendo em diversos momentos importantes da história da salvação:

  • O dilúvio durou 40 dias e 40 noites.

  • O povo hebreu caminhou 40 anos no deserto rumo à Terra Prometida.

  • Moisés jejuou 40 dias no Monte Sinai antes de receber os Dez Mandamentos.

  • Jesus passou 40 dias no deserto, jejuando e orando, antes de iniciar sua vida pública.

🔸 Início e fim da Quaresma

Em 2025, a Quaresma terá início hoje, 5 de março, na Quarta-feira de Cinzas, e terminará na Quinta-feira Santa, dia 17 de abril, dando lugar ao Tríduo Pascal, que compreende as celebrações da Sexta-feira Santa, do Sábado de Aleluia e da Páscoa.

Orações e práticas durante a Quaresma

A Quaresma é mais do que um período de penitência: é uma jornada espiritual de transformação. Para intensificar sua conexão com Deus, os cristãos são convidados a aprofundar três pilares fundamentais:

  1. Oração:

  • Rosário Doloroso: Rezar os mistérios Dolorosos do Rosário é um modo poderoso de meditar sobre o sacrifício de Cristo e os momentos de sua Paixão. Dedicar tempo a cada mistério traz consolo e renovação espiritual.
  • Via-Sacra: Nas sextas-feiras, reviver os passos de Jesus rumo ao Calvário por meio das vias-sacras é um ato de amor e solidariedade, permitindo que os fiéis caminhem ao lado de Cristo em sua dor.
  • Meditação da Palavra: Reservar momentos diários para ler e meditar nas escrituras é um convite a ouvir a voz de Deus. Escolha passagens que inspirem força, paciência e esperança.
  1. Jejum e Abstinência:

  • Jejum: Pratique o jejum como forma de disciplina e entrega. Em dias como a Quarta-feira de Cinzas e a Sexta-feira Santa, abstendo-se de uma refeição completa, os fiéis buscam lembrar o sacrifício de Cristo.
  • Abstinência de carne: nas sextas-feiras, renunciar à carne é um gesto que une sacrifício pessoal à memória da morte de Jesus na cruz. Esse pequeno ato nos lembra que, na simplicidade, encontramos grandeza espiritual.
  1. Caridade:

  • Obras de misericórdia: doe alimentos, roupas ou recursos para auxiliar os mais necessitados. Esses gestos tornam visível o amor de Cristo em ação.
  • Generosidade: Além de bens materiais, compartilhe seu tempo e sua atenção com quem precisa. Um sorriso, uma visita ou um gesto de escuta podem transformar o dia de alguém.

Como preparar-se para a Páscoa?

A preparação para a Páscoa não é somente externa; é uma transformação interna e espiritual. Aqui estão passos práticos para trilhar essa jornada com profundidade:

  • Exame de Consciência: Faça uma pausa para avaliar sua vida à luz dos ensinamentos de Cristo. Reflita sobre atitudes, palavras e omissões que precisam ser ajustadas. Procure o sacramento da confissão para restaurar sua alma e renovar sua aliança com Deus.

  • Renovação Espiritual: Participe das celebrações litúrgicas, como a missa dominical e os momentos de adoração. Esses encontros comunitários fortalecem a fé e a conexão espiritual.

  • Simplicidade: Viva com intenção, removendo os excessos que distraem do verdadeiro significado da Quaresma. Valorize o essencial: oração, serviço e contemplação.

  • Compromisso: Defina metas claras para o período, como dedicar mais tempo à oração, meditar profundamente nas escrituras ou eliminar hábitos que afastam de Deus. Esses passos podem ser pequenos, mas criam um impacto duradouro.

Por que o Roxo é a Cor Litúrgica da Quaresma?

Na tradição cristã, as cores litúrgicas desempenham um papel importante, por ajudarem a transmitir o espírito e os significados dos diferentes tempos celebrados pela Igreja. Durante a Quaresma, a cor predominante nas vestes dos sacerdotes e nas decorações dos templos é o roxo, carregando consigo uma rica simbologia espiritual.

🔸 Penitência e Arrependimento 

O roxo é associado à penitência, ao recolhimento e ao arrependimento, elementos centrais da Quaresma. Este período é um convite ao exame de consciência, à confissão e à busca por uma transformação interna, deixando para trás o pecado e reaproximando-se de Deus. A tonalidade roxa reflete esse espírito de introspecção e entrega.

