29 de abril de 2016 (cinco anos atrás)

 


Às vezes eu vivo como se não fosse humana.

Finjo não ser real, embora queira ser.

É difícil de me entender.

Tão difícil que eu me perco.

Queria tanto conseguir controlar a raiva.

Tenho acessos de fúria que, claro, não matam, não chegam a ser uma ameaça à humanidade, embora, sim, sejam.

Minha raiva às vezes me torna cruel.

Sinto vontade de retribuir a quem me magoou, mesmo que não me sinta confortável, porque tenho lucidez suficiente para refletir sobre o peso dos meus atos e, claro, ponderar o que serve ou não.

Vingança não me serve de base para construir meu orgulho ferido.

Parece insano ter consciência das e errar assim mesmo.

É o preço que se paga por ser humana.

Mortal.

Por ter uma vida que me foi emprestada, da qual sou inquilina e não dona.

Sim, eu também amo profundamente e em segredo, tento na medida do possível não me odiar mais pelo que sinto, pois ainda me culpo por muitas coisas que aconteceram e ainda não aceito.

Não aceito o amor que sinto, mesmo amando muito mais do que entendo, menos do que posso, do que deveria.

Eu não sou e nunca vou ser normal.

Mas não quero ser.

Não quero pertencer ao senso comum.

Não quero ser só mais uma.

Quero, sim, nunca perder a simplicidade de viver, só que não ser conformada porque uma coisa não tem nada a ver com a outra.

Quero apenas viver.

Viver o hoje.

Quero amar a vida.

Eu amo a vida, mesmo às vezes desejando morrer.

Morrer a mágoa.

Declarar extinta a partir deste instante a timidez.

Morrer de orgulho de ser tola.

Morrer de vergonha, mas não de desgosto.

Morrer de vontade de viver.

Desejo matar a dor para viver bem.

Matar a dor antes que ela me mate de tédio.

Quero produzir algo decente dessa inércia que me toma.

Talvez eu não seja original nem especial.

Talvez eu seja só gente, só carne e osso, só um pouco de teimosia.

Uma criança grande em busca de calmaria.

Um poema sem eira nem beira.

Nem poema.

Não tem verso que resista a tanto medo de perder o compasso.

Só não quero ser esdrúxula.

Temores a mil.

Não falo o que penso.

Sou rasa.

Uma farsa.

Uma tola.

Repetente na escola da vida, tropeçando nos erros de outrora que seguem recentes.

Soberba por crer que mereço o que ainda não tenho.

Não tanto que não possa recuar.

Às vezes exagerada, no êxito minimalista de quem fecha os olhos para o que já viu, porque sentir exige de mim aquilo que não precisa de palavras e gestos para ser certeza, só precisa existir, e de mim, e de vida para ser o que é, o que eu não entendo nem lendo, nem me calando...


O dia da vacina

Hoje foi um dia bastante importante… apesar do lockdown, das tantas notícias ruins que nos acostumamos a ver neste último atribulado e estranho ano, a vacina surge como um feixe de esperança para iluminar os dias sombrios nos quais renunciamos a nossas antigas vidas e estamos diante de um caminho cujos rumos ainda são desconhecidos.
Meu pai foi tomar a primeira dose da vacina, não o exporei porque não tenho permissão, mas minha irmã, sabendo o quanto amo tirar fotografias da natureza porque contemplá-la é uma forma de amar a Deus, me enviou estas fotos que sintetizam o hoje e a esperança de que em nossas vidas, quando o pior passar, nós possamos festejar num dia quente e lindo como esse.

Ilusões destruídas

 

Uma vida promissora corre o risco de passar em vão se não houver um entendimento lúcido acerca do passado. Muralhas não encobrirão tardios arrependimentos, castelos erguidos com areia padecerão na primeira ventania.

Murmúrios prolongam as noites escuras, reflexões auxiliam no processo de cura e perdão, permitem um contato íntimo com a realidade, favorecendo o amadurecimento, indicando o caminho a se seguir, que nunca é para trás, porque as lembranças mais doces e queridas estão guardadas num precioso baú para serem acessadas sempre que necessário, as desagradáveis são cicatrizes, algumas bem intensas, outras invisíveis, outras perceptíveis quando se olha de muito perto.

Algumas feridas não cicatrizam tão depressa, maltratam a alma até ensinarem que o atalho mais breve para o sofrimento é o desejo incansável de estar no controle de tudo... por puro medo. O fardo não seria tão pesado se houvesse um lampejo de consciência a indicar que o conceito da felicidade pode variar, mas uma certeza se tem nessa infinidade de cogitações: permanecer com a cabeça no passado é desperdiçar a chance de transformar o presente — por mais difíceis que sejam as tribulações — numa memória aprazível.

Ela levou muitos anos até dar-se conta de que nunca estava deveras sintonizada ao presente, buscava o que não mais tinha — ou nunca teve, um passado utópico, inventado, a recriação de uma lembrança, portanto, nada a preenchia porque a miragem para a qual olhava refletia os anseios quase irracionais de alguém que tinha medo de crescer e desprender as mãos suadas do barbante grudento, soltando o balão para ele seguir o ritmo do vento.

O discernimento cobrou um valor exorbitante por uma conclusão que poderia ter se dado sem haver a necessidade de tanto sofrimento. Muitos deles foram criados pela mente dela, por forçar situações, usar a força para adentrar em festas cuja presença não era bem-vinda, o sacrifício sem glória de conquistar corações que nunca se empenharam em averiguar e praticar o significado de reciprocidade.

Ilusões destruídas, esse era o revestimento dos espinhos que machucavam os pés dela durante a solitária caminhada de volta para casa. Ela amava os sonhos que acalentou, não a realidade que se mostrou sem máscaras. As sequelas da rejeição são aquelas feridas que teimam em não cicatrizar nunca, mas servem para lembra-la do que pode acontecer se insistir num erro.

Saber partir


Quiçá (Quizás)

        

        Numa fria e despretensiosa noite de setembro, início e fim juntariam as duas pontas mais importantes para o sentido dessa história. Naquele instante exato entre nove e dez da noite ocorreu o encontro arquitetado por um mero acaso, mas aqueles olhos esverdeados haveriam de inspirar a mais bela poesia a quebrar os grilhões do silêncio e falarem de amor. Da primeira impressão até a resignada conclusão de que a alternativa mais sensata era aceitar decorreram-se meses nos quais a negação foi a estratégia mais falha para encarar um fato concreto.
    Confrontos mentais enfraqueciam as defesas daquela garota já cansada de tantas despedidas subentendidas, lágrimas salgadas banhando um rosto que mirava o céu em busca da sua estrela, de uma resposta, de um sentido para justificar as milhares de indagações que também faziam parte dessa descoberta do "eu", dessa dissociação entre seguir o coração (um acordo insólito entre razão e emoção, de acordo com outros valores pessoais) ou doutrinas que acatava por medo de reprimendas, por soar aprazível num conceito mais amplo de entendimento.
        Eles enxergavam o brilho no olhar dela? 
        Certamente, não.
        A dor da exclusão ainda era uma ferida aberta, mas amparada pelo amor que a nutria, surgindo de vez em quando, sob a forma de advertência. Porque se ela fechasse os olhos no silêncio da noite, poderia encontrá-lo. Letras sem melodia desejavam mais do que rimar ou falar à exaustão do mesmo, adquiriam um novo objetivo: a sonoridade, para que ela alcançasse os corações distantes, tal qual as ondas do rádio.
        Um amor diferente de todos os outros, incomparável, porque apesar de o medo de perder infiltrar-se numa mente inquieta demais para deleitar-se com o presente, cada dia trouxe o seu encanto, o seu aprendizado e na contabilidade final, os bons momentos viabilizaram a narrativa desta modesta história. Amor assim ela duvida encontrar de novo no dom da vida.
        Se ele partisse depois de estar no coração dela, a culpa seria um fardo demasiado grande para ombros tão estreitos, tão pueris, tão despreparados para uma longa caminhada rumo à maturidade, todavia, entre padecer às suposições e correr riscos, a primeira alternativa era ousada ou do contrário não existiria uma só palavra para corroborar o óbvio.
        Ela o amava.