🔸 Realeza de Cristo 

Historicamente, o roxo era uma cor rara e cara, usada pelas classes nobres e pela realeza. No contexto quaresmal, ela simboliza a realeza de Cristo, reconhecido como Rei dos reis, que entregou sua vida por amor à humanidade. Essa cor serve como um lembrete da dignidade e do sacrifício de Jesus.

🔸 Luto e Esperança

O roxo também carrega um sentido de luto, lembrando o sofrimento e a morte de Jesus. Contudo, esse luto está entrelaçado com a esperança e a expectativa da ressurreição. A cor marca o equilíbrio entre o sacrifício e a promessa de redenção, preparando os corações para o júbilo da Páscoa.

🔸 Tradição Litúrgica 

O uso do roxo foi estabelecido ao longo dos séculos como a cor oficial da Quaresma e outros períodos de reflexão e preparação na liturgia cristã. Essa escolha ajuda os fiéis a entrar no espírito de recolhimento e reverência que caracteriza esse tempo sagrado.
Uma Jornada de Fé e Esperança A Quaresma nos convida a parar, refletir e transformar nosso coração para estar mais perto de Deus. Que cada gesto de oração, jejum e caridade seja um passo em direção ao verdadeiro significado da Páscoa: a vitória do amor e da luz. Neste tempo sagrado, que possamos renovar nossa espiritualidade e encontrar inspiração nas palavras e nos atos de Jesus.

Que esta Quaresma seja uma jornada de fé, penitência e esperança para você e sua família, preparando os corações para celebrar a ressurreição de Cristo com alegria e gratidão. 🙏✨

Pô, Pai | A epifania de André - parte 3

 Que isolamento o quê! — ralha Comadre. — Eu sou da família, você não pode me impedir de entrar!

— Não é bem assim — objeta Augusto, já com a máscara cobrindo a parte inferior do rosto. — Inclusive, hoje à noite estou indo para o plantão. Os corredores dos hospitais estão vivendo um caos absoluto devido à falta de leitos, tenho visto gente morrendo diariamente e insisto que enquanto não temos esperança de vacinas, devemos fazer a nossa parte para não sermos os próximos.
Ah, isso aí é conversinha sensacionalista da RPN — desdenha Comadre, abanando as mãos, mesmo sem ser vista. — Estão inventando teorias da conspiração para apavorar todo mundo e quebrar a economia. Ouvi o Tino Cavalli dizer que muitas pessoas hospitalizadas morrem por outras causas e a RPN manda fraudar os atestados de óbito para aterrorizar as pessoas. Não ando de máscara, não quero e não tenho medo de uma gripezinha mixuruca.
— Pelo seu próprio bem, Comadre, volte para casa! — pede Marcela. — A gente não deve brincar se não tem disposição de arcar com as consequências das nossas brincadeiras.

Meu Carnaval


Imagem criada por IA para representar o Carnaval

Meu Carnaval é tranquilo: escrevo, leio, vejo TV e ouço música. É a minha maneira de aproveitar esses dias. Mas, pensando bem, o Carnaval é muito mais do que um feriado ou festa para muitos — é um símbolo de vida, de pessoas nas ruas, de movimento. Depois da pandemia, ver as ruas cheias de novo é quase como sentir a normalidade voltando. Naqueles tristes tempos, o som do solidão era insuportável, ruas vazias e leitos cheios, o medo roubando sonhos, adiando planos, a tristeza aumentando tanto quanto a inflação,
Saber que tem foliões assistindo e participando dos desfiles das escolas de samba em várias partes do país muito me alegra, blocos enchendo as ruas de gente e de cores aquece o coração, programação especial nas emissoras de televisão para esta época do ano, ah, como é bom…
Mesmo não sendo fã da folia, admiro e respeito sua importância cultural e econômica, especialmente para quem trabalha nos bastidores — os costureiros, artesãos e tantos outros que fazem a magia acontecer. Também acredito que é fundamental haver respeito mútuo: entre religiosos e a cultura dos festejos, e também entre quem ama o Carnaval e quem prefere a calmaria. É esse equilíbrio que torna demonstra a diversidade de forma de se viver, não havendo um único caminho. Vacilo mesmo é ter preconceito disfarçado de opinião.

Editorial OCDM | O crime de envelhecer sendo mulher e boa escritora

  “A juventude é um aplauso fácil. A maturidade, um silêncio cheio de medo.” – fragmento retirado de um diário anônimo (ou quase) 📺 Editori...