        Amá-lo também transformou o olhar dela acerca da vida. Até aquela rebeldia adolescente deixava de ser um escudo para se converter num propósito maior do que reclamar e permanecer calada, passiva, à espera de soluções milagrosas. Ali se fincava a semente mais valiosa: a mente dela era o terreno fértil onde o bem e o mal residiam, o discernimento a direcionaria, mas nunca lhe furtaria o precioso direito à escolha, com a condição de que as consequências não fossem ignoradas por fanatismo algum.
        Vida e morte travavam um duelo como em raras vezes se viu. Munidas de sábios estratagemas e trocando olhares profundos, cada qual com seus argumentos defendia o seu porquê. Ao centro, ela. E dentro dela, a poesia. Versos preenchiam linhas ávidas por não serem condenadas ao engavetamento eterno. Quer gostassem quer não, ficaria por conta do tempo... e das ciladas dele!
        Os números mostrados pela balança evidenciavam o medo daquele passado repleto de mágoas que ela se esforçava para perdoar, ressignificar porque a sustentação dela era justa: não o teria conhecido se as estradas não possuíssem obstáculos e o percurso a conduzisse para outros rumos.
        Ela o amava o suficiente para desejar viver, porém cogitar uma eternidade sem ele era um preço alto a se pagar, motivo pelo qual a morte encarava a vida com olhar de desdém. Garotos imaturos jamais lhe cortejariam por sincero interesse (o objetivo deles encobria-se pelo sorriso manso de lobos em pele de cordeiros), lhe ofereceriam segurança, viam-na apenas como um troféu a ser conquistado, cumprindo rituais enfadonhos, quase ensaiados, porque lhes apetecia a diversão e o desejo de mostrar ao mundo que não estavam sozinhos, quando estavam vazios de afeto a oferecer, porque presentes não lhe deslumbravam. O coração dela estava ocupado demais para frivolidades. Que os versos misteriosos confundissem os curiosos.
        Para quem já teve o corpo julgado por não corresponder às expectativas doentes de um padrão cruel, as crises reacendiam um temor não de todo irreal: o de uma reviravolta cruel levar embora o amor e também a poesia, o sorriso, a vontade de desenhar um futuro feliz para si própria, ser quem ela sabia que poderia, aquela mulher escondida por trás daquele casco em que a timidez se protegia das mais variadas ciladas, que não foram poucas.
        Um corpo desejoso por um toque familiar, ainda que desconhecido, diferente de todos os outros, sustentado por um olhar amoroso, um beijo cuidadoso, aquecido pelo calor de outro, cujas formas não seriam imperfeitas para quem o desbravasse com devoção, também desnudando a própria timidez. Por detrás dos formalismos e das camadas de tecido, a descoberta dos próprios desejos, daqueles tão repudiados por aqueles que ainda julgam o que não lhes diz respeito.
        A distância se encurtava quando o amor cruzava as fronteiras mais inóspitas, munido da coragem que hoje já não mais possui. Quem faz morada no peito dela é a saudade... dele, da juventude que partiu até ser apenas uma pegada na areia já apagada pelas ondas marítimas que vêm e vão, dos sonhos que empalideceram até por fim morrerem de coração partido... e ela nem mensurava que sonhos pudessem padecer de tão cruel moléstia.
        Naquelas noites serenas de céu límpido e o mais puro silêncio das ruas, as músicas substituíam o tão mítico café. Quiçá possuir o dom de viajar no tempo e desfrutar daqueles áureos anos sempre que a atualidade sufocasse a esperança. Inviável. Os tesouros dela não estão ajuntados em cofres, são as lembranças construídas com a ferramenta que a viabilizava a palavra, a correção gramatical poderia esperar, posto que a iniciativa sublimava os deslizes de uma reles iniciante tanto na arte do amor quanto da escrita. Hoje o polimento é uma necessidade, o ponteiro do relógio marcha sempre em obediência ao propósito maior. Seguir adiante. Eles nunca olham para trás.



        En una noche fría y sin pretensiones de septiembre, el principio y el final reunirían los dos puntos más importantes para el sentido de esta historia. En ese preciso momento entre las nueve y las diez de la noche, el encuentro se produjo por casualidad, pero esos ojos verdosos inspirarían la más bella poesía para romper las cadenas del silencio y hablar de amor. Desde la primera impresión hasta la resignada conclusión de que la alternativa más sensata era aceptar, pasaron meses en los que la negación fue la estrategia más defectuosa para afrontar un hecho concreto.
    Los enfrentamientos mentales debilitaron las defensas de esa niña, ya cansada de tantas despedidas implícitas, lágrimas saladas bañaban un rostro que miraba al cielo en busca de su estrella, de una respuesta, de un sentido para justificar las miles de preguntas que también formaban parte de este descubrimiento del "yo", de esta disociación entre seguir el corazón (un acuerdo insólito entre la razón y la emoción, según otros valores personales) o doctrinas que aceptó por miedo a las reprimendas, por sonar agradables en un concepto más amplio de comprensión.
        ¿Vieron el brillo en sus ojos?
        Ciertamente no.
     El dolor de la exclusión era todavía una herida abierta, pero sostenida por el amor que la alimentaba, apareciendo de vez en cuando en forma de advertencia. Porque si cerraba los ojos en el silencio de la noche, podría encontrarlo. Letras sin melodía querían más que rimar o hablar hasta el agotamiento de la misma, adquirieron un nuevo objetivo: la sonoridad, para que llegara a corazones lejanos, al igual que las ondas de radio.
        Un amor como ningún otro, incomparable, porque a pesar del miedo a perder infiltrándose en una mente demasiado inquieta para deleitarse con el presente, cada día traía su encanto, su saber y en la cuenta final, los buenos tiempos hicieron posible la narrativa de esta modesta historia. Un amor como este que ella duda de encontrar de nuevo en el don de la vida.
        Si se marchaba después de estar en su corazón, la culpa sería una carga demasiado grande para unos hombros tan estrechos, tan infantiles, tan poco preparados para un largo viaje hacia la madurez, sin embargo, entre sufrir las suposiciones y correr riesgos, la primera alternativa era audaz de lo contrario. no habría una sola palabra para corroborar lo obvio.
        Ella lo amaba.
Amarlo también transformó su perspectiva de la vida. Incluso esa rebelión adolescente dejó de ser un escudo para convertirse en un propósito mayor que quejarse y permanecer en silencio, pasivo, esperando soluciones milagrosas. Allí se plantó la semilla más valiosa: su mente era el terreno fértil donde residía el bien y el mal, el discernimiento la guiaría, pero nunca le robaría su preciado derecho a elegir, con la condición de que las consecuencias no fueran ignoradas por el fanatismo.
        La vida y la muerte se batieron en duelo como rara vez se veía. Armados con sabias estratagemas e intercambiando miradas profundas, cada uno con sus argumentos defendió su por qué. En el centro, ella. Y dentro de ella, poesía. Los versos llenaron líneas ansiosas por no ser condenadas a la eterna estantería. Les gustó o no, sería por el tiempo ... ¡y sus trampas!
        Los números que muestra la escala mostraban el miedo a ese pasado lleno de dolores que ella luchó por perdonar, por replantear porque su apoyo era justo: no lo habría conocido si los caminos no tuvieran obstáculos y la ruta la llevara a otros rumbos.
        Ella lo amaba lo suficiente como para querer vivir, pero considerar una eternidad sin él era un alto precio a pagar, razón por la cual la muerte veía la vida con desdén. Los chicos inmaduros nunca te cortejarían por interés sincero (su objetivo estaba oculto por la sonrisa mansa de los lobos con piel de oveja), te ofrecerían seguridad, te veían solo como un trofeo a ganar, cumpliendo rituales aburridos, casi ensayados, porque amaba la diversión y las ganas de mostrarle al mundo que no estaban solos, cuando estaban vacíos de cariño para ofrecer, porque los regalos no lo deslumbraban. Su corazón estaba demasiado ocupado para la frivolidad. Deja que los versos misteriosos confundan a los curiosos.
        Para aquellos que ya han tenido sus cuerpos juzgados por no cumplir con las enfermizas expectativas de un estándar cruel, las crisis reavivaron un miedo que no era del todo irreal: el de una agitación cruel para quitar el amor y también la poesía, la sonrisa, el deseo de amar dibujarse un futuro feliz para sí misma, para ser quien sabía que podía, esa mujer escondida detrás de ese casco en el que la timidez se protegía de los más variados escollos, que no eran pocos.
       Un cuerpo deseoso de un toque familiar, aunque desconocido, diferente de todos los demás, sostenido por una mirada amorosa, un beso cuidadoso, calentado por el calor de otro, cuyas formas no serían imperfectas para quienes se dedicaran a él con devoción, despojándose también de su propia timidez. Detrás de los formalismos y capas de tejido, el descubrimiento de sus propios deseos, de los tan repudiados por quienes aún juzgan lo que no les concierne.
        La distancia se acortó cuando el amor cruzó las fronteras más inhóspitas, armado con el coraje que hoy ya no posee. Quien extraña su pecho es su añoranza ... por él, por la juventud que se fue hasta que él fue solo una huella en la arena, ya borrada por las olas del mar que van y vienen, de los sueños que palidecieron hasta que finalmente murieron con un corazón roto ... y ni siquiera midió qué sueños podían sufrir de una enfermedad tan cruel.
        En esas noches serenas de cielo despejado y el más puro silencio en las calles, las canciones sustituyeron al mítico café. Quizás poseer el don de viajar en el tiempo y disfrutar esos años dorados cada vez que el presente sofoca la esperanza. Impracticable. Sus tesoros no están guardados en arcas, son los recuerdos construidos con la herramienta que hizo posible la palabra, la corrección gramatical podía esperar, ya que la iniciativa sublimó los deslices de un principiante bajo tanto en el arte del amor como en la escritura. Hoy, el pulido es una necesidad, la manecilla del reloj siempre marcha en obediencia al propósito mayor. Seguir adelante. Nunca miran atrás.

Mary Recomenda | Querida Kitty - Anne Frank

  Hoje é sexta-feira e nada como sextar acompanhando o Mary Recomenda. Na edição de hoje, nossa convidada especial é Anne Frank e sua Queri...